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Ramos-Horta defende que futuro de Darwin e Timor-Leste é "de parceria"

O Território Norte da Austrália e Timor-Leste são concorrentes no projeto do campo de gás de Greater Sunrise, no mar de Timor, mas o melhor para ambos é uma parceria regional, disse hoje o Presidente timorense.

Ramos-Horta defende que futuro de Darwin e Timor-Leste é "de parceria"
Notícias ao Minuto

07:17 - 12/09/22 por Lusa

Mundo Timor-Leste

"Apesar de serem concorrentes, o futuro é de parceria e mútua dependência e a isso podemos acrescentar também a província indonésia de Nusa Tengarra Timur, que também tem interesse, beneficiando assim toda a ilha de Timor", afirmou José Ramos-Horta, em entrevista à Lusa.

A concorrência a que se referia o chefe de Estado timorense, numa entrevista no final da visita de Estado à Austrália, traduz a disputa dos dois lados do mar de Timor sobre o modelo de desenvolvimento do Greater Sunrise.

A Austrália, e a segunda maior empresa do consórcio do Greater Sunrise, a Woodside, querem que o desenvolvimento do campo passe por um gasoduto para Darwin, enquanto Timor-Leste e a petrolífera Timor Gap (maioritária no consórcio) defendem o gasoduto para a costa timorense.

Nas últimas décadas, Darwin tem vindo a beneficiar diretamente dos recursos do mar de Timor com o gás do poço de Bayu-Undan, em águas leste-timorenses, a ser canalizado para a Darwin Gás Natural Liquefeito (GNL), gerida pela Santos.

A região tem uma segunda unidade de processamento de GNL, da japonesa Inpex que, neste caso, processa gás proveniente de um campo australiano a quase mil quilómetros, na região noroeste da Austrália.

"As autoridades do Território Norte (TN) querem que Darwin seja o grande 'hub' energético da Ásia e Pacífico e nós compreendemos esses sonhos legítimos, até porque Darwin está bem posicionado", disse Ramos-Horta.

"Mas não tem tudo que ser no TN. Timor-Leste tem 1,5 milhões de pessoas e vamos fazer parte, na ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático], de uma região económica de 700 milhões de pessoas. Faz muito mais sentido trazer o gasoduto e a indústria petroquímica para Timor-Leste, o que também pode beneficiar a Austrália", reiterou.

Com os dois centros de processamento de Darwin e um terceiro na costa sul de Timor-Leste, "pode olhar-se para isso em conjunto, sendo em conjunto esse 'hub' regional" até porque, "desde 1999 que Darwin beneficiou imenso por causa de Timor-Leste".

Ramos-Horta apontou para a pouca população da região australiana -- apesar de "décadas e décadas de tentativas" do Governo federal para aumentar o povoamento -- e defendeu que mais timorenses deviam migrar para Darwin.

"Podem resolver isso [a falta de população] em parte com timorenses, facilitar a vinda de trabalhadores e residentes de Timor-Leste, pondo como condição, por exemplo, que teriam que estar um determinado número de anos no TN", disse.

"Dar vistos para 20 ou 30 mil timorenses trabalhar, estudar, facilitar os voos, para que sejam baratos", disse, referindo que isso aumentaria a influência política e económica de Timor-Leste na região, com benefícios também para Darwin, onde se evidenciam carências significativas de mão de obra.

Em jeito de balanço da visita de Estado à Austrália, que terminou, Ramos-Horta saudou o que considerou ser, "sem dúvida", uma "nova dinâmica" da parte do Governo australiano, liderado desde maio, com maioria absoluta, pelo Partido Trabalhista.

"Há determinação de mais fazer para apoiar a economia timorense, para resolver a questão do Greater Sunrise, que está intimamente ligado à economia timorense", explicou à Lusa.

"Vai haver maiores apoios para estudos sobre diversificação da economia, mais apoios para trabalhadores timorenses virem para Austrália, formação técnica e profissional em Timor-Leste e aqui", sublinhou.

O chefe de Estado timorense considerou igualmente prioritário avançar com um "acordo de segurança marítima conjunto" entre os dois países, a única forma de minimizar a já significativa perda de recursos do mar de Timor, devido à pesca ilegal.

Camberra deverá entregar, no próximo ano, a Timor-Leste dois navios patrulha, no âmbito de um programa de cooperação, que inclui ainda apoio ao longo de várias décadas para formação e manutenção.

Ramos-Horta vincou que mais do que os navios em si, é essencial "garantir a sua operacionalidade" e avançar rapidamente com patrulhas conjuntas.

"Até nos podem entregar-nos 10 ou 20 barcos de patrulha, mas isso não vai resolver os desafios do mar de Timor. É preciso pensar sempre na sustentabilidade de uma política de segurança marítima, que custa muito dinheiro", afirmou.

"Será assim tão importante investir milhões e milhões nisto? Devemos ser pragmáticos, fazendo um acordo de segurança marítima conjunto, com patrulhamento conjunto, com elementos timorenses em Darwin e australianos a fazer essa patrulha", afirmou.

Leia Também: Ramos-Horta lamenta estado de hospital de Díli durante visita à Austrália

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