"A AI documentou mais de uma dúzia de casos de violência sexual relacionada com conflitos nos últimos anos, incluindo mulheres que foram estupradas sob ameaça de arma. Portanto, o Conselho de Segurança da ONU deve renovar o seu embargo de armas no território do Sudão do Sul", disse o diretor da organização para a África Oriental e Austral, Deprose Muchena, em comunicado.
No relatório publicado hoje intitulado "Se não cooperares, vou atirar: violência sexual relacionada com conflitos e impunidade no Sudão do Sul", a ONG revela como a violência sexual relacionada com conflitos continua a existir no país e como as armas são usadas para "facilitar a violência sexual".
Em 28 de maio de 2021, o Conselho de Segurança da ONU renovou o embargo de armas ao território do Sudão do Sul, imposto pela primeira vez em 2018, e identificou a implementação do plano de ação do Governo para 2021 como um dos cinco pontos-chave para avaliar a renovação do embargo de armas em maio de 2022.
No entanto, no seu relatório, a AI revela que pelo menos duas das secções do plano de ação elaborado pelo Governo em janeiro de 2021 para enfrentar a violência sexual ligada ao conflito, "ainda não foram totalmente implementadas".
"O nosso novo relatório destaca a necessidade urgente de investigações completas, independentes e imparciais sobre esses crimes. Os perpetradores da violência sexual relacionada com os conflitos devem enfrentar a justiça e a impunidade generalizada por esses crimes deve acabar", disse Muchena, referindo-se a essas secções do plano do Governo.
Nove sobreviventes de violência sexual relacionada com o conflito disseram à AI que os seus agressores "os violaram sob a ameaça de uma arma e ameaçaram matá-los ou aos seus parentes com armas, se não obedecessem".
As sobreviventes disseram à AI que foram "violadas por uma grande variedade de pessoas", incluindo militares do Governo, membros do principal grupo armado da oposição (Movimento de Libertação do Povo do Sudão na Oposição), rebeldes e homens desarmados, incluindo adolescentes.
Pelo menos três delas disseram à AI que foram "sequestradas e submetidas a trabalhos forçados ou usadas como escravas sexuais por entre dois e quatro anos".
Em 2019, uma investigação da AI concluiu que desde o início da guerra, em 2013, o Governo do Sudão do Sul falhou na investigação e abriu processos contra suspeitos de crimes contra civis relacionados com conflitos, incluindo a violência sexual, permitindo que a impunidade continuasse.
O Sudão do Sul está envolvido numa guerra civil que começou em dezembro de 2013 entre as forças do Presidente, Salva Kiir, da etnia Dinka, e as do vice-presidente, Riek Machar, da tribo Nuer.
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