Meuthen, que liderava o partido desde 2015, anunciou a sua saída na passada sexta-feira, justificando a decisão com o estado "não saudável" da AfD, que mostrou claramente "tendências totalitárias", declarou à emissora ARD.
"A saída de Meuthen é mais uma vitória para a ala extremista dentro da AfD", indicou à agência Lusa Floris Biskamp, sociólogo e politólogo alemão, especialista em política populista de direita da Universidade de Tübingen.
"Apesar de nunca ter deixado de colaborar com os extremistas desde que isso fosse útil para os seus interesses de poder, sempre tentou afirmar a sua liderança", acrescentou.
Em entrevista, Meuthen também alertou que o partido corre o risco de ser levado ao "isolamento total e cada vez mais em direção ao extremismo político".
A ala mais radical da AfD, que tem um importante peso especialmente na antiga República Democrática Alemã (RDA), está a afastar-se "dos fundamentos da ordem liberal e democrática", revelou o antigo líder à emissora pública.
"Apesar de ter conseguido algumas vitórias, em 2020, (Meuthen) foi derrotado na maioria dos conflitos internos no ano passado. Derrotas que incluíram a decisão do partido de incluir no seu programa a chamada 'Dexit' (saída alemã da União Europa)", apontou Biskamp.
O politólogo recorda que Meuthen se opôs fortemente ao 'Dexit', bem como à nomeação dos principais candidatos para as eleições gerais de setembro de 2021, que pertenciam à ala radical.
"Isso deixou claro que ele perderia o seu papel como líder do partido no próximo congresso. A partida sela a sua derrota", sublinhou.
O setor mais radical da AfD, próximo dos neonazis e apelidado de 'A ala', tem-se oposto a Meuthen, considerado demasiado moderado, revendo-se no outro líder, Tino Chrupalla, que reagiu à decisão sem grande surpresa.
"Os últimos dias e semanas mostraram que Jörg Meuthen se afastou um pouco do seu partido (...) é uma pena porque o programa não se alterou", revelou no canal ZDF, adiantando que vai reunir o partido e mantê-lo unido.
Já a líder do grupo parlamentar, Alice Weidel, acusou Meuthen de "falta de caráter" no jornal "Stuttgarter Zeitung".
Fundado como um partido de protesto contra o euro, a AfD tem defendido várias posições extremas, tendo desvalorizado o peso negativo do nazismo na história alemã.
Jörg Meuthen, economista de formação, critica "A Ala", entre outras coisas, pela oposição sistemática às medidas sanitárias relacionadas com a pandemia de covid-19.
Floris Biskamp considera "improvável" que o domínio dos extremistas dentro do partido enfrente resistências num futuro próximo.
A AfD conseguiu o seu melhor resultado nas eleições gerais de 2017, tornando-se o terceiro partido mais votado, e a principal força de oposição no parlamento, com 12% dos votos.
No último escrutínio ao nível federal, que deu a vitória ao Partido Social Democrata (SPD) e a Olaf Scholz, a AfD perdeu terreno, caindo para cerca de 10%.
Apesar da saída da liderança da AfD, Meuthen vai continuar como deputado europeu dentro do grupo de extrema-direita Identidade e Democracia.
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