"A morte do antigo Presidente De Klerk, semanas antes do 25.º aniversário da nossa Constituição democrática, deve inspirar-nos a todos a refletir sobre o nascimento da nossa democracia e sobre o nosso dever comum de permanecer fiéis aos valores da nossa Constituição", escreveu o chefe de Estado sul-africano num comunicado colocado na página eletrónica da Presidência.
Ramaphosa recordou que Frederik Willem De Klerk teve um "papel vital" na transição da África do Sul para a democracia nos anos 1990, e tomou a "corajosa decisão" de levantar a proibição dos partidos políticos, libertar prisioneiros políticos e iniciar negociações com o movimento de libertação "sob pressão severa no sentido contrário por parte de muitos na sua área política".
De Klerk, escreveu ainda o atual chefe de Estado, foi "um sul-africano empenhado que (...) colocou o futuro do país no longo prazo acima dos estreitos interesses políticos".
Ao sair de uma sessão do Parlamento na Cidade do Cabo, Ramaphosa reiterou aos jornalistas o "papel crucial" de De Klerk na transição da África do Sul para a democracia, mas acrescentou que "muitos não esquecerão" o sofrimento que provocou o racismo do "apartheid", noticia a agência EFE.
O antigo Presidente sul-africano Frederik W. de Klerk, o último chefe de Estado da era do 'apartheid' da África do Sul, morreu hoje na Cidade do Cabo aos 85 anos, vítima de cancro.
De Klerk morreu após uma batalha contra o cancro na sua casa, na zona de Fresnaye, na Cidade do Cabo, confirmou hoje um porta-voz da Fundação F.W. de Klerk.
Foi de Klerk, que partilhou o Prémio Nobel da Paz com Nelson Mandela, que, num discurso proferido no parlamento da África do Sul no dia 02 de fevereiro de 1990, anunciou que aquele que viria a ser o primeiro Presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, seria libertado da prisão após 27 anos de cativeiro.
O anúncio eletrizou na altura o país, que durante décadas tinha vinha ser desprezado e sancionado por grande parte da comunidade internacional pelo seu brutal sistema de discriminação racial conhecido como 'apartheid'.
Com o aprofundamento do isolamento da África do Sul e a sua economia outrora sólida a deteriorar-se, de Klerk, que tinha sido eleito presidente apenas cinco meses antes, anunciou também no mesmo discurso o levantamento da proibição do Congresso Nacional Africano (ANC) e de outros grupos políticos anti-'apartheid'.
Vários membros do parlamento abandonaram nesse dia a câmara enquanto o Presidente discursava.
Nove dias mais tarde, Mandela saiu em liberdade e quatro anos depois seria eleito o primeiro Presidente negro do país, em resultado dos negros terem pela primeira vez exercido o direito de voto.
De Klerk e Mandela receberam o Prémio Nobel da Paz em 1993 pela sua cooperação, muitas vezes intensa, no processo de afastamento da África do Sul do racismo institucionalizado e em direção à democracia.
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