Oposição cabo-verdiana diz que pandemia aumentou vulnerabilidades
Os partidos políticos com assento no parlamento cabo-verdiano sublinharam hoje os impactos da pandemia da Covid-19 na economia do país, com o PAICV e a UCID a apontarem agravamento das vulnerabilidades e o MpD a enumerar investimentos.
© Lusa
Mundo Covid-19
As posições foram assumidas no parlamento durante o anual debate sobre o estado da Nação, o primeiro da nova legislatura, que foi aberto com o discurso do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
Para o líder parlamentar do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), João Batista Pereira, a pandemia da Covid-19 afetou "largamente" a posição orçamento do país em 2020, com efeitos em diversas aeras e "consequências aterradoras" para as famílias.
"A pandemia expôs e ampliou as desigualdades em Cabo Verde", considerou o deputado do maior partido da oposição cabo-verdiana, que apontou ainda o "impacto estrondoso" na educação e exortou o Governo a elaborar, "o quanto antes possível", um plano para ajudar os estudantes a recuperar o atraso acumulado ao longo deste período.
No setor dos transportes aéreos e marítimos, João Batista Pereira acusou o Governo de ser "deliberadamente irresponsável", por ter tomado "decisões erradas" e feito "maus negócios".
O líder parlamentar do PAICV apontando ainda outros problemas no país, como o elevado défice habitacional, a elevada dívida pública, que deverá atingir os 158,6% do PIB em 2021, desarticulação entre o desenvolvimento do setor agrícola e o crescimento do turismo e partidarização da administração pública.
"A saúde da Nação, em 2021, inspira cuidados e apela a solidariedade de todos. O estado da Nação é, para nós, de grande incerteza e privação, mas também da intolerância, da opacidade, da dívida e do défice", concluiu o porta-voz do maior partido da oposição cabo-verdiana.
A deputada da União cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, também oposição), Zilda Oliveira, descreveu igualmente os impactos da pandemia no país, entendendo que a crise veio agravar as vulnerabilidades e gerou outros males sociais no país, como a criminalidade.
Relativamente à Educação, a porta-voz da UCID reconheceu que foi agravada pela pandemia, mas principalmente pelas "medidas paliativas e sem fundamento" tomadas ao longo do ano.
Outro setor que mereceu atenção do partido com três deputados no parlamento cabo-verdiano foi a saúde, com a deputada a criticar a morosidade ou o tempo de espera para uma consulta ou exames, agravado pela "falta de humanização" dos serviços.
O líder parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD, partido que suporta do Governo), João Gomes, disse que às várias adversidades acresce-se a pandemia da Covid-19 desde março de 2020, com abrangências e consequências muito maiores e imprevisíveis.
"O impacto da pandemia da Covid-19 é gravoso", sublinhou o deputado do partido no poder, que, entretanto, elogiou o Governo pelas medidas de natureza excecional tomadas para o combate.
Apesar da crise, João Gomes sublinhou que não se cortou salários em Cabo Verde, nem as despesas do estado social, sendo que, pelo contrário, aumentou-se o investimento na saúde, na educação, na proteção social e na inclusão produtiva, na proteção do emprego e rendimento.
"No combate à pandemia da Covid-19, é preciso dizer e retirar dela a lição política que temos um Governo de rosto humano e ficou demonstrado o quão importante é investir no estado social porque é a resposta eficaz para as crises", afirmou.
Para o líder parlamentar do MpD, o cenário neste momento é complexo, mas entendeu que se deve continuar a trabalhar e não lamentar os tempos.
O debate sobre o estado da Nação fecha habitualmente o ano parlamentar em Cabo Verde, antes do período de férias.
Cabo Verde vive uma profunda crise económica e social e registou em 2020 uma recessão económica histórica de 14,8% do PIB, quando antes da pandemia previa crescer mais de 6%.
Na revisão do Orçamento do Estado, a previsão do crescimento esperado do PIB baixa para de 3,0% a 5,5%, quando antes estava previsto um intervalo de 6,8% a 8,5%, e é apontada uma quebra das receitas, pela ausência de turismo, de 12,2% face ao previsto no início do ano.
O arquipélago recebeu em 2019 um recorde de 819 mil turistas - setor que garante 25% do PIB -, mas essa procura caiu no ano seguinte, devido às restrições da pandemia de covid-19, cerca de 70%. Na revisão das previsões do Governo, Cabo Verde deverá receber este ano apenas cerca de 300 mil turistas, recuando a números de 2005.
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