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China? Repressão "draconiana" de minorias étnicas, diz Amnistia

A Amnistia Internacional (AI) acusou hoje a China de cometer crimes contra a Humanidade na região de Xinjiang (noroeste), num novo relatório em que denuncia a repressão "draconiana" exercida por Pequim contra várias minorias étnicas, predominantemente muçulmanas.

China? Repressão "draconiana" de minorias étnicas, diz Amnistia
Notícias ao Minuto

16:39 - 10/06/21 por Lusa

Mundo Amnistia Internacional

A acusação surge num relatório hoje divulgado, de título original "Like We Were Enemies in a War: China's Mass Internment, Torture, and Persecution of Muslims in Xinjiang", que revela uma investigação sobre "a repressão esmagadora e sistemática" exercida pelas autoridades chinesas contra as minorias étnicas que habitam em Xinjiang, em particular os uigures e os cazaques.

Detenções sistemáticas e arbitrárias em massa (de homens e mulheres) organizadas pelo Estado para prisões ou para campos de doutrinação e reeducação, uma vigilância permanente, atos de tortura e perseguição religiosa (sem liberdade para praticar a respetiva confissão religiosa e confiscação de itens religiosos) são as ações atribuídas ao regime chinês pela organização não-governamental (ONG) internacional de defesa dos direitos humanos, que assinalou recentemente 60 anos de atividade.

"As autoridades chinesas criaram um cenário infernal distópico numa escala desconcertante na região autónoma de Xinjiang", denuncia a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, citada no documento.

"Os uigures, os cazaques e outras minorias muçulmanas enfrentam crimes contra a humanidade e outras graves violações dos direitos humanos que ameaçam apagar as suas identidades religiosas e culturais", reforça a ativista francesa.

Sob o pretexto de combater o "terrorismo", a par dos uigures e dos cazaques, "estes crimes" também têm como alvo chineses da minoria étnica muçulmana Hui e pessoas do Quirguistão, Uzbequistão e Tajiquistão.

As 160 páginas deste novo relatório são sustentadas num trabalho de investigação que envolveu a recolha, entre outubro de 2019 e abril de 2021, de várias dezenas de testemunhos, incluindo de antigos detidos, a análise de imagens de satélite e de dados, mas também fugas de informação relativas a documentos governamentais.

"A Amnistia Internacional entrevistou mais de 50 ex-detidos, a maioria dos quais nunca tinha falado antes, bem como muitas outras pessoas que tinham estado em Xinjiang desde 2017, mais de 70 familiares de pessoas desaparecidas ou detidas, informadores do governo, jornalistas e outros", resume a ONG.

Entre as várias denúncias que constam no documento, a Amnistia Internacional aponta que as autoridades chinesas construíram "um dos sistemas de vigilância mais sofisticados do mundo" e uma vasta rede de centenas de campos de doutrinação e reeducação em toda a região de Xinjiang.

"A tortura e outros maus-tratos são sistemáticos nos campos e todos os aspetos da vida quotidiana são rigorosamente controlados num esforço para incutir à força os ideais da nação chinesa secular e homogénea e do partido comunista", indica a ONG.

Entre os casos concretos relatados pela Amnistia Internacional está o caso de um detido, que presumivelmente terá morrido, que foi torturado em frente aos colegas de cela e que durante 72 horas esteve preso numa cadeira metálica (associada à prática de atos de tortura e designada como 'tiger chair').

Durante esse período de tempo, o homem urinou e defecou sobre si próprio.

"Deve chocar a consciência da humanidade que um grande número de pessoas tenha sido submetido a lavagem cerebral, tortura e a outros tratamentos degradantes em campos de detenção, enquanto outros milhões vivem com medo no meio de um vasto aparelho de vigilância", afirma Agnès Callamard.

A par das denúncias, a Amnistia Internacional exige neste relatório que a China faça o "desmantelamento imediato" dos campos de detenção, "liberte as pessoas detidas de forma arbitrária" e "acabe com os ataques sistemáticos contra os muçulmanos em Xinjiang".

A ONG lança também apelos à comunidade internacional e às Nações Unidas.

"A comunidade internacional deve falar e agir em uníssono para acabar com esta abominação, de uma vez por todas. A ONU deve estabelecer e enviar urgentemente um mecanismo de investigação independente, com o propósito de responsabilizar os suspeitos por estes crimes ao abrigo do Direito Internacional", conclui a organização.

Os uigures (bem como os cazaques) constituem uma grande parte da população em Xinjiang, uma vasta região chinesa que faz fronteira com o Afeganistão e o Paquistão.

Este vasto território semidesértico no noroeste da China tem sido atingido por ataques violentos, que Pequim atribui a elementos separatistas e islamitas.

Pequim tem sempre rejeitado este alegado plano de "genocídio cultural" de minorias muçulmanas na China.

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