"Hoje, podemos prever com confiança crescente a ocorrência e o impacto dos eventos climáticos fora do comum", lê-se no boletim divulgado hoje pelo Escritório das Nações Unidas para Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla inglesa), a que a Lusa teve acesso.
A ideia é agir antes que o pior aconteça para "reduzir" o número de mortos, feridos e o sofrimento das pessoas, e também para que a ajuda "seja mais rápida, eficaz" e até mais barata no final, acrescenta-se no boletim.
Liderado pelo OCHA e pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), o sistema usa "gatilhos" predefinidos e tecnologias de previsão avançadas, como dados da Météo-France La Réunion e da NASA, em que são estabelecidos limiares específicos para a velocidade do vento ou volume de chuva.
Quando estas condições são atingidas nas previsões, "o impacto projetado desses eventos pode ser mitigado proativamente com base em gatilhos pré-identificados, financiamento e ações para apoiar pessoas vulneráveis antes que o desastre aconteça".
Um dos pilares fundamentais é o financiamento pré-preparado, através do Fundo Central de Resposta a Emergências (CERF, na sigla em inglês) até seis milhões de dólares (cinco milhões de euros) para serem libertados assim que os gatilhos são ativados.
"Esta verba permite que a ajuda chegue rapidamente, sem as demoras burocráticas habituais. Agir antes do início de um perigo previsível, específico e grave é uma resposta humanitária significativamente mais rápida, mais eficiente e mais digna", sublinha a OCHA.
As ações antecipatórias incluem medidas cruciais para proteger as comunidades em risco, nomeadamente a disseminação de mensagens de alerta precoce, assistência alimentar, instalação de serviços de água e saneamento de emergência, distribuição de 'kits' de higiene, apoio a centros de alojamento temporário, provisão de 'kits' de dignidade para prevenção de violência de género, e logística essencial, indica.
A eficácia desta abordagem foi testada em março de 2025, em que os gatilhos foram atingidos antes da chegada do Ciclone Jude, resultando na libertação de seis milhões de dólares do CERF para ações de mitigação.
Só entre dezembro e março últimos, na época ciclónica, o país foi atingido por três ciclones, incluindo o Chido, o mais grave, que, além da destruição de milhares de casas e infraestruturas, provocaram cerca de 175 mortos, no norte e centro do país.
O número de ciclones que atingem Moçambique "vem aumentando na última década", bem como a intensidade dos ventos, alerta-se no relatório do Estado do Clima em Moçambique 2024, do Instituto de Meteorologia de (Inam), noticiado no final de março pela Lusa.
O Inam refere no documento que, apesar de o relatório fazer referência a 2024, realizou uma análise "por décadas de ciclones tropicais que atingiram Moçambique", nas épocas ciclónicas (novembro a abril) de 1981/1982 à atual, de 2024/2025.
Leia Também: Moçambique apela à reabertura do parlamento guineense