Meteorologia

  • 11 MAIO 2024
Tempo
16º
MIN 15º MÁX 23º

Afeganistão: A "guerra ao terror" que durou 20 anos

Os ataques terroristas de 11 de setembro lançaram os EUA para o seu mais longo conflito militar, que apenas agora termina, e arrastaram consigo uma coligação militar internacional que se empenhou numa "guerra ao terror".

Afeganistão: A "guerra ao terror" que durou 20 anos
Notícias ao Minuto

10:30 - 30/04/21 por Lusa

Mundo Afeganistão

Na sequência dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos iniciaram a mais longa guerra da sua história, que terá o desfecho exatamente no mesmo dia deste ano, 20 anos e mais de duas mil mortes de soldados norte-americanos depois.

Para essa intervenção militar, os EUA invocaram a cláusula do tratado da Aliança do Atlântico Norte (NATO) que obriga os aliados a saírem em socorro de um Estado-membro sob ataque externo, levando à constituição de uma coligação com 43 países que formaram uma missão que ficou conhecida como Força Internacional de Assistência de Segurança (ISAF, na sigla em inglês), que viria a ser substituída pela Missão de Apoio Resoluto (RS), em 2014.

O conflito centrou-se em retirar do poder os rebeldes talibãs no Afeganistão, acusados de darem guarida ao líder da organização terrorista Al-Qaida, Osama bin Laden, e de se recusarem a extraditá-lo.

Em outubro de 2001, forças militares norte-americanas e britânicas lançaram uma poderosa operação militar no Afeganistão, que viria a ser auxiliada por reforços de vários países, bem como da NATO, no âmbito da ISAF, e em dezembro desse ano, os talibãs tinham já sofrido severas derrotas, sendo obrigados a entregar o poder a uma Administração Transicional, liderada por Hamid Karzai.

"Em outubro de 2003, o Conselho de Segurança (da ONU) autorizou a expansão da missão da ISAF em todo o Afeganistão, e posteriormente a ISAF expandiu a missão em quatro fases por todo o território. Entre 2006 e 2014, a ISAF envolveu-se em operações de combate mais intensas no sul e no leste do país", explicou à Lusa Maria do Céu Pinto Arena, especialista em Médio Oriente e professora da Universidade do Minho.

Mas a coligação internacional sentiu de imediato as dificuldades de lidar contra um inimigo que se organizou numa tática de guerrilha, que foi muitas vezes o "cemitério" da atuação das forças militares ocidentais.

Apesar dos sucessos militares mais imediatos, a ISAF revelava alguma descoordenação entre as forças dos vários países da coligação, dificultando a sua consolidação no terreno e colocando em risco algumas das operações de combate.

"A escassez de coordenação internacional foi uma característica estruturante da participação da NATO no âmbito da ISAF. Apesar da unidade do comando constituir um princípio basilar das operações da Aliança, na prática os contingentes da ONU e forças da ISAF divergiram, não apenas nas estratégias empreendidas para concretizar as respetivas missões, como também na filosofia subjacente às mesmas e aos objetivos pretendidos", conclui Maria do Céu Pinto Arena.

Para esta especialista, "os impedimentos nacionais à utilização dos contingentes militares, apesar de ocasionalmente motivados pela ausência de equipamento ou preparação adequados, traduziram substancialmente uma reação às exigências das opiniões públicas internas e aos calendários eleitorais de cada Estado".

A somar-se a estas dificuldades, a coligação internacional revelava ainda incapacidade para estabilizar o país, tornando a intervenção militar mais frágil e o calendário de presença de tropas mais prolongado.

Os analistas acreditam que a manutenção da segurança num território deve ser complementada pela aplicação de programas de democratização e de medidas de 'nation-building'.

"Contudo, na prática, tal impossibilitou a implementação da estratégia contra-insurrecionista de combate aos talibãs e securitização do espaço com vista à sua reconstrução. Com efeito, a concretização dos objetivos dos aliados no Afeganistão revela-se possível apenas quando conjugada com o incremento do número dos contingentes alocados, ainda que sujeito a condições que evitassem a repetição da 'armadilha soviética'", explicou Céu Pinto Arena, referindo-se às dificuldades que já haviam sido sentidas anteriormente no combate contra o modelo de guerrilha.

A entrada das forças internacionais no Afeganistão foi uma quase inevitabilidade, depois dos ataques terroristas de 11 de setembro, mas todos os quatro Presidentes norte-americanos (George W. Bush, Barack Obama, Donald Trump e Joe Biden) que lideraram perante esta guerra reconheceram as dificuldades de permanência no terreno.

"O Afeganistão é um caso particularmente difícil, devido à estrutura tribal da sociedade e das divisões e interesses divergentes que tornam o país difícil de ser governado. Houve um erro fulcral que foi o facto da administração Bush ter aberto uma nova frente de guerra no Iraque, relegando para segundo plano a principal frente da 'guerra contra o terrorismo': a região fronteiriça entre Afeganistão e Paquistão", referiu Céu Pinto Arena.

Leia Também: Afeganistão: Conflito termina sem garantias e com muitas incertezas

Recomendados para si

;
Campo obrigatório