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Batalha por Madrid vai ser um laboratório das eleições nacionais

As eleições antecipadas que se realizam na Comunidade de Madrid em 04 de maio vão ser um "laboratório de tendências" sobre a forma como vai evoluir a política nacional espanhola, considera o analista Carlos Barrera.

Batalha por Madrid vai ser um laboratório das eleições nacionais
Notícias ao Minuto

15:26 - 22/03/21 por Lusa

Mundo Analista

"As eleições em Madrid vão ser uma espécie de laboratório de tendências do que pode acontecer no futuro nas eleições legislativas nacionais", afirmou à agência Lusa o professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera.

As eleições naquela comunidade autónoma, ou a "Batalha por Madrid" como a imprensa espanhola lhes chama, tornaram-se umas mini-eleições gerais em que os partidos vão utilizar todos os recursos disponíveis, assim como estratégias muito diferentes.

Os candidatos do PSOE (Partido Socialista), Cidadãos (direita-liberal) e Mais Madrid (esquerda) já reivindicam uma estratégia de moderação contra o que consideram um discurso radical por parte do PP (Partido Popular, direita), Vox (extrema-direita) e Unidas Podemos (extrema-esquerda).

A presidente da Comunidade Autónoma de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, do PP, dissolveu o parlamento regional em 10 de março para convocar eleições antecipadas em 04 de maio na região em que se encontra a capital de Espanha.

Díaz Ayuso, que dirige um executivo de coligação entre o PP e o Cidadãos, tomou esta decisão para impedir que este último se junte ao PSOE na apresentação de uma moção de censura ao executivo da região.

A decisão foi tomada depois da apresentação de uma moção de censura do PSOE e do Cidadãos na comunidade de Múrcia (sudeste), onde este segundo partido também era o parceiro minoritário do PP no governo de coligação regional.

Desde que, há 25 anos, caiu nas mãos do PP, Madrid tornou-se a região mais rica de Espanha e também a que apresenta as maiores desigualdades entre cidadãos.

A capital de Espanha é um paraíso para as empresas, que gozam de um tratamento fiscal menos agressivo, uma estratégia que muitas outras das 17 comunidades autónomas espanholas têm denunciado, algumas delas também governadas pelo PP.

Madrid atrai muitos jovens que se mudam para capital à procura das oportunidades que não têm noutras regiões e é também um terreno fértil para a corrupção que se desenvolveu à sombra da bolha imobiliária e da construção de grandes infraestruturas.

Em duas décadas e meia, o PP erigiu na comunidade o seu principal bastião de poder regional, que foi utilizado, quando necessário, como centro de oposição a vários executivos nacionais socialistas: primeiro por Esperanza Aguirre contra o Governo de José Luís Zapatero e agora por Isabel Díaz Ayuso contra o atual executivo de coligação de esquerda.

A região é o laboratório das políticas neoliberais da direita nos setores da Saúde e da Educação, onde as comunidades autónomas têm autonomia.

Carlos Barrera não tem dúvidas de que nestas eleições Cidadãos e Unidas Podemos "jogam a sua sobrevivência como projetos políticos".

Estas duas formações apareceram para lutar contra a corrupção e os maus hábitos dos velhos partidos, PSOE e PP, que se intercalaram na chefia do Governo espanhol desde o fim da ditadura de Franco, em 1978.

Estes "novos" partidos parecem ter caído na mesma forma de fazer política dos "velhos" tendo vindo a perder votos, depois da subida que tiveram inicialmente.

Nas últimas eleições regionais em Madrid, em 2019, o PSOE foi o mais votado, ficando com 37 dos 132 deputados regionais (o mesmo número das eleições de 2015), a seguir ficou o PP com 30 representantes (48), o Cidadãos com 26 (17), o Mais Madrid com 20, o Vox com 12 e o Unidas Podemos com 7 (27).

O PP manteve a presidência da comunidade através de uma coligação com o Cidadãos e o apoio parlamentar do Vox.

O PSOE já confirmou que volta a apresentar a candidatura de Ángel Gabilondo (72 anos), licenciado em Filosofia e Letras, antigo reitor da Universidade Autónoma de Madrid e ex-ministro da Educação no governo de José Luís Rodríguez Zapatero entre 2009 e 2011.

A calma e atitude conciliadora de Gabilondo contrasta com a impulsiva atual presidente, Díaz Ayuso, e com o populismo do candidato do Podemos, Pablo Iglésias.

O vídeo de apresentação do candidato socialista começa por defini-lo como "calmo, sério e formal".

A atual presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso (42 anos), é o contrário do candidato socialista, tendo apanhado todos de surpresa ao marcar eleições antecipadas, às quais se apresenta como grande favorita em todas as sondagens.

O seu grande salto para os holofotes da política espanhola veio com a vitória de Pablo Casado nas primárias para a presidência do PP em 2018 e foi ele que a escolheu como candidata à Comunidade de Madrid para as eleições de 2019, contra outros nomes mais conhecidos.

Entretanto, Díaz Ayuso aproveitou a luta contra a pandemia de covid-19 para se consolidar como a nova cara da oposição de direita ao Governo de Pedro Sánchez.

A atual presidente da região tem conseguido baixar os números da pandemia, apesar de ter mantido o setor da restauração aberto e as salas de espetáculo a funcionar, ao contrário da maioria das outras regiões espanholas, defendendo que esta política é essencial para proteger a economia.

O Cidadãos deverá anunciar na terça-feira o seu candidato, sendo de prever que os militantes do partido confirmem o nome proposto pela direção, Edmundo Bal (53 anos), um ex-advogado do Estado exonerado pelo Governo.

Todos os outros partidos, principalmente o PSOE, o PP e o Vox, vão lutar pelo voto dos que votaram no Cidadãos em 2019, um partido que está em plena convulsão desde o anúncio da moção de censura falhada em Múrcia e da crise em Madrid, estando a sofrer uma sangria de cargos em várias comunidades autónomas.

A madrilena Mónica García (47 anos), médica, é a candidata de Mais Madrid, um partido de esquerda criado em 2018 para concorrer às eleições municipais de 2019 em Madrid, o município mais importante e populosos entre os 179 que pertencem à comunidade autónoma que tem o mesmo nome.

Foi Mónica Garcia que rejeitou na semana passada a proposta de coligação de esquerda feita pelo líder do Podemos, Pablo Iglesias, que decidiu abandonar uma das vice-presidência do Governo de Sánchez para se apresentar às eleições de Madrid.

"As mulheres estão cansadas de fazer o trabalho sujo" e "sem a necessidade de ninguém nos dar explicações", afirmou a candidata, porque as eleições na comunidade não podem "acrescentar mais espetáculo ou mais testosterona", uma alusão a Pablo Iglesias.

A atual líder parlamentar do Vox na assembleia regional de Madrid, Rocio Monasterio (47 anos), ainda não foi confirmada como candidata da formação de direita radical, mas a imprensa da cidade considera-a como o nome mais provável.

Arquiteta e empresária hispano-cubana, tornou-se uma das líderes mais conhecidas do Vox, tendo apoiado a investidura da Ayuso desde 2019, embora não tenha entrado no governo regional.

O líder do partido de extrema-esquerda Podemos, Pablo Iglesias (42 anos), surpreendeu os espanhóis ao anunciar há uma semana que ia deixar o Governo nacional minoritário de coligação liderado pelo PSOE para concorrer às eleições regionais da Comunidade de Madrid, uma aposta que tem um elevado risco político.

Segundo os analistas, ao concorrer em Madrid, este doutor em Ciência Política, que é secretário-geral da Podemos desde a sua fundação em 2014, pretende salvar o partido a nível nacional, numa altura em que o PSOE consolida a sua posição na esquerda e a tendência parece ser para um regresso ao sistema bipartidário (PSOE-PP).

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