"Queremos justiça para todos no país, independentemente do local onde foi o ataque ou homicídio. O nosso mandato é o de obter justiça sem qualquer tipo de associação racial", declarou aos jornalistas o ministro da Polícia, Bheki Cele.

O governante, que assistiu hoje aos procedimentos do tribunal acompanhado da ministra da Segurança de Estado, Ayanda Dlodlo, sob medidas excecionais de segurança, adiantou que o caso do pedido de fiança dos dois suspeitos do homicídio do jovem agricultor Brendin Horner prosseguirá na terça-feira.

O tribunal ouviu hoje o testemunho dos dois suspeitos do homicídio, na pequena cidade agrícola da província do Estado Livre, centro do país.

Foi também ouvida a pessoa que realizou a autópsia ao corpo de Brendin Horner, 22 anos, revelando que foram encontrados indícios de sangue de outras três pessoas.

Um agente da investigação policial, Gerhardus Myburgh, que testemunhou hoje, adiantou ao magistrado que a vítima foi "severamente torturada até à morte", salientando que o corpo de Horner foi encontrado em 02 de outubro "amarrado a uma cerca e com uma corda amarrada ao pescoço" tendo sido "gravemente ferido no rosto".

"Durante a autópsia, descobriu-se que ele tinha feridas de faca na cabeça, ombro, braço e mãos. A autópsia concluiu que todos os ferimentos foram sofridos durante o mesmo ataque. A causa da morte foi estrangulamento", disse Myburgh ao tribunal.

O investigador policial sublinhou ainda que o copo do jovem agricultor apresentava marcas "de atrito na coxa direita, o que indicava que ele foi arrastado na estrada de cascalho", declarou.

Os dois acusados, ambos negros, detidos desde 03 de outubro, testemunharam hoje a intenção de se declararem inocentes pelo assassínio e roubo de Brendin Horner, apesar de provas em contrário apresentadas em tribunal que os implica como alegados autores materiais do assassínio do jovem agricultor.

Um dos suspeitos já havia sido detido por 16 vezes por vários crimes, incluindo roubo de gado, tendo sido condenado a 18 meses de prisão num dos casos e a 12 meses noutro, segundo o ministro da Polícia, Bheki Cele.

Brendain Horner foi brutalmente assassinado em 02 de outubro em Paul Roux, próximo à localidade de Senekal, onde o corpo foi encontrado amarrado a um poste num terreno da fazenda agrícola onde trabalhava como gerente, segundo a polícia.

O assassínio do jovem agricultor agravou nas últimas semanas as relações raciais na África do Sul, obrigando a polícia sul-africana a montar um forte dispositivo de segurança desde as 04:00 de hoje na cidade de Senekal e arredores.

As forças de segurança policial, equipadas com canhões de água e assistidas por unidades paramilitares, atribuíram zonas específicas divididas com arame farpado para manter "separados" cerca de 2.600 membros do partido político Economic Freedom Fighters (EFF, na sigla em inglês), de esquerda radical, e cerca de 600 agricultores, segundo o ministro da Polícia sul-africano.

A comparência em tribunal dos dois acusados decorreu sem incidentes de maior relevo apesar de várias tentativas dos membros do EFF e das declarações de "guerra" do líder da esquerda radical Julius Malema.

Fonte do sindicato dos agricultores comerciais na África do Sul (TLU SA, na sigla em inglês), a organização agrícola mais antiga no país, disse à Lusa que 287 ataques e 43 assassínios em fazendas agrícolas foram registados este ano.