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Dívida pública em África será central nas discussões dos próximos anos

O diretor do Programa Africano da Chatham House, Alex Vines, considerou hoje que os próximos anos serão marcados por uma ampla discussão sobre "a suspensão ou mesmo o pagamento da dívida" de países como Angola.

Dívida pública em África será central nas discussões dos próximos anos
Notícias ao Minuto

18:27 - 07/10/20 por Lusa

Mundo Chatham House

"Nos próximos anos haverá um novo fôlego para a discussão sobre a suspensão do serviço da dívida ou até um perdão de dívida, será uma coisa que vai dominar a agenda do G20 e do G7", disse Alex Vines na intervenção nas 'Conferências de Lisboa - Speed Talks' sobre 'A evolução política de Angola'.

Para Vines, a crise económica decorrente da pandemia da covid-19 vai trazer o tema novamente para o topo da atualidade, nomeadamente no relacionamento entre Angola e a China, que foram forçados a aproximar-se devido às ligações financeiras.

"Os angolanos recusaram alguns dos condicionalismos que os chineses queriam impor na renegociação da dívida, mas Angola não deve ser vista como a única a pressionar os chineses para serem mais internacionais na sua estratégia, há vários centros de pesquisa, por exemplo na Índia e nos Estados Unidos, que consideram a dívida como uma armadilha chinesa", acrescentou o responsável.

Na intervenção, Vines foi questionado sobre a política seguida pelo Presidente de Angola, João Lourenço, relativamente a membros da elite do seu antecessor, José Eduardo dos Santos, e sobre uma possível perseguição aos apoiantes do antigo chefe de Estado.

"A troca de elites é um perigo, sim, as coisas tornaram-se mais difíceis, porque há quem ache que o ímpeto anticorrupção corre o risco de ser arbitrário e politizado", disse Vines, acrescentando que "muitos angolanos dizem que a campanha anticorrupção parece ser arbitrária, dado que há muitos indivíduos próximos do Presidente que estão envolvidos em alegada corrupção e que não são tratados dessa maneira".

Segundo o diretor do Programa Africano da Chatham House, isso pode ser o resultado de acordos privados que não foram divulgados: "O que eu acho é que alguns dos indivíduos que não foram acusados podem ter alcançado acordos privados para devolver parte do dinheiro, mas essa negociação dentro do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) não é conhecida, é opaca", apontou.

A pandemia de covid-19 e a crise económica subsequente, que agudizou as fragilidades já existentes, está a dominar todo o panorama político angolano, e descarrilou a estratégia de transição de João Lourenço, defendeu o académico na intervenção inicial, feita em português.

"A ideia original era Angola afastar-se da China, diversificando o relacionamento internacional, mas a pandemia obrigou Angola a reaproximar-se da China, o que não é surpreendente devido à quantidade de dívida, mas isto significa que há também menos espaço para práticas mais democráticas", argumentou, considerando que o adiamento das eleições autárquicas é motivado não só pela pandemia, mas pela sensação de que os resultados eleitorais não seriam tão bons como o MPLA esperaria.

"O descontentamento popular sobre o estado da economia e a crescente ansiedade devido à crise económica, bem como as limitadas oportunidades, também motivaram o atraso das eleições municipais", previstas para este ano, mas que em agosto foram adiadas para 2021.

O Governo, concluiu, "está a sentir a pressão de uma economia em recessão há cinco anos, de uma crise aguda de liquidez, e alguns dos esforços contra a corrupção devem ser vistos neste contexto, porque este nunca foi o plano original de João Lourenço, os próximos anos vão ser sobre como consegue o MPLA segurar a maioria parlamentar nas eleições de 2022".

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