"Lamentamos as muitas irregularidades relacionadas com a liberdade e transparência do processo eleitoral, bem como a equidade no tratamento de certos candidatos e eleitores", afirmou o presidente da Conferência dos Bispos Católicos do Burundi, Joachim Ntahondereye.
O bispo, que falava numa gravação transmitida na terça-feira à noite à agência AFP pelos serviços de comunicação da conferência, elencou uma longa série de irregularidades semelhantes às denunciadas pelo líder do partido da oposição, Agathon Rwasa, candidato às eleições presidenciais.
A Igreja Católica "deplora em particular a coação exercida sobre certos procuradores para assinarem antecipadamente a contagem do conteúdo das urnas, o conteúdo de algumas urnas, o voto no lugar de falecidos e refugiados, procuradores múltiplos e, portanto, inválidos, o facto de haver em algumas mesas de voto eleitores que votaram mais do que uma vez".
Condena igualmente "a exclusão de procuradores e observadores dos locais de contagem dos votos, a intimidação e coação de alguns eleitores por funcionários administrativos que os acompanharam até às cabinas de voto, a intrusão de pessoas não autorizadas nos locais de contagem".
"Face a estas e outras irregularidades, perguntamo-nos se não terão prejudicado os resultados (finais) que serão proclamados pelo Tribunal Constitucional em 04 de junho".
A Igreja Católica conseguiu destacar 2.716 observadores no dia da votação e, "embora o seu número fosse inferior ao número de mesas de voto, conseguiram chegar a todos os municípios onde foram destacados em mesas de voto seletivas", disse Joachim Ntahondereye.
A Igreja Católica é a maior igreja do país, com uma população de cerca de 11 milhões de habitantes.
Na segunda-feira, a comissão eleitoral do Burundi declarou o candidato do partido no poder Evariste Ndayishimiye o vencedor claro das eleições presidenciais, com 68,72% dos votos, muito à frente de Agathon Rwasa (24,19%).
O partido de Agathon Rwasa, o Conselho Nacional da Liberdade (CNL), denunciou "uma mascarada eleitoral" e anunciou a sua intenção de interpor um recurso junto do Tribunal Constitucional hoje ou na quinta-feira.
Se o recurso da oposição for rejeitado, Evariste Ndayishimiye prestará juramento em agosto para um mandato de sete anos, renovável uma vez, no final do mandato do Presidente cessante.
Em 2015, a candidatura do Presidente Pierre Nkurunziza a um controverso terceiro mandato mergulhou o país numa grande crise política, que causou pelo menos 1.200 mortos e cerca de 400.000 deslocados.