Multilateralismo enfrenta "crise" perante "inquietação ocidental"

O mundo está a tornar-se menos ocidental, refere o relatório de Segurança de Munique, e o multilateralismo enfrenta a sua "maior crise", defende Amrita Narlikar, a presidente do Instituto Alemão de Estudo Globais e de Área (GIGA).

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Lusa
12/02/2020 09:30 ‧ 12/02/2020 por Lusa

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"Grandes mudanças de poder no mundo e rápidos desenvolvimentos tecnológicos contribuem para uma sensação de ansiedade e inquietação", refere o documento que serve de base à Conferência de Segurança de Munique, que começa esta sexta-feira.

"O mundo está a tornar-se menos ocidental. Mas o mais importante, o próprio ocidente pode tornar-se menos ocidental também", continua.

Este fenómeno, que o relatório chama "Westlessness", uma falta ou inquietação de Ocidente, leva a que o debate se centre no significado atual de ocidente, nos seus desafios e nos seus valores.

"Uma parte igualmente importante do debate será o multilateralismo", espera a presidente do instituto GIGA em declarações à agência Lusa.

"Esta tem sido uma característica fundamental da ordem liberal ocidental do pós Segunda Guerra Mundial, e agora enfrenta a sua maior crise perante este desafio de 'westlessness'. Poderá ser reformulada e ajustada às novas circunstâncias. Se sim, como?', questiona Amrita Narlikar.

"Existe uma real urgência em responder a estas perguntas. Isso ocorre porque o populismo, tanta à esquerda como à direita, tem alguns discursos claros, altos, simples e, muitas vezes, persuasivos. Basta ver, por exemplo, o impacto que o 'America First' tem no eleitorado norte-americano", exemplifica.

"Em contraste, falta à narrativa liberal mensagem e convicções claras. Além disso, a ausência de uma narrativa ocidental convincente não é apenas uma questão de embalagem ou de relações públicas. Para desenvolver um discurso com o qual as pessoas se comprometam, é preciso um processo de autorreflexão e consulta (...)", sublinha a presidente do Instituto Alemão de Estudo Globais e de Área, acreditando que a conferência "pode contribuir de maneira útil para este processo".

São esperados cerca de 35 chefes de estado ou de governo, além de mais de uma centena de ministros da defesa e negócios estrangeiros, entre eles o Presidente francês Manuel Macron ou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov.

"Espero ver vários líderes envolvidos, diplomatas, pensadores, académicos, jornalistas e outros agentes de diferentes partes do mundo", expressou Narlikar.

Este será a primeira Conferência de Segurança de Munique (MSC) depois da saída do Reino Unido da União Europeia. A presidente do instituto de pesquisa independente GIGA espera que o 'Brexit' "contribua para o debate de maneiras interessantes".

"O termo aparece apenas uma vez no relatório, o que indica que a discussão não será tanto sobre detalhes do próprio processo de negociação. Mas, na medida em que um grande participante optou por deixar a União Europeia, o 'Brexit' será uma parte importante do debate e também uma das 'causas imediatas' de um processo de autorreflexão necessário para a Europa", sustenta.

"Dado que a União Europeia simboliza certos valores liberais, as ameaças que o 'Brexit' representa são, de certa forma, não apenas um desafio para a Europa, mas também para outros povos e países que desejam defender esses valores. Portanto, mesmo que as conversas não sejam totalmente focadas no 'Brexit', ele deve fazer parte do contexto do debate", acredita a presidente do Instituto Alemão de Estudo Globais e de Área, em Hamburgo.

Desde 1963, a Conferência de Segurança de Munique recebeu dezenas de chefes de Estado para debater a política de segurança internacional.

A edição de 2020 será realizada de 14 a 16 de fevereiro em Munique e terá como foco, em particular, o contexto das fortes tensões no Médio Oriente.

Leia Também: Cabo Delgado e Tete com maior insegurança alimentar em Moçambique

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