A jornalista e escritora norte-americana, Anne Applebaum, considera, em entrevista à Lusa, que o jornalismo possa estar em perigo, apontando que as tecnológicas determinam o que as pessoas veem e a informação que acedem.
Anne Applebaum participa hoje no 34.º congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), que decorre na Culturgest, em Lisboa, com o mote 'Business & Science Working Together' (Negócio & Ciência a Trabalhar Juntos), num painel com o diretor-geral da Axians, Pedro Faustino, sobre 'What is really behind the new world order? [O que realmente está por trás da nova ordem mundial.
As tecnológicas determinam o que é que as pessoas veem, a informação que têm e, "em breve, talvez consigam eliminar completamente o jornalismo", diz.
A jornalista e historiadora dá o exemplo da Google, que está a trabalhar "numa forma do motor de busca com IA que não irá enviar as pessoas para 'websites' específicos, mas em vez disso enviar para resumos provenientes de 'websites', provavelmente minando ainda mais o modelo de negócio do jornalismo".
Até porque "são capazes de criar realidades alternativas, são capazes de levar as pessoas em determinadas direções para comprar principalmente (...) porque o seu interesse é comprar produtos".
"Como é óbvio também tem implicações políticas", porque num mundo em que as pessoas são classificadas em diferentes identidades "é útil tanto para as pessoas que tentam vender bens de consumo como para os políticos", salienta.
Agora, "penso que há uma grande questão sobre o ato do jornalismo, ou seja, as pessoas cujo trabalho é ir à procura de informação e sintetizá-la, escrevê-la e disponibilizá-la a outras pessoas. Não sei se esse trabalho ainda terá um modelo de negócio dentro de alguns anos, se ainda haverá pessoas dispostas a pagar por isso", afirma Anne Applebaum.
Trata-se de "uma questão muito, muito real", sublinha.
"O que temos é um mundo onde as pessoas parecem preferir podcasts, ou preferem vídeos, ou preferem informação que vem do primo que viu nas redes sociais, em vez de jornalismo", aponta.
Embora possa "conceder que há muitas coisas erradas no jornalismo 'old-fashioned'", isso significa que não se dá um destaque especial à verificação dos factos ou à informação que provém de uma investigação honesta.
"Em vez disso, teremos rumores, teremos histórias inventadas, teremos impressões ou sentimentos que são transmitidos pelas pessoas e, sim, acho que é um perigo real", conclui.
Leia Também: Media? Literacia muda comportamentos mas não perceção sobre jornalismo