França não pede condenação para cardeal acusado de ter encoberto abusos
O Ministério Público francês não exigiu hoje uma sentença condenatória contra o cardeal Philippe Barbarin, que contesta a sua condenação a uma pena suspensa de seis meses de prisão por ter encoberto abusos sexuais cometidos por um padre.
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Mundo Ministério Público
No julgamento de primeira instância, em março, a representante do Ministério Público não tinha pedido uma condenação contra o prelado, mas a sua posição não foi seguida.
Hoje, apelando ao tribunal para uma "decisão fundamentada e calma", o procurador Joël Sollier disse que "a justiça não pode tornar o simbólico no seu princípio de ação, nem no seu objetivo final", mas deve distinguir o "caso individual" do arcebispo de Lyon das "falhas" cometidas pela Igreja contra a pedofilia de alguns de seus sacerdotes.
No passado dia 07 de março, o tribunal criminal condenou o prelado a uma pena suspensa de seis meses de prisão após o julgamento em primeira instância. Contudo, a vice-procuradora Charlotte Trabut também não pediu a condenação.
Neste caso, o Ministério Público de Lyon abriu, em fevereiro de 2016, uma investigação por Barbarin não ter denunciado casos de agressão sexual visando o arcebispo e outros membros da diocese, denunciados por vítimas do padre Bernard Preynat.
O processo contra Barbarin resultou de uma discussão ocorrida em 2014 com Alexandre Hezez, que contou ao cardeal a violência sexual que sofreu na década de 1980 por Preynat nos campos de escuteiros. Hezez acrescentou que o padre não deveria mais dirigir uma paróquia.
Na sentença condenatória de março, o tribunal de Lyon concluiu que Barbarin "para evitar escândalos causados pelos múltiplos abusos sexuais cometidos por um padre (...) preferiu correr o risco de impedir a descoberta de muitas vítimas de abuso sexual pelo sistema judicial".
Barbarin, na audiência de recurso, alegou que seguiu as instruções do Vaticano após a discussão de 2014 com Hezez, sugerindo que não poderia ter feito mais.
Preynat foi transferido para outra paróquia, mas continuou a trabalhar com crianças até à aposentação, em 2015.
Acredita-se que Preynat tenha abusado de pelo menos 85 crianças. O padre será julgado em janeiro.
Os juízes já tinham declarado o cardeal Barbarin culpado por duas vezes: em 2010, quando Preynat confessou as suas ações e ele nada disse, tendo este silêncio contribuído para a prescrição, que tinha um prazo de três ano, e em 2014, quando Alexandre Hezez, o informou dos ataques, tendo o cardeal optado por não informar a justiça para "preservar a instituição à qual pertence".
Mas, de acordo com o procurador-geral, "é difícil acreditar que o cardeal Barbarin tenha vontade ou consciência de obstruir a justiça". Na ausência desse elemento intencional, considera que a infração não se efetiva à época e que acaba prescrita para todos os restantes assuntos.
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