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Caso Julian Assange é "um ataque" ao "jornalismo como um todo"

O caso Julian Assange não é sobre um indivíduo, nem um meio de comunicação, é "um ataque" ao "jornalismo como um todo", disse hoje o porta-voz do Wikileaks, em declarações à Lusa em Tunes, capital da Tunísia.

Caso Julian Assange é "um ataque" ao "jornalismo como um todo"
Notícias ao Minuto

18:56 - 13/06/19 por Lusa

Mundo WikiLeaks

Kristinn Hrafnsson, porta-voz do grupo de investigação que divulgou documentos diplomáticos e militares confidenciais americanos, dirigiu-se aos delegados da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), reunidos em Tunes até sexta-feira.

Julian Assange, 47 anos, é acusado pelos Estados Unidos de duas dezenas de crimes, incluindo espionagem, puníveis no seu conjunto com uma pena que pode chegar aos 175 anos de prisão.

O fundador do Wikileaks, que o porta-voz do grupo de investigação garante ter carteira profissional de jornalista, recusa a extradição, argumentando que os seus atos "protegeram muitas pessoas".

Em entrevista à Lusa, à margem da assembleia da FIJ, Kristinn Hrafnsson sublinhou que o que está em causa "não é um ataque contra um jornalista individual ou contra um órgão de informação, mas um ataque contra o jornalismo como um todo".

"É o ataque mais sério aos alicerces do jornalismo de que me lembro", frisou, acusando a "superpotência" Estados Unidos de "tomar controlo de uma instituição", a justiça, que estão a utilizar além fronteiras.

"O que eles estão a dizer é que o jornalismo é espionagem", resume Kristinn Hrafnsson. "Estão a usar um fóssil legal, com 102 anos, para atacar o jornalismo", denuncia.

Caso Assange venha a ser extraditado, "qualquer jornalista que informe sobre assuntos de segurança nacional, denuncie crimes de guerra e transgressões de forças militares, corre o risco de ser acusado e de ficar preso toda a vida ou até de ser condenado à morte", alerta.

"O que temos é a acusação contra um jornalista australiano -- que é membro da associação de jornalistas australiana, tem carteira profissional e publica na imprensa europeia --, sobre o qual os Estados Unidos pedem a extradição", observa.

"O que significa realmente é que nenhum jornalista, em lado nenhum do mundo, estará a salvo se os americanos decidirem que têm poderes extrajudiciais em todo o mundo", comenta.

A vida de Assange "está em risco", confirma o porta-voz do Wikileakes, recordando que a acusação pede 175 de prisão.

"Os Estados Unidos querem prendê-lo para o resto da sua vida", diz.

Considerando que "o caso Assenge é um ataque ao jornalismo e, portanto, aos alicerces da democracia", Kristinn Hrafnsson promete que a defesa esgotará todas as instâncias judiciais no Reino Unido e recorrerá, se for preciso, ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

"Estou muito preocupado com o destino de Julian Assange. Preocupo-me com ele, pessoalmente, porque sou amigo dele, mas preocupo-me ainda mais com o futuro do jornalismo, porque isso não é sobre mim e os meus contemporâneos, mas sobre em que mundo os meus filhos e os meus netos vão crescer", remata.

Hoje, o ministro do Interior britânico, Sajid Javid, anunciou que assinou o pedido de extradição do fundador do Wikileaks para os Estados Unidos e que cabe agora aos tribunais decidir.

A ordem de extradição vai ser apresentada ao tribunal na sexta-feira, disse o ministro à BBC Radio 4, acrescentando que cabe ao tribunal "a decisão final".

Julian Assange, detido no Reino Unido, deverá comparecer na sexta-feira num tribunal de Londres para uma audiência preliminar do processo de extradição, na sequência do pedido formalizado na terça-feira pelos Estados Unidos.

O veredicto só deve ser anunciado dentro de vários meses e a última palavra cabe ao Governo britânico, que pode decidir aplicar, ou não, a decisão judicial.

Assange foi condenado, em 01 de maio, a 50 semanas de prisão por ter violado as condições de liberdade condicional em 2012, ao refugiar-se na embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia, onde era acusado de delitos sexuais.

O australiano permaneceu quase sete anos na embaixada do Equador até que, em 11 de abril passado, o Presidente equatoriano lhe retirou a proteção diplomática e permitiu a sua detenção pela política britânica

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