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Correspondentes em África são sobretudo freelancers e precários

Os correspondentes que cobrem África, continente com "um histórico de exclusão" mediática, são sobretudo freelancers e tendencialmente precários, conclui o jornalista Paulo Nuno Vicente, em tese de doutoramento.

Correspondentes em África são sobretudo freelancers e precários
Notícias ao Minuto

08:01 - 28/09/13 por Lusa

Mundo Tese

."Essencialmente, os repórteres internacionais em África são freelancers, que suprem necessidades informativas dos maiores órgãos [de comunicação] do mundo", resume o autor da tese "The socio-demographics, professional culture and newswork of foreign correspondents working across Sub-Saharan Africa" (no original).

Realizada ao abrigo do programa UT Austin/Portugal e recentemente defendida na Universidade Nova de Lisboa, a tese resulta de trabalho de campo efetuado em 2012 e de respostas de 124 participantes de 41 países.

Como o jornalismo internacional atravessa "uma crise de sustentabilidade", o jornalista não estranhou o que encontrou no terreno: uma maior precarização da cobertura internacional. Exemplo: quando o Sudão do Sul se tornou independente, "só lá estavam quatro ou cinco jornalistas, todos freelancers, a trabalhar para os órgãos mais importantes do mundo, partilhando um único quarto, utilizando material próprio, sem seguro de saúde e trabalhando antes de receber".

Apesar das "modificações estruturais" em curso, o correspondente internacional não é uma ocupação profissional "em extinção", sublinha. O que se verifica é, além da precarização, uma maior procura por profissionais multimédia. "A pressão de escrever em ciclos de 24 horas, sete dias por semana, ter de produzir texto, fotografia muitas das vezes, não é acompanhada por algumas rotinas de produção ajustadas", o que acaba por resultar "nalguma superficialidade", analisa.

Além disso, a internet "ocupa um lugar absolutamente avassalador nas rotinas de produção", realça o jornalista, precisando que "mais de metade dos correspondentes" entrevistados passa "oito ou mais horas ligados por dia".

A África subsaariana "tende a estar mais ausente das notícias internacionais", frisa, recordando que, desde a década de 1990, é o continente onde estão presentes "menos delegações de média internacionais".

Este "défice na representação" resulta, em primeiro lugar, de decisões estruturais, tomadas pelas chefias dos órgãos de comunicação, aponta o investigador.

Do lado dos repórteres, o jornalista encontrou "algum sentido de autocrítica", com a maior parte a reconhecer que "África não é apenas o paradigma da criança e do abutre, dos golpes, da catástrofe permanente, da corrupção e da miséria", sendo também "a ponta de lança" de algumas inovações a nível mundial.

Ao mesmo tempo, destaca, há organizações que produzem informação "sobre o quotidiano africano que não têm necessariamente formação jornalística". Ou seja, os correspondentes "já não competem apenas com os órgãos ocidentais", mas também "com os próprios órgãos locais", assinala, constatando "uma vaga de fundo" de "novas empresas de média na África subsaariana".

No cenário lusófono, por exemplo, a profissionalização é crescente e os órgãos têm "muitas capacidades de investimento em equipamento e recursos humanos".

Claro que certos projetos locais "estão muito associados a interesses" económicos ou políticos, mas também há os que são financiados por instituições internacionais, como incentivo "à transparência e independência".

"Os resultados ainda não estão aí, possivelmente virão na próxima década, ou nas próximas duas décadas, mas já se conseguem ver as sementes que vão provavelmente germinar", assinala, antecipando "uma segunda independência", desta vez "mediática".

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