É uma leitura assustadora, aquela que é feita esta segunda-feira pelo El País, aos casos de homicídio de pais à mãos dos filhos, em Espanha. Nos últimos 12 meses, foram identificados pela publicação 18 pais mortos pelos seus filhos, três a cada dois meses.
O criminólogo Vicente Garrido indicou ao jornal espanhol que “o normal são 10 a 15 casos, no máximo, por ano”.
Chamam-lhes “filhos Saturno em Espanha”, um paralelismo com o famoso quadro de Francisco de Goya, ‘Saturno devorando um filho’ (1819), só que ao contrário. O mote para o levantamento destes dado pelo caso de Ana Delia Arceo, que morreu em agosto de 2015 num “quadro de desnutrição crónica, anemia grave, úlceras infetadas e broncopneumonia aguda”.
Os dois filhos de Ana Delia Arceo, um homem e uma mulher, foram condenados a 17 anos de prisão por deixarem morrer de forma cruel a mãe. O cadáver da senhora foi encontrado nu, apenas com duas fraldas sobrepostas, com sinais de um grave estado de desnutrição e falta de higiene. A sentença lida em tribunal, citada pelo El País, faz um relato chocante do estado do corpo, já com larvas e até uma barata. Tinha 25 quilos de peso.
Este caso, diz Vicente Garrido, é uma anomalia estatística, não representando a globalidade dos casos do género. “É um comportamento particularmente sádico”, assevera.
A lista de “filhos Saturno” do El País começa em novembro de 2017 com Toni, um adolescente de 18 anos que matou o pai com uma facada, depois de contrair dívidas em seu nome que ascendiam a 90 mil euros. Em janeiro deste ano, Bogdan, de 27 anos de idade, matou o padrasto, Pere Antoni Serra Crespí, de 61 anos. Pere Antoni costuma confrontar Bodgan por causa das suas faltas de respeito para com a mãe, até que um dia, numa discussão, foi degolado. Bogdan atacou depois a própria mãe, com 21 facadas. Até lhe tomou o pulso para garantir que estava morta.
Em ambos os casos, dados como exemplo, os assassinos chamaram as autoridades e mentiram, pelo menos até o embuste ser descoberto. No entanto, são listados mais de um dezena de casos do género.
A Universidade de Valência analisou uma amostra de 33 filhos que mataram o seu pai ou mãe entre 2000 e 2017 e concluiu o seguinte: “As condutas parricidas podem ver-se agravadas pela ingestão ou consumo de substâncias, mas não constituem um fator determinante. O jovem costuma provir de uma família estruturada e convive com a vítima. Costuma cometer o crime na casa da família, usando arma branca”.
A professora assassinada pela filha e pelo genro no Montijo
O homicídio de Amélia Fialho foi o último caso em Portugal que encontra paralelismo com o género de crime noticiado pelo El País. Recorde-se que foi a filha da vítima, Diana Fialho, a reportar o desaparecimento da mãe, no Montijo.
As autoridades depressa desmontaram o ardil, descobrindo-se que fora Diana, conjuntamente com o companheiro, Iuri Mata, a planear e executar o matricídio. O casal usou fármacos, para a colocar “na impossibilidade de resistir, agrediu-a violentamente no crânio com um objeto contundente, colocou-a na bagageira de uma viatura e transportou-a para a zona de Pegões, onde, com recurso a um acelerante, lhe pegaram fogo”, lê-se no comunicado da PJ.
A professora de 59 anos de idade tinha uma casa arrendada na mesma zona e uma herança considerável, tendo sido este o principal motivador para o crime.