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"Nem percebemos que é fim de semana, porque todos os dias temos missões"

Os dias são todos iguais para os militares portugueses destacados em Bangui, capital da República Centro-Africana, que convivem diariamente com o risco em operações de patrulha ou escolta, num país de conflito entre grupos armados.

"Nem percebemos que é fim de semana, porque todos os dias temos missões"
Notícias ao Minuto

11:06 - 27/07/18 por Lusa

Mundo Bangui

As rotinas diárias da força de reação rápida portuguesa, inserida na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (Minusca), fazem perder a noção de que dia da semana se trata.

"Por vezes, nem percebemos que é sábado ou domingo, porque todos os dias temos missões e em todos os dias temos de estar focados nas nossas tarefas", diz o sargento Silva, num país em que, "desde 2016, as pessoas estão sempre a temer um golpe de Estado e isso dá para perceber a tensão".

Às 05:00 manhã (mesma hora em Lisboa), "é já de dia e só começa a anoitecer às 18:00, e a isto junta-se a temperatura alta", apesar de se estar na estação das chuvas.

"Acabamos por nos habituarmos e nem ligamos, pois o importante é o trabalho que temos de fazer", sublinhou.

O contingente português, comandado pelo tenente-coronel João Bernardino, está instalado no Campo M'Poko, junto ao aeroporto internacional de Bangui, a capital da República Centro-Africana.

As patrulhas motorizadas, escoltas e operações de defesa e controlo de terreno ou infraestruturas chave - cada viatura, comandada por um oficial subalterno ou por um sargento, integra também um motorista, um artilheiro e um elemento para as comunicações - são preparadas (e armadas) com todo o rigor.

"Tudo é preparado com rigor, porque as missões são de muito risco, risco sempre presente porque nunca se sabe o que pode acontecer", afirma o sargento, enquanto o tenente Andrade acrescenta que "é preciso algum tempo para preparar as viaturas, com armamento, comida e água, porque sabemos a hora de saída da patrulha, mas não a de chegada".

Com a tripulação do veículo blindado HUMMMWV (Veículo Automóvel Multifunção de Alta Mobilidade, mas mais conhecido entre os militares por 'Humvee') completa, o motorista escolhe uma música que não afete a concentração da equipa.

"Temos de estar concentrados ao máximo na missão, mas a música de fundo é sempre bom. Mas temos de gostar da música escolhida pelo motorista e, se não gostarmos, dizemos, para que, em outro dia, não aconteça isso. Acabamos por gostar e não há problema", declarou o tenente.

A patrulha ou escolta, num país em que mais de 15 grupos armados apenas não controlam o território, é uma missão com muitos riscos e o artilheiro é os olhos da viatura blindada.

O soldado Dexter, que afirma que uma patrulha pode estar "três dias sem apoio logístico", fala do lema que está permanentemente presente entre os militares: "Não Penses, reage".

O tenente faz um relato dos cuidados que uma missão de patrulhamento requer e refere que uma patrulha tem um efeito dissuasor.

"Há cerca de um mês que não há incidentes com as patrulhas. As coisas estão calmas e não temos encontrado grupos armados. Mas, há uns dias, houve tiroteio no bairro PK5, no final da tarde, entre os rebeldes. É frequente pedir-se à ONU para intervir, mas não foi o caso. Apenas soubemos do tiroteio, nada mais", afirmou o oficial.

Os 'capacetes azuis' da 3.ª Força Nacional Destacada foram obrigados a recorrer ao uso de armas de fogo em várias situações, mas também são requisitados para escoltas, como a visita da comitiva do Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, que esteve Bangui em março, ou da comissão parlamentar da Defesa da Assembleia da República, mais recentemente.

Em Bambari, no norte do país, a força portuguesa esteve envolvida em confrontos intensos com grupos armados e houve depois pessoas que denunciaram "crimes contra a humanidade" alegadamente cometidas pelos portugueses e por militares do Ruanda.

A ONU referiu-se a "uma manipulação dos grupos armados para acicatar as tensões religiosas e da comunidade" e, mais tarde, condenou "ataques cobardes" de milícias, em particular do "grupo criminoso Siriri".

Antiga colónia francesa, a República Centro-Africana tornou-se independente desde 1960 e, desde então, tem vivido golpe de Estado após golpe de Estado.

O último golpe ocorreu em 2013 e, três anos depois, realizou-se eleições controladas pelas Nações Unidas, resultando a eleição de um novo Governo, mas que não consegue expandir a autoridade do Estado além da área da capital, Bangui.

Sob a égide da União Africana, as negociações para a paz realizam-se desde 2014, sem que se tenha chegado a um acordo e a paz fosse restaurada na República Centro-Africana, num país em que a percentagem de muçulmanos é muito inferior à de cristãos.

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