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“Matei mais de 100 pessoas do regime e do Daesh e não me arrependo"

Khaled (nome fictício) contou a sua história impressionante num documentário da BBC. Em poucos meses, a vida de um simples civil, que "sonhava" eleger, livremente, um presidente transformou-se, rapidamente, num assassino em série ao serviço de vários grupos jihadistas. Passados estes anos, Khaled não se arrepende de nada, "Deus sabe que eu nunca matei um civil ou uma pessoa inocente”.

“Matei mais de 100 pessoas do regime e do Daesh e não me arrependo"
Notícias ao Minuto

17:40 - 04/05/18 por Pedro Bastos Reis

Mundo Síria

A guerra da Síria já dura há mais de sete anos. Logo nos primeiros meses da revolta contra o regime de Bashar al-Assad, muitos civis foram presos e torturados pelas suas posições políticas. Muitos deles, como é o caso de Khaled, acabaram por se juntar a grupos jihadistas.

Num documentário da BBC, ‘Síria: A Guerra do Mundo’, transmitido no Reino Unido na passada quinta-feira e esta sexta-feira, 4 de maio, e que será transmitido a nível mundial nos dias 26 de maio e 2 de junho, Khaled – nome fictício – é uma das principais testemunhas, e também protagonista, do terror e da barbárie de uma guerra que já causou cerca de 500 mil mortos.

Khaled viveu os primeiros dias da Primavera Árabe como um simples civil que protestava contra o regime ditatorial de Assad. Natural de Raqa, começou a radicalizar-se à medida que a repressão exercida pelo regime aumentava.

O momento mais marcante do seu combate ao regime deu-se quando foi preso. O sonho que partilhava, com o seu grupo de “25 a 30 pessoas, de vir a poder eleger, livremente, outro presidente para além de Assad”, foi rapidamente destruído. Passou várias semanas numa prisão do regime, onde foi torturado. “Decidi que se deus me salvasse, eu iria matá-lo [Assad] para onde quer ele fosse”, confessou Khaled à BBC. Assim que saiu da prisão, pegou nas armas e começou a combater o governo.

Juntou-se ao grupo islamista Ahrar al-Sham, onde aprendeu a matar. Ajudou a capturar soldados do exército sírio e executá-los foi das suas tarefas enquanto aprendia técnicas de guerra. Tornou-se rapidamente um dos comandantes do grupo.

Agente duplo em grupos jihadistas 

Mais tarde, abandonou o Ahrar al-Sham e juntou-se à Frente al-Nusra, o braço da Al-Qaeda na Síria. Pouco tempo depois, em 2014, o autodesignado Estado Islâmico estabelecia o seu califado em parte da Síria e do Iraque, com a capital precisamente em Raqa, cidade natal de Khaled.

O Daesh (acrónimo árabe para Estado Islâmico) tentou recrutar vários membros de outros grupos jihadistas, como a al-Nusra, e Khaled foi um dos oficiais que recebeu essa proposta. Foi-lhe oferecido o cargo de chefe de segurança.

Perante a dimensão e força dos jihadistas, que não paravam de conquistar território e aumentar o número dos seus combatentes, Khaled sabia que recusar tal proposta seria a sua sentença de morte. Foi assim que acabou nas fileiras do autodesginado Estado Islâmico, mas como agente duplo, trabalhando ainda para al-Nusra.

Durante esta mais que arriscada missão, Khaled confessa que raptou vários combatentes do Daesh e que matou 16 deles. Procurava conseguir informações e passá-las aos jihadistas da al-Nusra, mas o cerco começava a apertar e percebeu que a qualquer momento podia ser descoberto. Foi então que decidiu fugir para a cidade síria de Deir al-Zour e depois para a Turquia.

“Quando me olho ao espelho, vejo-me como um príncipe"

Hoje, leva uma vida dita normal. Tornou-se um civil que não é reconhecido pelos crimes que cometeu no passado. Questionado pela BBC se se arrepende de algum deles, garante que não, e recusa mesmo o rótulo "crime". 

“Tudo o fiz foi para fugir e conseguir manter-me vivo”, afirmou Khaled. “Não foram crimes aquilo que eu cometi. Quando vês alguém a te apontar uma arma, a bater no teu pai, a matar os teus irmãos ou familiares, não podes ficar parado e nada te pode impedir”.

No total, Khaled admite que matou mais de 100 pessoas, sejam soldados do exército de Assad ou combatentes do Daesh. Garante que nunca matou um civil. “Matei mais de 100 pessoas em batalhas contra o regime e contra o Estado Islâmico e não me arrependo. Porque deus sabe que eu nunca matei um civil ou uma pessoa inocente”, disse Khaled.

Quando me olho ao espelho, vejo-me como um príncipe. Durmo bem à noite, porque todas as pessoas que me pediram para matar, mereciam morrer”.

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