Afinal o que acontece ao cérebro no exato momento em que morremos?

Cientistas da Universidade Charitée, em Berlim, e também da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, realizaram um estudo pioneiro sobre a neurobiologia da morte. A investigação inédita foi liderada pelo cientista Jens Dreier.

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Liliana Lopes Monteiro
13/03/2018 11:00 ‧ 13/03/2018 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle

Vida e morte

O estudo denominado de 'Depolarização da difusão terminal e silêncio elétrico na morte do córtex cerebral humano', contou com o consentimento dos parentes de vários pacientes terminais. O estudo exigia um monitorização neurológica considerado invasiva.

Os pacientes analisados tinham sofrido acidentes de trânsito, acidentes vasculares cerebrais ou paragens cardíacas.

Os cientistas descobriram que os cérebros dos animais e dos seres humanos morrem de forma semelhante. E que existe um exíguo momento no qual o funcionamento do cérebro pode ser restaurado, ao menos de forma hipotética.

O objetivo do projeto não era apenas observar os últimos momentos do cérebro humano, mas também entender como e se seria possível salvar vidas no futuro.

Durante o estudo, à medida que o paciente terminal piorava, os cientistas monitorizavam a sua atividade neurológica através de dezenas de elétrodos.

Em primeiro lugar, em oito dos dez pacientes, os investigadores detetaram o movimento de células cerebrais que tentavam impedir o inevitável, ou seja, a morte.

Regra geral, os neurónios funcionam com íons carregados, o que cria desequilíbrios elétricos entre eles e o ambiente, o que permite que pequenos choques, ou sinais, sejam criados. Para os autores do estudo, a manutenção desse sistema fica mais difícil quando a morte se aproxima.

Para se alimentarem, essas células ingerem oxigénio e energia química da corrente sanguínea. Quando o corpo morre e o fluxo sanguíneo que chega ao cérebro para, os neurónios - privados de oxigénio - tentam 'desesperadamente' acumular os recursos que sobraram.

Emitir sinais e alertas, como normalmente ocorre, torna-se um desperdício nos últimos momentos de vida. Portanto, os neurónios param a sua atividade e, ao invés de enviarem sinais, usam as suas reservas de energia para manterem cargas elétricas internas – e aguardam assim o retorno de um fluxo de sangue que jamais chegará.

O fenómeno foi chamado de 'depressão não dispersa', já que ocorre simultaneamente em todo o cérebro.

Segue-se a fase da ‘despolarização da difusão’, também conhecida por ‘tsunami cerebral’. Neste momento dá-se uma grande libertação de energia térmica, porque o equilíbrio eletroquímico que mantinha as células vivas entra em colapso - esse ‘tsunami’ leva à intoxicação e à destruição das células.

Todas essas reações foram observadas pelos cientistas nos pacientes terminais. E à medida que os níveis de oxigénio caíam, a atividade elétrica também era silenciada em todo o sistema nervoso.

É então que a morte chega.

No entanto, o estudo revelou que, no futuro, todo esse processo poderá não ser de todo inevitável.

"A despolarização expansiva marca o início das alterações celulares tóxicas que eventualmente levam à morte, mas não é o ponto chave da morte por si só, pois essa despolarização é reversível até certo ponto, com a restauração do fluxo de energia", explica o líder do estudo, Jens Dreier, do Centro de Investigação de Acidentes Cardiovasculares, da Universidade Charité.

Os dados inéditos publicados na revista científica Annals of Neurology, apontam que a ressuscitação celular é de facto possível.

Porém, novos estudos terão que ser realizados nesse sentido.

Como Dreier aponta, "a morte é um fenómeno complexo" para o qual "não há respostas fáceis".

 

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