Estalinhos com a língua e imitar sons de animais são sintomas de doença

A propósito do Dia Mundial das Doenças do Movimento, que se assinala esta quarta-feira, 29 de novembro, Andreia Gomes Pereira, neuropediatra do Campus Neurológico, assina este artigo.

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Notícias ao Minuto
29/11/2023 19:37 ‧ 29/11/2023 por Notícias ao Minuto

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Na idade pediátrica, a doença do movimento mais frequente é a perturbação de tiques, que inclui o síndrome de Gilles de la Tourette (SGT), também conhecido como síndrome de Tourette.

Os tiques são involuntários, podendo ser motores ou vocais (ou fónicos). Os tiques motores são movimentos rápidos, recorrentes e não rítmicos. Os tiques vocais são sons ou palavras repetidas frequentemente, de forma incontrolável. Podem, ainda, ser classificados como simples, sem propósito e envolvendo apenas um grupo muscular ou parte do corpo, ou complexos, quando envolvem vários grupos musculares, coordenados e por vezes com um propósito.

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Os tiques motores podem manifestar-se de várias formas, como, por exemplo, pestanejar, movimentar a cabeça, sacudir os braços, saltar, tocar em objetos ou pessoas, movimentar todo o corpo. Já os tiques vocais ou fónicos podem ser reconhecidos, por exemplo, ao limpar a garganta, dar estalinhos com a língua, fungar, grunhir, imitar sons de animais ou palavras ou frases inapropriadas ou fora de contexto.

Habitualmente, os tiques surgem entre os quatro e os 12 anos de idade, atingem uma maior gravidade na adolescência e podem ser transitórios (duração < um ano) ou evoluírem para a cronicidade (duração > um ano). Geralmente, os tiques motores e vocais mudam de frequência, evoluem em complexidade e podem intercalar entre períodos de maior ou menor intensidade. Os tiques vocais podem surgir cerca de um a dois anos depois dos motores.

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A presença de tiques motores e vocais crónicos caracteriza uma perturbação neurológica denominada por SGT. Os sintomas surgem habitualmente entre os cinco e os 18 anos, são mais frequentes no sexo masculino, e existe uma história familiar de SGT em 10-15% das crianças.

O diagnóstico de tiques e SGT é realizado por um neuropediatra, que se baseia na história clínica fornecida pelos pais e na observação em consulta (embora as crianças possam suprimir os tiques quando se sentem observadas). Os exames complementares habitualmente não são necessários para o diagnóstico já que este se fundamenta em critérios clínicos, mas são solicitados nalguns doentes para exclusão de outras patologias neurológicas que podem apresentar-se com perturbações do movimento, nomeadamente tiques.

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A avaliação e o diagnóstico são fundamentais para a exclusão das comorbilidades mais frequentemente associadas à perturbação de tiques (particularmente à SGT), nomeadamente a Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade, Perturbação Obsessiva-Compulsiva, Perturbação do Espectro do Autismo, perturbação de sono, dificuldades específicas de aprendizagem, cefaleias, perturbações psiquiátricas como ansiedade e depressão.

A intervenção na perturbação de tiques envolve a presença de neurologistas, psicólogos, terapeutas e psiquiatras, e baseia-se na psicoeducação e nas terapias cognitivo-comportamentais (psicoterapia, treinos de relaxamento, hipnose, …). Ocasionalmente, pode ser necessária terapêutica farmacológica para controlar os tiques, mas esta decisão é sempre individualizada e tomada em conjunto com a família. Na verdade, a família é um elemento-chave na abordagem à perturbação de tiques, uma vez que existem algumas estratégias para aplicar na rotina diária da criança, que ajudam a diminuir a intensidade e a frequência dos tiques. Estas incluem:

  • Aprender a reconhecer os tiques, as situações que os desencadeiam, evitando-as ou usando fatores distratores;
  • Evitar situações de stress e ansiedade;
  • Ter uma boa higiene do sono;
  • Praticar exercício físico;
  • Dedicar tempo a passatempos desportivos, musicais.

Relativamente ao prognóstico desta perturbação, a maioria das crianças com tiques motores simples têm uma diminuição dos sintomas por completo, já as crianças com SGT podem manter os sintomas na idade adulta. No entanto, e dependendo da gravidade dos sintomas, a maioria das pessoas com tiques motores consegue ter uma vida normal na sociedade.

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