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E se lhe dissessem que a solução era reaprender a respirar?

O que é reabilitação respiratória? Quais as mais-valias? E a quem se destina esta intervenção? O Lifestyle ao Minuto esteve à conversa com a cirurgiã cardiotorácica Catarina Carvalheiro, da unidade de pulmão do Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa.

E se lhe dissessem que a solução era reaprender a respirar?
Notícias ao Minuto

08:45 - 02/06/23 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle Entrevista

Dados do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR) mostram que as patologias respiratórias, como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e o cancro do pulmão, são uma das principais causas de morte e incapacidade em Portugal. Para estes doentes, a reabilitação respiratória pode ser a chave.

Os números são pouco animadores. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, até 2030, a DPOC se torne a terceira causa de morte a nível global. Já o cancro do pulmão é um dos mais letais. Em 2020, segundo estimativas da OMS, foram diagnosticados em Portugal mais de cinco mil novos casos. E, entre 2018 e 2020, apesar de a mortalidade ter estabilizado, verificou-se um aumento dos novos casos de cancro do pulmão, segundo o ONDR.

Notícias ao Minuto © Catarina Carvalheiro

Nestas pessoas, os programas de reabilitação respiratória "contribuem para a melhoria da tolerância ao esforço, diminuição dos sintomas e aumento da funcionalidade", o que se traduz "numa melhoria da qualidade de vida", explica Catarina Carvalheiro, cirurgiã cardiotorácica, da unidade de pulmão do Centro Clínico Champalimaud, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto

Contudo, apesar de todas as vantagens conhecidas, "estas intervenções têm um custo que, por vezes, os doentes não conseguem suportar individualmente", alerta a médica. É por isso que o " investimento nesta área deve envolver também os sistemas de saúde/seguradoras". "São necessários mais programas de reabilitação respiratória em todo o país", defende.

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Em que consiste a reabilitação respiratória? E quais os objetivos?

A reabilitação respiratória é uma intervenção abrangente que inclui várias terapêuticas desenhadas individualmente para melhorar o desempenho físico e psicossocial do doente e promover a adesão a longo prazo a comportamentos e estilos de vida que beneficiam a saúde. 

Os programas de reabilitação respiratória contribuem para a melhoria da tolerância ao esforço, diminuição dos sintomas e aumento da funcionalidade

Em que doenças pode ser útil?

Apesar de a evidência científica sobre os benefícios da reabilitação respiratória ser maior em doentes com DPOC, todas as doenças respiratórias crónicas podem beneficiar desta intervenção, como a asma brônquica grave, as bronquiectasias, a fibrose pulmonar, a doença intersticial pulmonar, doenças neuromusculares com impacto respiratório, deformidades da parede torácica, síndrome de obesidade-hipoventilação, hipertensão pulmonar e cancro do pulmão. 

Quais os benefícios?

Os programas de reabilitação respiratória contribuem para a melhoria da tolerância ao esforço, diminuição dos sintomas e aumento da funcionalidade, que se traduzem por uma expressiva melhoria na autonomia dos doentes e na autogestão da doença resultando numa melhoria da qualidade de vida. 

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Pode ter vantagens antes e após uma cirurgia?

Nos doentes submetidos a cirurgia, a reabilitação respiratória pré-operatória, serve para otimizar a capacidade respiratória de alguns doentes nos quais se prevê que a recuperação após a cirurgia possa ser mais complicada devido a alterações respiratórias e pode mesmo tornar viável a opção cirúrgica em doentes que à partida, pela sua diminuída capacidade respiratória, não eram candidatos ao tratamento cirúrgico. Já a reabilitação respiratória pós-operatória é mandatória para uma recuperação mais célere da capacidade respiratória e para os doentes mais rapidamente voltarem a realizar as atividades quotidianas sem incapacidade após a cirurgia. No período perioperatório diminuem também a ocorrência de complicações pulmonares pós-operatórias, a duração do internamento e os custos relacionados com a saúde.

Também pode ser usada para alterações do estilo de vida?

Os programas de reabilitação respiratória são constituídos por uma equipa multidisciplinar experiente, composta por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, cardiopneumologistas e terapeutas ocupacionais. Esta multidisciplinaridade adaptada e personalizada ao doente respiratório tem como objetivo a alteração de comportamentos, promovendo a adesão aos tratamentos e adaptação à doença, melhorando a qualidade de vida.

O investimento nesta área deve envolver também os sistemas de saúde/seguradoras, uma vez que estas intervenções têm um custo que, por vezes, os doentes não conseguem suportar

Como é feita exatamente?

Estes programas são integrados e adaptados a cada doente e a cada momento da evolução da doença, envolvendo treino de exercício, medidas de alteração de estilo de vida, adesão à terapêutica, apoio nutricional e psicossocial, todas contribuindo para melhoria da qualidade de vida com redução dos sintomas, prevenção do declínio da capacidade física, diminuição das agudizações infeciosas.

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Após o tratamento, o que deve ser feito?

Nos doentes com patologia respiratória grave de base, os programas de reabilitação respiratória devem ser contínuos, com fases mais intensivas e fases de manutenção, adaptadas à evolução da doença e devem ser iniciados o mais precocemente possível para um melhor benefício.

Qual a situação em Portugal?

Atualmente, os programas de reabilitação respiratória em Portugal ainda não apresentam uma distribuição equitativa e na totalidade do território. A falta de investimento nesta área está relacionada principalmente com o desconhecimento das mais-valias desta intervenção por parte dos profissionais de saúde, dos sistemas de saúde/seguradoras, dos doentes e da população em geral.

A seu ver, o que deveria ser feito para alargar a reabilitação respiratória a todas as pessoas que dela podem beneficiar?

É necessária formação abrangente não só da comunidade médica, mas também da população e dos decisores financeiros para um maior investimento nesta área, não só a nível público mas também privado. O investimento nesta área deve envolver também os sistemas de saúde/seguradoras, uma vez que estas intervenções têm um custo que, por vezes, os doentes não conseguem suportar individualmente. São necessários mais programas de reabilitação respiratória em todo o país adequados às necessidades da população, desde os cuidados de saúde primários com programas de base comunitária até ao nível hospitalar, que permitam que todos os doentes que beneficiem possam usufruir desta terapêutica tão importante.

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