Depois do burnout, eis o burn-on. O que é e quais as consequências?

Tamas Hovanyecz, coordenador de bem-estar da New Life Portugal, dá resposta a estas perguntas neste artigo de opinião partilhado, em exclusivo, com o Lifestyle ao Minuto.

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Notícias ao Minuto
09/11/2022 21:00 ‧ 09/11/2022 por Notícias ao Minuto

Lifestyle

Artigo de opinião

Já toda a gente ouviu falar de burnout, mas os alemães Bert te Wildt e Timo Schiele, médico e psicoterapeuta, respetivamente, publicaram um livro com o título 'Burn-on: Immer kurz vorm Burn Out', que se traduz aproximadamente como 'Burn-on: sempre à beira do Burnout'. Neste livro, definem o burn-on como alguém que está perto de um burnout, mas que de alguma forma ainda tem energia suficiente para continuar um pouco mais.

Quando chega ao estado de burnout fica tão exausto que é física, emocional e/ou mentalmente doloroso sair da cama, ir trabalhar ou fazer qualquer outra coisa. Essencialmente, quando alguém tem um burnout, não é capaz de continuar a sua vida quotidiana. As pessoas que chegaram a esse ponto geralmente dizem: 'Ok, terminei aqui'. O seu corpo e mente simplesmente 'desligam'.

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Normalmente, o burn-on acontece sem que a pessoa esteja totalmente ciente disso. Especialmente na sociedade ocidental, há um sistema de crenças subjacente de que temos que manter o sistema a funcionar, que precisamos de ser produtivos e chegar ao próximo salário. Mesmo sem perceber, as pessoas otimizam as suas vidas para ficarem presas num estado burn-on. Mas durante quanto tempo alguém pode continuar assim? Por quanto tempo se pode sustentar isso e a que custo? Isso depende sempre do indivíduo, do ponto em que está e se está preparado para mudar o seu 'mindset'.

Notícias ao Minuto Coordenador de bem-estar da New Life Portugal© Tamas Hovanyecz

Um padrão clássico de pacientes em burn-on, de acordo com Te Wildt e Schiele, é que usam técnicas de relaxamento para ganhar força e energia suficientes para manter o ritmo no seu trabalho e vida privada. Alguns deles não querem admitir que devem fazer mudanças a longo prazo e quando olham à sua volta veem que amigos e colegas também estão no limite e por isso parece algo normal.

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Existem alguns sinais que podemos observar: um seria a falta de uma distinção clara entre tempo de trabalho e tempo livre. É cada vez mais difícil fazê-lo quando recebemos todo o tipo de informação nos telemóveis 24 horas por dia, sete dias por semana. No entanto, quando temos o hábito de verificar e-mails de trabalho de manhã ou à noite ou em transportes públicos, isso é um sinal de alerta. Para mim, isso é um sinal claro de que há uma falta de discernimento entre ter uma vida privada saudável com limites claros e estar envolvido em padrões não saudáveis que levam a vida profissional a tornar-se uma competição desenfreada.

Outro sinal é perceber que as pessoas não têm energia para fazer o que adoram fora do trabalho. Algo não está certo quando, ao final do dia, uma pessoa deixa o local de trabalho e não tem energia suficiente para praticar desporto, encontrar-se com amigos ou ler um livro. Em vez disso vai para casa e tudo o que pode fazer é cair no sofá e ficar a ver Netflix.

Vamos a exemplos no local de trabalho: se um colega ou chefe me pedir para fazer algo, isso pode desencadear uma reação na minha mente de 'Eu outra vez não! Não quero fazer isso, não tenho energia para isso', ou se entrar em conflito com um colega de trabalho e instantaneamente culpar a outra pessoa. Quando estou num bom estado de espírito e tenho a quantidade certa de energia, geralmente consigo deixar essas coisas passarem muito rápido sem que elas me afetem muito. Quando não tenho a quantidade certa de energia para lidar com essas ocorrências é porque já estou no modo burn-on. Quando não consigo dar um passo atrás para ver o que está a acontecer de uma perspetiva mais objetiva nem posso encontrar uma solução para o problema em questão porque não tenho energia para pensar com clareza, então isso é definitivamente outro sinal.

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As pessoas que estão no modo burn-on tendem a viver de acordo com o lema 'work hard, play hard' e também a encher as suas vidas privadas de atividades e compromissos. Continuam a assumir mais e mais coisas, mesmo que os seus corpos já possam dar sinais de alerta. Te Wildt e Schiele definem burn-on como 'depressão de exaustão cronica'. Eles observaram que os pacientes não se sentem apenas stressados e ansiosos, mas podem sofrer de pressão alta, dores de cabeça regulares ou músculos muito tensos.

Os candidatos 'ideais' para um burn-on são pessoas orientadas para objetivos, superdotadas e perfeccionistas, pessoas que gostam de entregar e executar. O mesmo é válido para todos aqueles que se identificam profundamente com o que fazem, que são apaixonados pelo seu trabalho e que encontram nele um sentido. As pessoas que se envolvem na criação de startups também são candidatas de alto risco devido ao ambiente de trabalho em que precisam entregar para construir algo.

Dois poderosos hábitos de autocuidado para candidatos a burn-on são o 'sunset digital' - quando o sol se põe, o telefone também desliga. É importante colocá-lo de lado duas horas antes de ir para a cama. Dormir deve ser um dos hábitos número um de autocuidado. Outro hábito é chamado de 'Shutdown completo' - quando termina o trabalho deve desligar completamente. Isso significa não abrir o computador.

Perceber que como termina o dia anterior influencia o dia seguinte, como acorda e como começa o dia, é outra mudança de perspetiva muito importante. Entender isso ajuda a manter bons hábitos noturnos: se mexer no telefone depois das 20 horas, isso afetará o sono, o que, por sua vez, afetará a forma como acorda e como decorre a rotina matinal.

Quando estamos num estado de burn-on, muitas vezes sentimo-nos stressados ou ansiosos e uma maneira de quebrar esse ciclo é quebrar o padrão de respiração – da respiração superficial do peito para respirações longas, profundas e lentas. Aprender a respirar dessa forma realmente ajuda as pessoas a regularem o seu sistema nervoso, o que, em troca, permite que voltem ao seu equilíbrio. A partir daí, podem começar a ver alguns dos desafios que têm de enfrentar com muito mais clareza. 

*Artigo de opinião assinado por Tamas Hovanyecz, coordenador de bem-estar da New Life Portugal

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