O CaixaBank já é o maior acionista do BPI, com 45,50%, pelo que o grupo bancário catalão só precisava de mais 5% de capital social para passar a controlar a instituição liderada por Artur Santos Silva e Fernando Ulrich.
Para já, é certo que o grupo Violas Ferreira Financial, o maior acionista português do banco, vendeu a quase totalidade dos 2,7% que detinha por cerca de 44 milhões de euros.
A 'holding' angolana Santoro, de Isabel dos Santos, até agora segunda maior acionista do banco com 18,5%, também terá optado por vender, segundo adiantou a imprensa.
O encaixe terá sido de 306,9 milhões de euros, o que significa um ganho superior a 50 milhões de euros face ao valor investido.
Tendo em conta que o Banco BIC também é controlado pela empresária angolana, este deve também ter acompanhado a decisão da Santoro e vendido os 2,28% que detinha no BPI.
Falta agora saber o que fizeram a seguradora Allianz, com 8,4%, e os milhares de pequenos acionistas.
O presidente da associação de pequenos investidores ATM, Octávio Viana, indicou à Lusa que a "esmagadora maioria" dos pequenos acionistas com que contactou alienaram os seus títulos.
Apesar de considerarem que o banco vale mais do que os 1,134 euros oferecidos por ação pelo Caixabank, os pequenos acionistas têm receio de que, face a uma elevada venda de títulos na OPA, a dispersão em bolsa do banco seja reduzida e os títulos fiquem com pouca liquidez, diminuindo o seu valor.
Ou seja, para já as informações conhecidas permitem calcular que o CaixaBank tenha ficado com cerca de 70% do capital social, o que lhe dá o efetivo controlo do BPI.
A questão agora é saber se o grupo espanhol consegue os 90% do capital social do banco, avançando para uma OPA potestativa, obrigando os restantes acionistas a vender os seus títulos, ou se estes continuam a transacionar em mercado num contexto de baixa liquidez.
A OPA do CaixaBank sobre a totalidade do capital social do BPI arrancou em 17 de janeiro e terminou esta terça-feira, tendo o banco espanhol oferecido 1,134 euros por cada ação do banco português, o que avalia a instituição em cerca de 1.600 milhões de euros.
A operação foi anunciada em abril do ano passado pelo grupo bancário espanhol, no meio de um conflito que o opôs aos angolanos da 'holding' Santoro, tanto por causa da exposição a Angola, como devido à desblindagem dos estatutos (regra existente no BPI que impedia qualquer acionista de votar com mais de 20%, independentemente da participação que detivesse).
Os espanhóis ofereceram então 1,113 euros por ação, mas condicionaram a oferta à eliminação dos limites aos direitos de voto dos acionistas, o que só viria a acontecer em setembro e graças a um diploma do Governo.
Com a desblindagem de estatutos no BPI, o CaixaBank passou então a exercer efetivamente os 45% de participação detida e a OPA passou de voluntária a obrigatória e a ser sobre a totalidade do capital social (100%), tendo o banco espanhol aumentado o valor oferecido por ação para 1,134 euros.
Mais recentemente, em dezembro, o BPI conseguiu reduzir o excesso de exposição a Angola (exigido pelo Banco Central Europeu), depois de os acionistas terem aceitado vender 2% do Banco de Fomento de Angola (BFA) à operadora angolana Unitel, por 28 milhões de euros.
Esta operação foi já concretizada em janeiro e faz com que a Unitel (empresa também controlada por Isabel dos Santos) tenha agora a maioria do capital do BFA (51,9%), enquanto o BPI ficou com 48,1%.
O preço oferecido pelo CaixaBank nesta OPA foi criticado por vários pequenos acionistas que pediram mesmo à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) um auditor independente para encontrar um preço "justo" para a OPA. Contudo, o regulador entendeu que o valor da contrapartida cumpria os requisitos legais (nomeadamente a cotação média ponderada do título em bolsa).
Tiago Violas, representante da Violas Ferreira Financial, chegou mesmo a considerar que existe uma "troca direta do controlo do BPI [que deverá ficar nas mãos do CaixaBank após a OPA] pelo controlo do BFA" pela empresária Isabel dos Santos e que foram "os pequenos acionistas quem pagou".