João César das Neves, professor universitário, escreveu no Diário de Notícias sobre os “Equívocos de uma palavra”, uma palavra que passou a fazer parte de um dia a dia europeu – austeridade.
O economista acredita que “além de cegueira ideológica e aproveitamentos oportunistas, muitos dos mal-entendidos nascem da utilização inconsiderada da equívoca “austeridade”, já que “distorções e variantes permitem usar o mesmo termo para significar aspetos contraditórios, alimentando confusão e polémica”.
O professor relembra que os tempos de facilidade, apesar de longos, eram “ilusórios, alimentados com dinheiro alheio”, assim mesmo que “todo o esbanjamento anterior fosse esquecido e as dívidas perdoadas (…) era preciso descer as despesas ao nível das receitas”.
César das Neves explicou que acabar com o défice primário não resolve o problema principal, “só estanca a sangria”. “Portugal, Grécia e outros andaram na euforia até ao último momento, só parando o despesismo quando os mercados de crédito fecharam”.
“É bom lembrar um pequeno detalhe que nunca aparece nas discussões: estes países só caíram em crise porque não se souberam governar. Ou seja, os seus líderes foram capturados por interesses, próprios ou alheios, concedendo benesses acima daquilo que o país podia pagar. É isso o défice”, explica.
Assim, o economista frisa ainda que “os cidadãos deviam ser os primeiros a apoiar tal austeridade, porque são eles que, no fim, pagam as despesas excessivas e seus juros”.
“A austeridade é hoje uma palavra mágica, que parece controlar vidas e decidir discussões. Dada a quantidade de confusões que suscita, seria melhor um uso mais austero da palavra austeridade”, concluiu o professor.