A Fed reúne-se na terça-feira e na quarta-feira pela terceira vez desde o regresso de Donald Trump à Casa Branca, num cenário económico virado do avesso e sob os ataques do Chefe de Estado.
Mas a grande maioria dos atores financeiros tem poucas dúvidas quanto ao resultado da reunião da Fed, defendendo que o banco central deverá manter as taxas diretoras no nível em que estão desde dezembro, entre 4,25% e 4,50%.
Powell e muitos dos outros 18 funcionários que fazem parte do comité de fixação de taxas da Fed deixaram claro que pretendem, antes de tomar qualquer medida, primeiro avaliar o comportamento da economia face à dimensão da ofensiva protecionista lançada por Donald Trump.
Embora os barómetros económicos regulares mostrem um nervosismo crescente, os indicadores oficiais permanecem contidos (4,2% de desemprego em abril, 2,3% de inflação em março, ligeiramente acima do objetivo de 2% da Fed).
O problema é o que vem a seguir. Na última reunião, os responsáveis da Fed reviram em baixa as previsões para a primeira economia mundial, antecipando menos crescimento, mais inflação e mais desemprego.
A guerra comercial entre Washington e Pequim está a resultar em direitos aduaneiros exorbitantes que estão a paralisar o comércio entre as duas potências.
E a sobretaxa mínima de 10% introduzida pelo bilionário republicano sobre os produtos provenientes do resto do mundo - incluindo o cacau, que não é cultivado nos Estados Unidos - é uma verdadeira ameaça ao comércio.
"É complicado dizer agora se a economia vai entrar em recessão, as tarifas vão pelo menos desacelerar o crescimento", afirmou à Afp Loretta Mester, ex-presidente (2014-2024) da Fed de Cleveland (norte dos EUA).
Neste contexto, congelar as taxas é "a coisa certa a fazer", mesmo que isso signifique reduzi-las mais rapidamente em caso de uma deterioração objetiva da atividade, acrescenta a responsável que agora leciona na Wharton School of Business, na Pensilvânia (leste).
Se as autoridades da Fed "cortarem as taxas agora, isso significa que elas estão preocupadas, e a situação será pior", diz Belinda Roman, professora de economia na Universidade St. Mary, em San Antonio, Texas, citada pela Afp.
Belinda Roman considera que "se os mercados acharem que a Fed está em pânico, então todo o mundo realmente entrará em pânico".
Tudo isto acontece numa atmosfera eletrizada pelas constantes críticas de Donald Trump ao chefe da Fed, Jerome --- ou "Jay" --- Powell.
No final de abril, Trump disse que "já era hora" do mandato de Powell "terminar" e chamou-lhe "grande perdedor", garantindo mais tarde que não tinha "nenhuma intenção" de o demitir.
Mas as críticas de Trump a Powell praticamente não diminuíram desde então.
O republicano disse à imprensa esta semana que "não é um grande fã" de Jerome Powell e reiterou em letras maiúsculas na sua rede social Truth que a instituição deveria reduzir as taxas, assegurando que não há "INFLAÇÃO".
Às vezes, chefes de Estado desaprovam publicamente a política monetária, observa Loretta Mester, "o que é diferente desta vez é o quanto" Donald Trump "o faz".
A ex-presidente da Fed de Cleveland, no entanto, diz estar convencida de que os seus ex-colegas continuarão a tomar decisões de forma independente.
As autoridades da Fed, continua Belinda Roman, "precisam de ser capazes de manter a calma e a cabeça fria, apesar de toda a pressão e turbulência em seu redor".
Leia Também: STOP promove manifestação e greve pela escola pública em Setúbal