Em declarações à Lusa, Nuno Gonçalves, da Feviccom, disse que os dados que a entidade conhece apontam para dificuldades "em contratar, devido aos baixos salários que são praticados e à precariedade".
Por sua vez, a AICCOPN (Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas) reconheceu, em resposta à Lusa, que, "no que se refere ao setor da construção, [se estima] uma carência de cerca de 80 mil trabalhadores, que, naturalmente, tenderá a agravar-se dadas as necessidades de mão-de-obra em virtude da realização das grandes obras públicas já previstas, tais como o novo aeroporto de Lisboa, a ferrovia de alta velocidade ou as 59.000 habitações que foram anunciadas pelo Governo".
A Federação, que apresentou uma proposta para um salário mínimo de 1.200 euros no setor, realçou ainda o trabalho não declarado que diz que continua a existir e referiu que há que valorizar "também estes trabalhadores", que "prestam muito trabalho suplementar", apontando ainda medidas como o aumento dos dias de férias para 25.
Nuno Gonçalves pediu também medidas em formação e de segurança no trabalho, lembrando que "efetivamente é um setor de grande percentagem de trabalhadores imigrantes", mas que também manda trabalhadores para obras no estrangeiro, onde ganham mais.
"Temos conhecimento de obras públicas, obras nomeadamente do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência], da habitação, obras do IHRU [Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana], que ainda não saíram do papel, e que deveriam já estar no terreno", indicou, acrescentando que as dificuldades em obter mão-de-obra são "concretas".
A AICCOPN concorda que "esta carência pode igualmente refletir-se na capacidade do país em cumprir atempadamente os objetivos do PRR, cuja execução é fundamental para a recuperação económica e para o crescimento sustentável da economia nacional".
"O Protocolo de Cooperação para a Migração Laboral Regulada, assinado no passado dia 01 de abril de 2025, será um instrumento fundamental para acelerar os processos de emissão de vistos, assegurando a entrada regular e célere de trabalhadores no mercado laboral", defendeu, mas este instrumento, realçou, "não resolverá, por si só e isoladamente a carência de mão-de-obra que é reconhecidamente um problema estrutural" do país.
Para a associação, exige-se "um conjunto de medidas integradas e de políticas que favoreçam a captação e a atração de trabalhadores e de jovens, bem como a reconversão e requalificação de profissionais inscritos nos Centros de Emprego, pois não é razoável que existam taxas de desemprego elevadas e défice de trabalhadores em determinadas áreas ou setores de atividade, sendo necessário fazer uma correspondência entre a oferta e a procura".
A AICCOPN salientou que as empresas de construção "estão motivadas para reforçar a valorização dos seus recursos humanos, como forma de dar continuidade à modernização e industrialização que está em curso no setor".
A entidade lembrou o "acordo de revisão do Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) celebrado no ano passado entre a associação e os sindicatos que reflete esta realidade, tendo-se verificado um aumento das remunerações base da tabela salarial bastante significativo, (no valor de 13,2% relativamente ao ano transato)".
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