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Investimento chinês vai entrar em período de "muita sobriedade"

O economista Michael Pettis considera que a China teve um período inicial de "exuberância" no financiamento ao exterior que vai ser seguido por outro de "muita sobriedade", à medida que vários países arriscam entrar em incumprimento.

Investimento chinês vai entrar em período de "muita sobriedade"
Notícias ao Minuto

12:31 - 17/10/23 por Lusa

Economia economista

"É o padrão comum: quando se sai pela primeira vez, sobrestima-se a capacidade de compreender os países em desenvolvimento, subestima-se o risco", destaca à Lusa o professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim.

"No início, é muito difícil resistir à tentação de poder ganhar muito dinheiro, até se chegar a um ponto em que se tem de receber reembolsos significativos", acrescenta.

A China celebra esta semana dez anos desde o lançamento da Iniciativa Faixa e Rota com um fórum em Pequim que conta com a participação de líderes de mais de cem países.

Designado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, como o "projeto do século", a iniciativa foi inicialmente apresentada no Cazaquistão como um novo corredor económico para a Eurásia, inspirado na antiga Rota da Seda. Na última década, no entanto, a Faixa e Rota adquiriu dimensão global, à medida que mais de 150 países em todo o mundo aderiram ao programa.

Para Michael Pettis, o projeto nasceu da necessidade da China em exportar o excesso de poupança adquirido através de um excedente comercial com o resto do mundo.

"O Governo chinês colocou, inicialmente, as suas reservas sobretudo em obrigações do Estado norte-americano, mas à medida que as reservas aumentaram, tornou-se mais recetivo a diversificar e a investir noutros ativos de maior rendimento: foi nessa altura que descobriu o mundo em desenvolvimento", descreve.

Nos últimos anos, as empresas chinesas construíram portos, estradas, linhas ferroviárias ou centrais elétricas em todo o mundo, financiadas por bancos de desenvolvimento chineses.

A China é agora o maior credor internacional do mundo, tendo-se tornado na principal fonte de financiamento para muitos países de rendimento baixo ou médio. Segundo diferentes estimativas, a China investiu cerca de um bilião de dólares nos países em desenvolvimento no âmbito da Faixa e Rota.

O gigantesco programa internacional de infraestruturas enfrenta, no entanto, desafios suscitados pelo excesso de endividamento em alguns países e projetos comercialmente inviáveis, alguns dos quais ficaram por terminar, devido a falta de liquidez.

Sri Lanka, Maldivas, Laos e Quénia são alguns dos países que enfrentam dificuldades em cumprir com as suas obrigações, numa altura em que Pequim lida com uma crise interna no setor imobiliário e uma economia em abrandamento.

Michael Pettis apontou um formato pirâmide no gráfico do investimento chinês no exterior, com uma ascensão repentina que atinge o pico em 2016 e regista, logo de seguida, uma descida abrupta.

O ponto de viragem foi a entrada em incumprimento da Venezuela, explicou. Segundo diferentes estimativas, Caracas deve atualmente 10 mil milhões de dólares a diferentes instituições chinesas.

"A China emprestou desproporcionadamente à Venezuela, Argentina e Equador, mas, em 2015, a Venezuela teve de reestruturar praticamente toda a sua dívida à China e ao resto do mundo", lembra.

"Isto foi um choque muito grande para Pequim", refere o economista, que vive no país asiático há mais de duas décadas. "Foi a primeira vez que [a China] percebeu que conceder empréstimos a países em desenvolvimento é bastante arriscado e que, quando há uma expansão demasiado rápida, é provável que surjam problemas".

Pettis considera que Pequim vai ter que perdoar parte das dívidas.

"Já se sabe como é que isto funciona: os empréstimos são feitos na expectativa de que serão totalmente reembolsados; depois descobre-se que o reembolso é muito difícil; passa-se um período muito longo e destrutivo em que a dívida é renegociada e reestruturada; por fim, chega-se a um ponto em que se reconhece que o perdão da dívida é a única saída", explica.

A China reconhece que o formato da iniciativa tem que mudar: o mantra agora são projetos "pequenos e belos", ou seja, investimentos pequenos e comercialmente viáveis.

Com esta nova estratégia, o financiamento chinês além-fronteiras caiu quase 50%, face há cinco anos, segundo uma análise do Green Finance and Development Center, um grupo de reflexão ('think tank') que acompanha os investimentos da Faixa e Rota.

"A dívida insustentável, por definição, é insustentável", aponta Pettis. "Tanto o mutuário como o mutuante ficam em melhor situação quando chegam a acordo sobre o montante correto de perdão da dívida. A China ainda vai demorar muitos anos a chegar lá", acrescenta.

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