De acordo com a publicação estatística da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), o setor de calçado "mantém uma forte dependência da Ásia, responsável por 87,4% da produção mundial", enquanto a Europa "responde, atualmente, por apenas 2,7% da produção mundial".
"Não há evidências que comprovem movimentos relevantes de 'reshoring' na indústria global de calçado", sustenta a associação, referindo-se à tendência, apontada no seguimento da pandemia de covid-19, de as empresas europeias procurarem na região EMEA (Europa, Médio Oriente e África) uma alternativa aos fornecimentos da Ásia, após meses de interrupção nas cadeias de abastecimento.
Segundo a APICCAPS, o facto é que "a distribuição geográfica da produção de calçado permaneceu relativamente inalterada na última década", com a Ásia a continuar a dominar, respondendo por mais de 87% da produção mundial, a mesma percentagem de 2010.
Os dados do World Footwear Yearbook demonstram que a China se perfila como o maior produtor mundial de calçado, tendo invertido a tendência de queda dos últimos anos e aumentado, mesmo que marginalmente, a sua quota em 2022, para os 54,6%.
Ao lado da China, surgem outros sete países asiáticos no 'top' dos 10 principais produtores de calçado, entre os quais o Vietname, que alcançou o maior crescimento da produção em 2022: mais 10,3%, para 1500 milhões de pares.
A APICCAPS recorda que foi a partir de 1985 que "o equilíbrio global mudou de forma significativa na indústria de calçado": "Nessa altura, mais de 35% da produção mundial de calçado assentava na Europa, em particular em países como Itália (525 milhões de pares de sapatos produzidos em 1985), Espanha (205 milhões de pares), França (198 milhões de pares), Alemanha (171 milhões de pares) e Reino Unido (136 milhões de pares)", lembra.
Contudo, "nas últimas quatro décadas, a produção de calçado na Europa caiu a pique" e, em conjunto, estes cinco países deixaram de produzir 884 milhões de pares de calçado, o que representa uma quebra na ordem dos 70%.
Neste movimento, "apenas Portugal resistiu" e, em contraciclo, desde 1985 que a produção nacional de calçado aumentou na ordem dos 50%, para um total de 84 milhões de pares produzidos em 2022.
Os dados do World Footwear Yearbook demonstram também um "domínio esmagador" do continente asiático ao nível do consumo de calçado.
Assim, em 2022, o consumo da Ásia representou mais de metade (53,2%) do total mundial, ainda assim ligeiramente abaixo do ano anterior, seguindo-se a América do Norte e a Europa, com 15,9% e 14,9%, respetivamente.
'Per capita', o consumo de calçado a nível mundial varia entre os 1,4 pares em África e os 5,9 pares na América do Norte.
A China volta a destacar-se como o principal consumidor de calçado, apesar de o seu peso ter caído para 17,9% em 2022, enquanto o consumo nos Estados Unidos registou "um notável aumento" de 12,7%, recuperando a segunda posição no consumo e ultrapassando a Índia, o país mais populoso do mundo desde o início do ano.
A União Europeia, quando considerada como uma única região, representa o quarto maior mercado, com um consumo de 2.347 milhões de pares em 2022.
Para a APICCAPS, os dados do World Footwear Yearbook "expõem de forma crua a realidade da indústria de calçado a nível internacional": "São números que nos preocupam. Quase 90% da produção mundial é assegurada pela Ásia", sustenta, acrescentando: "Não nos parece que seja sustentável, razão pela qual existe muita pressão relativamente a pequenos 'players' como Portugal".
Ainda assim, a associação assume que o modelo de negócio da indústria portuguesa de calçado "é claro": "Queremos afirmar Portugal como uma referência no desenvolvimento de soluções sustentáveis, promovendo uma produção justa e responsável, na Europa, respeitando as convenções internacionais e os diretos do homem".
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