Meteorologia

  • 25 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 13º MÁX 19º

Agricultores admitem deixar apanha de alfarroba por causa de impostos

A obrigatoriedade de inscrição de atividade nas Finanças para a venda de pequenas quantidades de alfarroba está a levar pequenos produtores a ponderarem o abandono da atividade, confirmou à Lusa o gestor do Agrupamento de Alfarroba e Amêndoa do Algarve.

Agricultores admitem deixar apanha de alfarroba por causa de impostos
Notícias ao Minuto

09:47 - 28/09/13 por Lusa

Economia Proprietários

"Temos recebido bastantes reclamações e pedidos de informações porque as pessoas têm alguma dificuldade em compreender o que se passa e as exigências impostas", explicou José Filipe, gestor daquele agrupamento com 500 associados do Algarve.

Em causa está o decreto-lei n.º 197/2012, que estipula que todas as pessoas que façam uma venda tenham de ter atividade registada nas Finanças e declarar todas as vendas. Os prazos de inscrição tinham inicialmente sido apontados para março deste ano, mas foram prolongados para 31 de outubro.

Admitindo que as novas regras não criam dificuldades aos grandes produtores, que já fazem as suas declarações de atividade normalmente, José Filipe disse que o problema está nos pequenos agricultores, com pequenos terrenos e que anualmente obtêm rendimentos entre os 500 e os 1.500 euros.

José Matos é um dos produtores que admite abandonar a terra devido ao facto de os gastos de produção ultrapassarem os lucros, sendo que 15 quilos de alfarroba rendem atualmente ao produtor cerca de 4,50 euros.

"Aumentaram as contribuições, temos de pagar o trator para limpar o terreno, temos de tratar a terra... Ando aqui a trabalhar de borla porque já não dá para as despesas", disse à Lusa o produtor, de 58 anos, quando se preparava para vender alfarroba a um armazenista.

Segundo José Filipe, quase 70% dos associados do agrupamento que gere têm mais de 64 anos, são reformados e encaram a atividade como um complemento da reforma.

No caso da atividade agrícola, o responsável explicou que os agricultores têm de ter um livro de faturas reconhecido pelas Finanças, têm de passar fatura sempre que realizam uma venda, no mês seguinte têm de declarar as vendas no portal das Finanças e depois voltam a declarar os valores faturados nas declarações de IRS (imposto sobre o rendimento singular).

Ao Agrupamento de Alfarroba e Amêndoa do Algarve chegam pessoas que temem cortes nas reformas e outras que temem o corte no subsídio de desemprego por se dedicarem a uma das atividades mais tradicionais do interior algarvio.

Apesar de não acreditar que o abandono por parte dos pequenos produtores possa colocar em risco a atividade no Algarve, José Filipe admitiu que haverá uma diminuição da produção comercializada.

Proprietário de uma empresa familiar de trituração e exportação de alfarroba com 60 anos de atividade, Desidério Oliveira confirmou à Lusa o desalento dos pequenos produtores de alfarroba: "Hoje em dia, a maior parte das pessoas que apanha alfarrobas já tem mais de 60 anos, alguns têm 80 e são pessoas que apanham pouca quantidade, entre os 120 e os 200 quilos" constatou.

"As pessoas que arranjam quantidades pequenas estão desanimadas e alguns pensam que se calhar ainda têm de pagar IRS ou que vão perder as reformas", explicou o comerciante, referindo que os pequenos produtores são responsáveis por cerca de 40% da alfarroba que comercializa.

Estes, disse, "estão muito desapontados e dizem que não se vão inscrever porque não vale a pena".

O desalento aumenta porque é somado à vaga de roubo de alfarroba com que muitos produtores se deparam e a ao ano de fraca produção.

Para muitos, a apanha da alfarroba é uma bolha de oxigénio para o orçamento familiar, comentou Desidério Oliveira, recordando que algumas pessoas apanham alguns sacos e vão vender de imediato.

Desde o início de 2013 que o Agrupamento de Alfarroba e Amêndoa do Algarve tem enviado sugestões e pedidos de alteração da lei para o caso dos pequenos produtores, mas até hoje não obteve qualquer resposta por parte das entidades competentes.

Recomendados para si

;

Receba as melhores dicas de gestão de dinheiro, poupança e investimentos!

Tudo sobre os grandes negócios, finanças e economia.

Obrigado por ter ativado as notificações de Economia ao Minuto.

É um serviço gratuito, que pode sempre desativar.

Notícias ao Minuto Saber mais sobre notificações do browser

Campo obrigatório