Meteorologia

  • 04 MAIO 2024
Tempo
18º
MIN 13º MÁX 21º

"Despedimentos de treinadores não passam de tentativas de remendos"

Técnico português está no estrangeiro há quase sete anos e analisa a onda de despedimentos que está a assombrar a I Liga.

"Despedimentos de treinadores não passam de tentativas de remendos"
Notícias ao Minuto

08:25 - 03/04/17 por Francisco Amaral Santos c/ Carlos Pereira Fernandes

Desporto José Gomes

José Gomes acredita que ser emigrante torna os treinadores portugueses mais completos. O conhecimento e a proximidade com outras culturas e costumes obriga a trabalhar a capacidade de adaptação, característica fundamental para os técnicos. 

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, o técnico de 46 anos que atualmente orienta o Al Taawon, da Arábia Saudita, faz um balanço da carreira e analisa a vaga de despedimentos que assombra a I Liga nesta temporada.

Muitos dos jogadores fumam, ficam até tarde a beber chá e café…

Que balanço faz da experiência na Arábia Saudita?

José Gomes: É um balanço positivo. A fasquia está realmente elevada porque, fruto do apuramento da época passada, estamos a jogar Champions, na fase de grupos, com três jogos, foi o meu primeiro jogo há três dias e vencemos. Estamos nas meias finais da Taça do Rei, que também dá acesso à Champions e portanto, para já, está a correr tudo bem.

Presume-se que seja uma realidade muito distina...

JG: Presume muito bem... (risos). A realidade, em termos de país, a nível cultural é completamente diferente. Não temos outra postura que não seja a de respeitar totalmente as diferenças e aceitá-las como parte integradora do nosso plano de treino e na forma como vamos organizando os nosso horários. Respeitando sempre as rezas e as questões culturais deles [dos jogadores], mas essa integração já estava feita pelo que não existiu nenhum choque nesta recente integração no clube.

É fácil lidar com os jogadores? Tendo em conta essas questões culturuais…

JG: É muito fácil… Bom, estou a dizer que é muito fácil mas também sei de alguns colegas de outras nacionalidades que tiveram problemas. Mas eu com quase sete anos nesta vida de emigrante em culturas e países diferentes – Espanha, Grécia, Hungria, Arábia Saudita e Emirados – tenho esta capacidade de adaptação a novas realidades sem entrar em choque e conseguir levar as nossas ideias e motivá-los a partilharem os nossos objetivos. Tenho considerado extremamente fácil trabalhar com eles, há algumas questões que nós sabemos que acontecem e que temos de ter algum cuidado.

Por exemplo, o ciclo quotidiano deles é permanentemente alterado porque eles deitam-se tarde. A religião diz que antes do nascer do sol eles têm que fazer a primeira reza e muitas vezes só dormem depois disso. E muito deles fumam, ficam até tarde a beber chá e café… mas estamos a lutar para que as coisas estejam dentro dos nossos parâmetros. 

Despedimentos não passam de tentativas de remendos

Enquanto treinador português, como acompanha os sucessivos despedimentos no nosso campeonato?

JG: Considero que por vezes os objetivos dos clubes levam os presidentes a precipitarem-se com a saída dos treinadores. Mas às vezes isso não passam de tentativas de remendos que normalmente não resultam...

Alguns clubes, como Estoril ou Arouca, já vão para o terceiro treinador da temporada. Como é que se convence um treinador a assinar por um clube sabendo que, a qualquer momento, poderá estar de saída?

JG: Isso poderia acontecer a primeira vez e o clube ter mantido, nos últimos dez anos, o treinador até ao fim e haver uma época em que mude três vezes. Nós, treinadores de futebol, sabemos que a nossa vida está sujeita isso e é incontornável. Porque não há previsão de resultados que nos permitam dizer que vamos assinar por um clube e fazer o nosso trabalho até ao fim. Estamos sempre dependentes dos resultados e faz parte da magia do futebol. Mas não é só em Portugal.

Na Premier League isso também está a acontecer, que era um campeonato mais conservador e que muito raramente mudavam de treinador e que nos últimos anos mostraram que estão a mudar. Há um negócio no futebol que quando não há resultados e os investimentos feitos não trazem o lucro esperado, há todo um conjunto de fatores desportivos e financeiros que levam a que quem decida se veja obrigado a tomar medidas. A verdade é que nós os treinadores sabemos que ao que estamos sujeitos.

O aparecimento de treinadores mais jovens, como Nuno Manta ou Ricardo Soares, acaba por ser o lado positivo de todas estas alterações?

JG: Quando um treinador sai há um lugar que fica em aberto e abrem-se janelas para quem os substitui. Temos o caso concreto do Feirense que fez uma excelente recuperação, está a respirar tranquilamente a manutenção e agarrou a oportunidade muito bem.

Tenho o objetivo de chegar à Premier League

No meio de tantas mudanças, o mister José Gomes não recebeu qualquer proposta para regressar a Portugal? Chegou-se a falar no Arouca…

JG: Eu li essas notícias e já estava no Golfo. Portanto não tem base, não sei qual a origem disso…. Assinei contrato por uma época e evidentemente que no futebol tudo pode acontecer, estamos num mercado a ver aquilo que será melhor para a nossa carreira e para a nossa família. Mas neste momento estou totalmente focado aqui e e estou no clube que juntos conseguimos atingir a Champions, que é uma coisa histórica. Estou aqui de corpo e alma com a bandeira de Portugal a acompanhar o nosso campeonato. Obviamente que não quero ficar aqui a viver e a trabalhar para sempre e se tiver uma oportunidade e um projeto interessante irei regressar.

Quais são os objetivos futuros na carreira? Há muitos treinadores que sonham treinar em Inglaterra…

JG: O meu sonho também é esse mas é uma porta difícil... Até me podia colocar a questão: 'então mas quer ir para Inglaterra e está na Arábia Saudita? Não é o melhor percurso’ mas o meu caminho foi sempre acontecendo, não sei se há treinadores que planeiam o caminho a seguir. Tenho esse objetivo e vou tentar chegar lá. Não há registo de nenhum treinador ter passado pela Arábia Saudita e ter ido para Inglaterra a seguir. Há o caso do meu amigo e colega Carlos Carvalhal, que passou dos Emirates para o Wednesday do Championship [segundo escalão inglês]. Tenho que fazer uma alteração na rota, evidentemente que está completamente em aberto regressar à Europa.

Como são vistos os treinadores portugueses na Arábia Saudita?

JG: Nós temos espalhados pelo mundo fora treinadores portugueses. Não sei se haverá alguma profissão que tenha o mesmo sucesso que têm os treinadores portugueses. São números mito altos com títulos conquistados por todo o mundo. Já por si dá credibilidade e seriedade quando um clube equaciona contratar um treinador português. E também não nos podemos esquecer, que eu julgo que foi em 90, quando Portugal foi campeão do mundo com a equipa de Figo e Peixe que a final foi aqui em Riade. Essa foi um feito que ainda hoje falam disso aqui.

O ano passado, ou há duas épocas, passaram aqui treinadores como Jaime Pacheco, Toni, Peseiro. Há muitos treinadores que têm passado e deixado a sua marca positiva. Isto aumenta e valoriza o treinador português. Como lhe disse, este clube é muito pequenino e estar a jogar Champions é um sonho. Isto é aqui num meio da península da Arábia Saudita, a 300 km de Riade, e estar a jogar Champions e poderem defrontar equipas que só tinham visto na televisão é uma coisa extraordinário. Em suma, o treinador português é muito bem visto aqui na Arábia Saudita.

Recomendados para si

;

Acompanhe as transmissões ao vivo da Primeira Liga, Liga Europa e Liga dos Campeões!

Obrigado por ter ativado as notificações do Desporto ao Minuto.

É um serviço gratuito, que pode sempre desativar.

Notícias ao Minuto Saber mais sobre notificações do browser

Campo obrigatório