Sensivelmente quatro anos após se ter assumido como o primeiro jogador gay no mundo do futebol, Josh Cavallo concedeu uma entrevista à BBC Sport, divulgada esta quarta-feira, a recordar o mediatismo que se criou em outubro de 2021, quando ainda estava na Austrália, ao serviço do Adelaide United, antes de rumar a Inglaterra para representar o Peterborough Sports, na presente temporada.
"Ameaças de morte? Quando vi essas mensagens pela primeira vez, fiquei com o coração partido. As coisas que eu ouvia eram realmente ofensivas e depreciativas em relação à minha comunidade [LGBTQQICAPF2K+]. Estou a tentar melhorar como jogador e ser o melhor que posso em campo, só que depois sou menosprezado por ser quem sou como pessoa. Isso é nojento", começou por contar o defesa de 25 anos.
"Não reagi a nada porque sabia que isso só alimentaria os haters. Se é aceitável? De jeito nenhum. Porém, ao assumir o que somos, é isso que acontece. É muito triste porque tenho de explicar a razão pela qual mereço um lugar no campo de futebol por ser quem sou como pessoa. Infelizmente, não nos sentamos para perguntar como é que isto ainda existe no futebol", acrescentou ainda Josh Cavallo.
"A revelação de um jogador gay em plena Premier League moveria montanhas, mas não vou adoçar a pílula. Há muitas coisas assustadoras que podem acontecer com essa pessoa em questão. No mundo do futebol masculino, ser um jogador assumidamente gay é um algo muito tóxico", vincou de seguida o jogador australiano.
"Ainda há muito trabalho a ser feito"
Antes de se aventurar na sexta divisão do futebol inglês, Josh Cavallo cumpriu toda a carreira no seu país, tendo passado pelo Melbourne City e pelo Western United até chegar ao Adelaide United, sendo que, na época 2021/22, teve a coragem para revelar a sua homossexualidade.
"Eu não sabia o que me esperava... Não sabia o que esperar. Parecia que era o momento certo na minha vida. Eu queria dar o próximo passo. Lembro-me que o meu telemóvel explodiu com mensagens de apoio. Foi impressionante", relembrou.
"Ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que haja um espaço seguro no futebol para pessoas como eu e outras tantas. Não temos visto mais jogadores [a revelar-se] tanto quanto gostaríamos. Só posso continuar a lutar pelo que acho certo e trabalhar para eliminar a masculinidade tóxica nos balneários do futebol, de forma a criar um espaço seguro", atirou ainda.
A escolha pelo Peterborough Sports e a realização do Mundial'2034 na Arábia Saudita foram também temas da conversa de Josh Cavallo com o jornal britânico.
"Não se tratava de escolher o clube que jogaria no mais alto nível. Tratava-se de encontrar um clube onde eu me sentisse confortável. A forma como o Peterborough Sports me abordou foi algo com o qual eu poderia sentir-me confortável e ser quem eu sou fora de campo. Estou aqui parar criar uma mudança", admitiu.
"Mundial'2034? Estou impressionado com o facto de um Campeonato do Mundo se realizar em países que criminalizam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, onde pessoas como eu serão presas só por existirem naquele território? É assustador. Parte-me o coração saber que há pessoas detidas por serem quem são", lamentou ainda.
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