Paulo Futre 'esfrega as mãos' por uma novela: "Gostaria de ser vilão"

Paulo Futre é o convidado da 2.ª edição da rubrica mensal 'Eu "show" de bola' do Desporto ao Minuto, em que se pretende perceber melhor o que faz alguém 'viajar' do mundo desportivo para a arte do entretenimento.

Rubrica_Paulo Futre

© TVI

Miguel Simões
04/08/2025 07:02 ‧ há 7 horas por Miguel Simões

Desporto

Eu 'show' de bola

Paulo Jorge dos Santos Futre é um dos nomes mais consagrados do desporto, porém, por esta altura, é na televisão que se encontra a 'dar cartas'. O antigo internacional português foi um dos poucos a jogar por Benfica, FC Porto e Sporting, algo que, por si só, chegou a gerar controvérsia.

 

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Paulo Futre aceitou ser o segundo convidado da rubrica 'Eu "show" de bola' (lançada na primeira semana de cada mês), em que se pretende perceber melhor o que faz alguém 'viajar' do desporto para o mundo do entretenimento. E que longa viagem...

O ex-avançado, que 'pendurou as botas' há 27 anos, teve o privilégio de representar cada um dos três ditos 'grandes' de Portugal, numa carreira de futebolista recheada de sucesso, na qual  ainda virou ídolo em Madrid - amado pelos adeptos do Atlético e 'odiado' pelos simpatizantes do Real.

Para além dessas referências, Paulo Futre ainda passou por Olympique Marseille, AC Reggiana, AC Milan, West Ham e Yokohama Flugels. Aos 59 anos, entre muitas históricas mirabolantes, já participou em novelas e em programas de entretenimento, fixando-se como uma das figuras mais carismáticas da estação televisiva TVI, onde ainda espera concretizar um outro sonho.

Afinal, o que motiva alguém apaixonado pelo desporto 'abraçar' o ramo do entretenimento de forma tão diversificada? É o próprio Paulo Futre que nos explica.

'Adeus' ao Sporting? Quando eu estava no FC Porto, a minha mãe chorava. Todos os dias partiam a porta e as janelas de casa. O meu pai era insultado, tal como o meu irmão e a minha mãe quando saíam à rua.Faltou-lhe fazer algo numa carreira de futebolista recheada de sucesso?

Claro. Com Portugal… Faltaram três coisas. No Sporting, logo pela minha mãe e pelo meu pai, sempre tinha a espinha encravada por não ter feito nada de especial. Gostava de ter sido campeão nacional pelo Sporting. Faltou-me também ser campeão da Liga espanhola. Noutros tempos, era mais difícil ir a competições internacionais como Campeonatos da Europa e Mundiais. E aí faltou-me fazer algo importante com a seleção de Portugal. Ainda por cima, aquele que talvez tenha sido o meu pior momento da carreira, aconteceu pela seleção nacional, no Campeonato do Mundo no México [1986].

É a página mais negra, mais horrível, mais humilhante. A maior vergonha que houve no nosso futebol nacional. Treinávamos em cuecas. Tudo começou com a guerra da publicidade. Era a primeira vez que havia publicidade nas camisolas, no estádio… A Federação queria a tarte toda. Nós queríamos um bocado, para os jogadores. Houve grandes confusões. Para não usarmos aquela roupa com publicidade, treinávamos de qualquer maneira, de cuecas e de tronco nu. Há fotografias que até tenho vergonha de ver. Foi um escândalo. Fomos a julgamento até. No meu livro 'El Português' até tenho umas 200 páginas a falar sobre isto do México. Foi tudo tão negro… Tirando depois os jogos, em que fui titular frente a Marrocos. Quando cheguei a Portugal, o meu pai olhou com vergonha para mim. Eu tinha 20 anos… Fomos quase 'ameaçados' pelo Presidente da República, que nos disse para não brincarmos com o nome de Portugal. Estive ali vários dias a pensar. Nunca me senti assim na minha vida. Até pensei em deixar de jogar futebol...

Por essa altura, estava no FC Porto. Já tinha representado o Sporting e ainda viria a jogar pelo Benfica. Foi chamado de 'traidor' muitas vezes por ter passado pelos 'três' grandes de Portugal? 

Primeiro, tenho de dizer que qualquer miúdo que sonhe em ser futebolista profissional, tem o primeiro sonho de jogar pela sua equipa. O outro é ser internacional A pela seleção. Quase ninguém em Portugal ou no mundo pode sonhar que vai jogar em todos os 'grandes' do seu país, não é? Quando és miúdo também não pensas em jogar nos rivais. Para mim, foi um orgulho fazer o pleno. Quando saí do Sporting, para muitos era o menino bonito dos adeptos. Amavam-me. Mesmo que eu não tivesse a culpa, fui para um rival e é normal que o amor se transforme em ódio. Alguns sportinguistas da minha geração não perdoaram.

Quando eu estava no FC Porto, a minha mãe chorava. Todos os dias partiam a porta e as janelas de casa. O meu pai era insultado, tal como o meu irmão e a minha mãe quando saíam à rua. Ela até me perguntou 'O que fizeste à nossa família?'. Quem insistiu até foi o meu pai, que era um fanático pelo Sporting. Eu tinha 18 anos, mas ainda não tinha aquela força para decidir sozinho. A última palavra era a do meu pai. Só respondi à minha mãe que entretanto teria dinheiro para lhe comprar uma grande casa, ao que ela me disse "Quero a minha casinha e a minha vida". Estive seis meses sem ir ao Montijo e depois fui com guarda-costas… Digo sempre isto quando me perguntam.

Notícias ao Minuto Paulo Futre contribuiu para a conquista do FC Porto da Liga dos Campeões, em 1986/87, já depois de uma longa passagem pelo Sporting.© Getty Images

Faria tudo igual?

Se eu não saísse do Sporting para o FC Porto, iria ser emprestado à Académica, segundo o que se falava. Já me tinham dito que não havia espaço para mim. O meu pai disse-me que ficou dececionado. Tinha uma grande confiança em mim, até porque já tinha sido internacional pela seleção A. Com 18 anos, já era considerado o melhor sub-20 do mundo. O meu pai até me disse que se tivesse de ser emprestado, seria para o Montijo. Jogava lá e ia trabalhar na oficina como mecânico. Já tinha trabalhado nisso dos 13 aos 15 anos. Teria sido a minha profissão se o futebol não desse em nada. Solteiro e rebelde como eu era, se calhar, em vez de ser o rei no campo, ia ser o rei da noite [caso fosse emprestado à Académica], pelo que depois no ano a seguir iria estar a trabalhar numa oficina do meu primo e a jogar no Montijo. Nem me recordo em que divisão estavam naquela época.

Quando apareceu o FC Porto, foi uma salvação para mim. Ainda por cima, o Pinto da Costa ainda me disse "Aí não te querem, aqui vais ser tu e mais". Cumpriu-se. Eu estava com a moral em baixo com o empréstimo. Se não resultasse, já sabia que ia ser mecânico, que era uma profissão que eu adorava. Tinha jeito para aquilo. No entanto, o meu sonho de futebolista acabava…

Eu, a minha família e os meus amigos sabemos que a Bola de Ouro [1987] é minha. O [Ruud] Gullit podia ter ganho depois muitas vezes, mas aquela só podia ser minha.

Em 1987, quando trocou o FC Porto pelo Atlético de Madrid, acabou por ficar em segundo lugar na Bola de Ouro, conquistada por Ruud Gullit. Ainda lhe dói não ter ficado com o troféu?

Eu, a minha família e os meus amigos sabemos que a Bola de Ouro é minha. O [Ruud] Gullit era um génio. Talvez merecesse ganhar mais do que uma Bola de Ouro, era um fenómeno, mas não aquela de 1987. Essa não podia ter ganho. Podia ter ganho depois muitas vezes, mas aquela de 1987 só podia ser minha. Não havia outra… Fui Campeão da Europa. Ele ganha a Liga pelo PSV. Eu fui para o Atlético de Madrid e ele para o AC Milan, sendo que ambos fizemos quatro ou cinco meses geniais. Fui ainda o melhor jogador [pelo Atlético de Madrid] em Camp Nou [diante do Barcelona] e no Santiago Bernabéu  [com a goleada ao Real Madrid]. Até os adeptos do Real Madrid, que me odiavam desde aquele primeiro jogo, em que fui o inimigo público número 1 para eles, davam-me aquela Bola de Ouro. Disseram mesmo "Que injustiça".

O Paulo Futre é uma figura incontornável na história do Atlético de Madrid. Explique-nos as sensações de se sentir um ídolo para aqueles adeptos?

À parte de jogador, fui ainda embaixador e diretor desportivo no pior momento da história do clube. Muita gente no meu lugar não se metia naquela 'loucura'. Foi a experiência mais 'louca' da minha vida e também a mais difícil. Falando do jogador… Depois do segundo dérbi no Santiago Bernabéu, houve aquela história com o Paco Buyo. Um dos maiores escândalos de um dérbi [de Madrid]. Era o meu primeiro ano de capitão do clube. Quando és capitão começas a sentir algo diferente. Em outubro de 1988, já não admitia que alguém me dissesse que era mais colchonero do que eu. Cheguei ao Atlético como um estrangeiro e um profissional que iria dar tudo em campo pela equipa que me pagava.

A partir dali, comecei a jogar como colchonero. Defendia o clube dentro do campo, mas também fora. Isto não é como agora. Na minha altura, eu todas as semanas estava a dar conferências de imprensa, especialmente quando perdíamos. Agora dão a volta ao plantel… Acho que os adeptos se identificavam. Eu identifiquei-me com eles, com a mentalidade do clube. Depois aquilo vai de geração em geração. Tive ainda aquela final [da Taça do Rei, em 1992] com o Real Madrid, em que ganhámos no estádio deles. Fiz um dos melhores jogos da carreira. Às vezes estou em Madrid e tenho de andar de chapéu se quero estar tranquilo [na rua]. Aqui em Portugal é mais por causa da televisão. Às vezes dizem-me 'Mi padre Futre'. Tenho o meu filho mais velho como administrador das minhas redes sociais, onde às vezes estou a brincar com o Real Madrid, sempre a defender o Atlético. Há muitos miúdos a verem isso. Quando eu digo algo, eles também fazem ruído, como alguns influencers.

Há uma coisa que me disseram há pouco tempo. Só há dois ex-jogadores que têm uma camisola à venda com o seu nome. É o [Francesco] Totti na AS Roma e eu no Atlético. Não sei bem se é verdade ou não… Para mim, é um orgulho ainda ter camisolas com o meu nome à venda, seja nas lojas oficiais ou na internet. Há também não sei quantos vídeos no YouTube e nas redes sociais. O meu filho diz que eu era o Maradona português e o Messi do Atlético. Talvez tenha razão. Eu era canhoto como eles. Cabelo? Também naquela altura. O Messi começou com o cabelo grande e foi cortando aos poucos.

Comecei a ser tão competitivo na televisão como quando jogava, a nível mental. Fui comentando coisas para ganhar nas audiênciasTerminada a carreira de futebolista, como começa a aparecer gradualmente no mundo da televisão?

O Miguel Ángel, um jornalista amigo que é ou era diretor da televisão do Real Madrid, entrou para a Telemadrid, ali entre 2004 e 2006. Eu tinha um grande confiança com ele nos meus tempos em Madrid. Ligou-me para eu ir fazer um programa de desporto, ao final da tarde. Fui lá e, no dia seguinte, ligou-me a dizer que ganhámos. Eu não estava a perceber. Ele disse logo que ganhámos às outras televisões nas audiências, que faziam desporto também naquele horário. Aquilo ficou-me tanto na cabeça, até que lhe liguei, uns dias, a perguntar como estavam as coisas [as audiências]. A resposta foi 'Perdi ontem, ganhei outros dias,...'.

Comecei a ir mais vezes aos programas e não parei até hoje. Estive em várias televisões, dado que não tinha nada assinado em exclusivo com ninguém. Veio depois o Europeu [2008] na Áustria e na Suíça. Aí fiz um contrato de exclusividade com a Al Jazeera, onde estive até 2012, com o Mundial [2010] pelo meio. Passava muito tempo no Qatar durante essa altura. Também fiz a Liga dos Campeões em Madrid. Foi uma grande experiência. Era e continua a ser um dos maiores canais do mundo. Depois vim para Portugal, para ser diretor desportivo [numa candidatura do Sporting], porque pensei que era o momento certo para voltar. Os meus pais já estavam mais velhos. Não ganhámos as eleições com o Dias Ferreira, mas o [Joaquim] Sousa Martins fez-me uma proposta para fazer um programa na TVI. Eu rescindi com a Al Jazeera e comecei a minha aventura em Portugal, com aquele grande programa que se chamava 'Noites de Futebol'. Era um programa único e genial. Tivemos números de audiência tremendos.

Voltando àquela conversa do "ganhámos"... A partir dali, comecei a ser tão competitivo na televisão como quando jogava, a nível mental. Fui comentando coisas para ganhar nas audiências. Qual a diferença que há entre os resultados de um jogo de futebol e a televisão? No futebol, nós no final do jogo sabíamos logo se vencemos, se perdemos ou se empatámos. Na televisão, tínhamos de esperar pelo dia seguinte, de manhã. Não há empates. Ou ganhas, ou perdes. A televisão deu-me vida, dá-me vida. Estou agora na TVI e no V+, onde vou entrar num projeto incrível. Estive também na CMTV, n'A Bola TV, no Porto Canal. Enfim, em muitos canais aqui em Portugal.

O que acha que o distingue para continuar a ser chamado às várias televisões do nosso país?

Para já, joguei nos três 'grandes'. Na televisão sou como sou aqui [na conversa]. Sou direto e nunca passo o limite de desrespeitar alguém. Tirando uma vez em que passei o limite e acho que tinha razão, nestes anos todos de trabalho na televisão. Para continuar, tem de haver audiência. Se não há audiência… É como num jogo de futebol, em que se não ganhas, não serves. Dá-me vida ir à televisão. Continuo na luta. Sei que, em Espanha, iria ter dias horríveis. Ia-me divertir, mas o conceito seria diferente. Já tive propostas para o 'El Chiringuito', pelo Atlético de Madrid, mas é um conceito completamente diferente do que faço de Portugal. Cada vez que saio de um programa, venho-me a rir para casa, no carro. Chego a casa e ainda me continuo a rir. Diverte-me. Houve aí um ano em que, sim, estive quase para dar o salto para Espanha, mas acabei por ficar por Portugal.

Notícias ao Minuto Antigo internacional português tornou-se um ícone do Atlético de Madrid, numa cidade em que ainda hoje 'divide' opiniões© Getty Images

A propósito daquele regresso a Portugal como possível dirigente, como referiu há pouco, muito se falou da mítica conferência de imprensa, ao lado de Dias Ferreira [à porta das eleições presidenciais do Sporting, em 2011], sobre os charters dos chineses. Ainda tem noção do impacto mediático desse momento?

Aquilo foi uma 'loucura'. Era o que eu queria… Eu fiz aquela conferência dois dias antes das eleições [em 2011], mas se calho em fazê-la quatro dias antes, podíamos ter vencido as eleições. Nós estávamos com 3% [nas sondagens]. O que eu queria fazer, fez um espanhol uns anos depois, que foi buscar um jogador da seleção chinesa para o Villarreal. 312 milhões pessoas viram a sua estreia, de apenas 12 minutos, na China, à frente da televisão. Há a história do Nakata… Não inventei nada. Eu ficava parvo e até dececionado ao ver malta a escrever, com responsabilidade nos jornais, que não percebia o motivo de ter falado no chinês. Entraram no ridículo. Eu entendia os miúdos e as avós, mas eu tinha de fazer ruído, pelo que ainda tivemos uns 18% dos votos. Perdemos dignamente, mas não inventei nada sobre os charters. Já tinha sido falado pelo presidente do Perugia [Luciano Gauci] quando foi buscar o Nakata ao Japão [1998]. Depois veio aquele coreano [Park Ji-sung] para o Manchester United, que foi uma 'loucura' em 'sponsors'.

Naquele programa da TVI24 [Maisfutebol, em 2011], levei um chinês [Lim] comigo e só souberam quem era na parte final. Era e é apenas o dono de uma loja no Montijo. Chamei-o e vesti-o como um jogador da bola. Disse-lhe para estar calado e acenar só com a cabeça, até que lhe disse para ele falar para a comunidade chinesa. Começou em português, depois em chinês. Uma palhaçada… [risos]. Toda a gente se riu, mas depois começaram a chegar chineses [ao campeonato português]. Foi uma 'loucura'.

Por essa altura, lançou o mítico livro 'El Português'. Explique-nos o motivo.

Já estava acordado. Surgiu aquele momento e assim foi. Já tinha a ideia há muito tempo. Adoro escrever. Escrevo desde 2004 para os jornais. Comecei na Marca, onde estive até 2019, mas também escrevi para A Bola e para o Record. Agora escrevo para o Mundo Deportivo. Antes não sabia escrever, nem sei… Escrevo em ibérico e depois tenho o meu filho mais velho, que traduz para português ou para espanhol. Só ele é que consegue entender as minhas palavras e o que quero dizer. Há um momento em que comecei também a escrever as minhas histórias. Dividi um livro só para Espanha, outro só para Portugal, sendo que escrevi com o Luís Aguilar, que é como se fosse da minha família. Houve pessoas que leram aquilo uma noite. Não conseguiram parar.

Regresso às novelas? A Cristina Ferreira [diretora de entretenimento e ficção da TVI] veio falar comigo. Não pude dizer que não. Não estava à espera...Já no campo da ficção, começou por participar na novela 'Laços de Sangue' da SIC (2011), onde fez de si próprio. Por que motivo?

Entrei nessa novela que ganhou um Emmy e depois na Rua das Flores (TVI, 2022). Também entrei num filme [7 Pecados Rurais] com o grande Nicolau Breyner. Já fiz de tudo… A nível de publicidade acho que já não me falta nada. Papel nas novelas? Foi uma grande experiência. Estava entre os principais atores. Aprendi e diverti-me muito. Estive a trabalhar com autênticos génios. Ao fazer de mim, tinha a liberdade de dar um toque no guião. Era eu, talvez um pouco mais cómico. Adoro rir, de mim mesmo. Na primeira [SIC] fiz de diretor desportivo de uma equipa feminina, isto depois do meu cargo de diretor desportivo. Foi um espetáculo, mesmo no meu discurso para elas.

O regresso às novelas, em 2022, na TVI, serviu para rejuvenescer um sonho?

Foi a Cristina [Ferreira]. Eu estava na CMTV, a quem estou muito agradecido. Deixaram-me sair para ter a oportunidade de viver esta grande experiência. Só que ela veio falar comigo. Não pude dizer que não. Não estava à espera. Afinal, era a grande e única Cristina Ferreira, a quem eu chamo de rainha.

Passaram três anos desde então. Se voltasse a ser convidado para uma novela, gostaria de ter um papel diferente de fazer apenas de Paulo Futre?

Isso é que eu gostava! O que me falta é isso. Vamos lá ver se eu consigo antes de ir lá para o outro mundo, não é? Estar num papel que não fosse eu… É o que me falta neste mundo da televisão e do entretenimento. Espero ter essa oportunidade, nem que seja um papel muito pequenino, desde que interprete outro homem ou outra pessoa que não seja eu... Agora vou entrar num projeto, após dois anos em que estive mais tranquilo. A TVI comprou os direitos dos jogos do Moreirense em casa. Vai ser uma 'loucura', com programas e peças. Irei muitas vezes a Moreira de Cónegos, vou-me divertir à brava. Sempre num registo sério. É uma grande aposta da TVI e é um orgulho que contem comigo para estar neste projeto.

Que tipo de papel gostaria de ter?

Lembro-me que fiz de mau, de Al Capone, no videoclipe do David Carreira [Falling into you, em 2011]. Foi um grande sucesso. Acho que era mais nessa linha. Ser mau ou vilão é mais difícil saber. Deve ter sido a primeira vez que fiz algo que não tinha nada a ver comigo, nas gravações.

Para além de comentador de estúdio, também já comentou jogos ao vivo e em direto. É algo que irá acontecer de forma mais frequentemente?

Já comentei alguns jogos, mas sinceramente não gosto muito. Há gente muito melhor do que eu, não me sinto bem. Não é a minha praça. As minhas virtudes em relação ao jogo são boas, antes e depois. Se for durante [o relato], posso-me desenrascar, principalmente num jogo de Portugal. É mais emoção do que outra coisa, mas sinto que não é o meu forte. Não me divirto tanto, mas se tiver de fazer, faço.

Teve a oportunidade de, ao lado de Joaquim Sousa Martins, entrevistar quatro jogadores da seleção nacional no programa 'Os convocado'. De que forma o programa o cativou?

Foi logo no início… Comecei na TVI com ele, no 'Noites de Futebol', é muito cómodo. Fazemos uma grande dupla. Entrevistámos grandes craques da seleção [Bernardo Silva, Bruno Fernandes, João Félix e Rúben Dias]. Recordo-me que, em 1987, não havia ninguém [português] a ir para um clube das quatro [principais] Ligas. O primeiro fui eu, com êxito. Abri as portas para quem veio atrás de mim. Hoje, já temos mais de 300 jogadores [lusos] lá fora. Falámos os dois nisto logo no primeiro [episódio do] programa. Fui muito 'culpado' por esse número.

Tínhamos uma mentalidade muito frágil. Houve sempre grandes craques em Portugal, com muito talento. Em que é que eu abri as portas? Nunca mais fizeram as perguntas que me fizeram a mim. Os jogadores portugueses já tinham raça [aos olhos dos outros]. Também os clubes portugueses começaram a vender. É só comparar antes de 1987 e depois de 1987. Rompi a barreira do jogador português frágil. Voltando ao programa, foi uma experiência única e voltava a repetir. Se faltou Cristiano Ronaldo? A ideia da TVI e da Prime Vídeo passava por aqueles quatro jogadores, de top mundial.

Notícias ao Minuto Da publicidade à ficção e ao entretenimento, Paulo Futre, aos 59 anos, já fez um pouco de tudo após ter terminado a carreira de futebolista.© Instagram

Tem curiosidade de entrar num outro registo de programas de entretenimento, como por exemplo um reality show como o Big Brother?

Os quantos convites que já tive para isso, em Portugal e em Espanha… Não fui, isso já não é para mim. Respeito toda a gente, mas não é a minha onda. Ainda há pouco tempo estive lá fechado [no Big Brother Famosos 2, em 2022] um dia com eles. Bastou… Lembro-me que também já fui júri nos programas de dança da SIC [Toca a Mexer, em 2012], com a Diana Chaves, em que saí da minha linha de desporto. Nas novelas, mesmo que as situações não sejam reais, não é muito difícil porque sou eu [no papel].

Sente que, de alguma forma, a emoção na televisão 'compensa' a saudade dos relvados?

Quando me retirei, na verdade já me tinha retirado antes. Saí do West Ham em finais de 1996 e voltei a jogar outra vez em julho de 1997 [no Atlético de Madrid]. Quando me retirei na segunda vez já não me custou nada. Aquilo que me custa ainda hoje e até morrer é mesmo estar perto da relva. Se entro em campo ou num estádio, o cheiro da relva lembra-me coisas, tal como os pítons das chuteiras de futebol. Quando joga Portugal, nas grandes competições, aí dava tudo para voltar. O mesmo nos dérbis entre Real Madrid e Atlético Madrid. Nesses dias dava tudo para voltar a estar dentro do relvado. Desde que me retirei, é sempre uma guerra que está aqui dentro de mim.

Já não se imagina fora do ecrã?

Há de chegar o dia. Isto deixa-me feliz. A televisão dá-me vida, mas não é para sempre. Não sei se o meu futuro passará ainda por Madrid. Continuo no futebol, mas ainda na 'sombra'. Talvez volte mais forte ainda, não sei… Por agora, estou feliz.

O jogo do 'Prefere...?'

Prefere estar no mundo do entretenimento ou no mundo do desporto?

Na televisão já estou em desporto. A minha vida é desporto, é futebol, mas se não prestasse, não estava tantos anos na televisão.

Prefere ser reconhecido no futuro por aquilo que fez na televisão ou pelo que fez como futebolista?

Na televisão podem haver milhões como eu. Dentro de campo, não. Serei sempre recordado pelo que fiz no campo.

Prefere ganhar um campeonato pelo Atlético de Madrid ou vencer um programa televisivo?

Ganhar um campeonato do Atlético de Madrid para mim é tudo, além de que já ganhei um Emmy numa novela.

Todas os meses o Desporto ao Minuto apresenta-lhe uma nova edição da rubrica 'Eu "show" de bola', em que se pretende perceber melhor o que faz alguém 'viajar' do mundo desportivo para a arte do entretenimento.

Leia Também: "Disse que seria presidente do Sporting, cumpri. Agora quero outra coisa"

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