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"Tiveram de esconder a chave para o Cristiano Ronaldo não ir ao ginásio"

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o treinador luso-moçambicano Luís Gonçalves recordou os 12 anos em que esteve ao serviço da formação do Sporting, período no qual se cruzou com alguns dos principais craques das camadas jovens dos verde e brancos. De coordenador a treinador adjunto, passando ainda por treinador, o técnico deu a conhecer alguns pormenores do início da carreira de Cristiano Ronaldo.

"Tiveram de esconder a chave para o Cristiano Ronaldo não ir ao ginásio"
Notícias ao Minuto

07:30 - 01/04/24 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

Passou 12 anos no Sporting. Desde que de lá saiu, há 13 anos, já correu meio mundo e passou por quatro países. Da Arábia Saudita à China, passando por Angola e também por Moçambique, Luís Gonçalves é um nome bem conhecido do futebol português.

Depois de passagens pela Associação da Torre e pelo Estoril, foi junto ao antigo Estádio de Alvalade que o técnico, agora com 52 anos, deu início a uma carreira de sucesso na formação leonina que, mais tarde, seguiu para aventuras a nível sénior.

Entrou no Sporting em 1999, e na época de 2001/2002 era treinador adjunto na equipa B. Foi na formação secundária dos verde e brancos que se cruzou com Cristiano Ronaldo, um dos muitos nomes que teve a oportunidade de orientar e potenciar nas camadas jovens dos leões. E não faltaram títulos neste percurso de leão ao peito.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Luís Gonçalves diz guardar "muitos momentos vividos na relação com os jogadores e nas conquistas" ao serviço do Sporting. Apesar de reconhecer a importância dos quatro títulos de campeão nacional de iniciados que tem no currículo, o técnico, de 52 anos, sublinha que o mais relevante no processo de formação é ajudar os jogadores a chegar ao alto rendimento.

O treinador de iniciados estava a torcer pelo treinador dos juniores. E isso não acontece em todo o lado

Recuemos ao tempo em que o Luís esteve no Sporting. Foram 12 anos de leão ao peito entre coordenador, treinador-adjunto e treinador. O que guarda na memória dessa altura?

Guardo muitos momentos vividos na relação com os jogadores e nas conquistas que eles foram fazendo ao longo do tempo. Também havia uma excelente relação entre todos os treinadores da formação. Em 1999 comecei no antigo Estádio de Alvalade e em 2002 tive a felicidade de inaugurar a Academia. Todos os treinadores da formação tinham uma ligação muito forte, era uma imagem de marca. O treinador de iniciados estava a torcer pelo treinador dos juniores. E isso não acontece em todo o lado. Era um ambiente profissional muito saudável, exigente e com ambição. Procurámos sempre os melhores resultados, mas isso nem sempre significava ganharmos o campeonato, como eu fiz nos iniciados por quatro vezes. As melhores recordações de todas são quando vemos os jogadores a atingirem o alto rendimento. É para isso que o futebol de formação trabalha.

Nesse tempo em Alvalade, orientou um ainda jovem Cristiano Ronaldo. Como é que ele era na altura?

Conheço o Cristiano Ronaldo desde os seus 12 anos. Acompanhei sempre muito o trabalho que foi sendo feito com ele e trabalhei diretamente com ele na equipa B. Estava naquela fase de transição depois de um ano nos sub-17. O mister László Bölöni queria colocá-lo logo na equipa A, mas ele anda não estava fisicamente preparado para isso. Fez uma primeira passagem pela equipa B e o que mais me impressionou foi a intensidade que ele colocava em todos os exercícios que fazia, desde o mais fácil ao mais complexo. Ele fazia os 'skippings' com uma velocidade e intensidade brutais. É um perfecionista e sempre quis ser o melhor. Era sempre o primeiro a chegar ao treino e o último a sair. Há aquela famosa história já na Academia, depois de ter vivido numa pensão para os jogadores que chagavam de fora, em que os funcionários tiveram de esconder a chave do ginásio porque ele escapulia-se de noite para ir treinar. Os responsáveis do treino físico, como o mister Carlos Bruno agora no Al Hilal, tinham de falar com ele e dar-lhe conselhos para moldar aquela ambição e vontade que tinha de ser o melhor. Ainda hoje é essa a imagem que transmite.

E perspetivava a carreira que ele construiu até aos dias de hoje?

Para ser honesto e sincero, as pessoas imaginam sempre o melhor quando vêm um jovem jogador com bastante potencial e com rendimento. Mas penso que ninguém tenha projetado a carreira que o Cristiano Ronaldo teve. Ele tem uma carreira fantástica, quebrou inúmeros recordes e continua a jogar ao alto nível. Claro que todos previam que, se tudo corresse dentro da normalidade, ele iria ter uma excelente carreira. Passaram-me pelas mãos jogadores que podiam chegar lá acima, mas depois, por um fator ou outro, não chegaram lá. Agora o Cristiano Ronaldo chegar lá desta forma… Se alguém tinha previsto isto é alguém que vê as coisas muito para lá do normal.

Notícias ao Minuto Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo, dois jogadores que foram treinados por Luís Gonçalves© Getty Images

João Mário, Cristiano Ronaldo, Ricardo Esgaio, Ricardo Quaresma, Eric Dier, William Carvalho, Daniel Podence, Hugo Viana… Sente-se orgulhoso por ter estado ligado a um dos períodos de maior sucesso da formação do Sporting?

Sim, claro [que me sinto orgulhoso]. Quem é treinador nas camadas jovens tem como principal propósito contribuir para a formação de um jogador que mais tarde venha a singrar ao alto nível. Todos os jogadores enumerados, e tantos outros, são um motivo de orgulho para mim que também contribui de alguma forma para isso. Pertencemos a uma máquina. Estou convicto de que os valores e carácter que transmiti aos jovens na altura trabalharam comigo, além das questões técnicas e táticas, são uma componente fundamental.

E quando a esse sucesso nos jogadores vem aliado à conquista de títulos como os quatro nos nacionais de iniciados que somou…

Os títulos são importantes, mas não o mais importante na formação. Contudo, é evidente que, estando numa competição qualquer e em que nível for, estamos para ganhar. Fico satisfeito por alcançar esses títulos. Tenho algumas distinções, como o prémio Cândido Oliveira, José Maria Pedroto e Fernando Vaz, entregues na sequência do meu trabalho. Quando trabalhamos, gostamos de ver reconhecido o nosso trabalho. Mas os títulos mais importantes na formação são mesmo os jogadores.

A sua saída do Sporting aconteceu em 2011 na sequência das eleições. Saiu por vontade própria depois de tantos anos de sucesso?

Sai por vontade da direção. Houve eleições no Sporting, uma reestruturação e propuseram-me a saída. E assim aconteceu. Na altura senti um amargo de boca pela forma como saí, mas é natural pelos muitos anos que estive ligado ao Sporting. Quando trabalhamos com pessoas mais jovens e damos muito do nosso tempo para que essas pessoas atinjam os seus objetivos… Mas já passaram 12 anos. Foi importante também porque me permitiu seguir outros caminhos a nível profissional, ter novas experiências e abrir novos horizontes. Faz parte do passado e foi um tempo muito bonito em que fizemos parte de um período dourado do Sporting.

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