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"Formação do Benfica está preparada, mas é preciso cuidado a integrá-la"

Agora treinador-adjunto no Lille, Jorge Maciel iniciou a campanha que terminou com a derrota do Benfica na final da Youth League na época 2019/20. Em conversa com o Desporto ao Minuto, o técnico português destacou a qualidade da formação encarnada, mas também o grande espírito de amizade que reina entre os mais novos.

"Formação do Benfica está preparada, mas é preciso cuidado a integrá-la"
Notícias ao Minuto

07:44 - 27/04/22 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

Foi feita história na segunda-feira em pleno relvado do Estádio Colobray, na cidade de Nyon, na Suíça. Contra algumas das expectativas iniciais, o Benfica vulgarizou o Salzburgo na final da UEFA Youth League, goleando a formação austríaca por 6-0 para conquistar o primeiro título nesta competição.

Se, para muitos, o Salzburgo era o favorito a vencer a final, muito por causa de já contar com este troféu no seu historial, a verdade é que o Benfica dominou o encontro do início ao fim, deixando a sorrir toda a estrutura do futebol de formação encarnado, mas também os jogadores, antigos jogadores e até treinadores que já não estão ligados ao clube da Luz. É o caso de Jorge Maciel, que trocou Lisboa por Lille, em França, na temporada 2019/20.

Em conversa exclusiva com o Desporto ao Minuto, o treinador-adjunto do conjunto francês, antecessor de Luís Castro no comando técnico da equipa sub-19 do Benfica, mostrou-se radiante por esta conquista inédita da equipa lisboeta, ele que esteve no início da campanha que terminou com a derrota do Benfica na final da UEFA Youth League na época 2019/20.

"Esta é mais prova da regularidade do Benfica. Ganhar uma final é fantástico, mas chegar a quatro finais em oito edições [da UEFA Youth League] prova muito daquilo que é uma organização e, fundamentalmente, uma visão a longo prazo do processo de formação. A Youth League é uma prova espetacular, uma experiência muito interessante para treinadores e jogadores, sobretudo para quem quer viver o passo seguinte como é estar numa equipa principal e viver coisas importantes. Eu, por exemplo, joguei com o Lyon pelo Benfica e já no Lille defronto o mesmo Lyon e tinham alguns jogadores que eu já tinha encontrado", começou por dizer Jorge Maciel.

"É brutal o Benfica conseguir sistematicamente marcar presença nas final-four e nas finais. Esta vitória é mais especial, claro, porque faltava isso. Os percursos são bons, mas ganhar é mais importante. Esta vitória atesta muito do valor e do que é o nível individual, mas também coletivo, das equipas do Benfica nesta prova. Também confirma a grande ambição e visão do Benfica que, mais do que competir internamente, é ter competição a nível internacional, a equivaler-se aos mais fortes lá fora. Ontem [segunda-feira] isso ficou cabal com uma vitória por 6-0 contra uma empresa que é a Red Bull. Foi uma vitória contundente", acrescentou.

Notícias ao Minuto Jorge Maciel esteve na época 2019/20 ao serviço do Benfica© Reprodução Site Benfica   

A importância da cultura do clube

Questionado sobre se esta vitória na UEFA Youth League servirá como uma motivação para outros jovens, Jorge Maciel destaca o grande espírito de amizade e a competição saudável que reina entre os mais novos.

"Só quem ainda tem algum contacto com os jogadores e a malta que faz parte estrutura percebe que há uma competição muito bonita dentro da formação do Benfica. Dentro do campo dão o máximo nos treinos, mas, se for preciso, uma hora depois estão a almoçar. Há um espírito muito difícil de conseguir. Há uma fluidez tão grande no que é a cultura do clube que acaba por ser quase tácito essa ambição que vai passando de uns para os outros. O sentimento mais agradável desta conquista é ver que é uma vitória de muitas gerações", prosseguiu Jorge Maciel.

"Digo isto porque fico muito contente por ver pessoas como o Zé Gato [José Henrique] viver aquele momento, que foi uma glória do Benfica, ou um Jorge Cordeiro, treinador da formação do Benfica, mas também ver miúdos que jogaram as finais anteriores, como o Pedro Álvaro, todos muito contentes com isto. Até vi nas redes sociais jogadores seniores a festejar. Todos viveram isto como uma conquista dos amigos e do clube que gostam. E é difícil de criar este espírito de clube, de pertença. Ninguém tem inveja dos outros. É fantástico ver toda a estrutura do Benfica muito feliz. Eu estou muito contente com isto, mas esta conquista deve-se ao treinador Luís Castro que alcançou um feito brutal ao reviver uma final e trazer um título", atirou.

Notícias ao Minuto Os festejos após a conquista da Youth League© SL Benfica  

Dificuldades em segurar os jovens em Portugal

Jorge Maciel considera que este título devia abrir portas a mais jovens da formação na equipa principal do Benfica, mas não acredita que isso aconteça, sobretudo pelos salários pouco competitivos que os clubes nacionais oferecem, em contrapartida com o que se pratica lá fora.

"Muito romanticamente eu diria que isso é verdade, mas não posso ser romântico e dizer que o Benfica deve guardar estes miúdos. Temos de ser muito concretos. Claro que o Benfica deve apostar na formação, mas o Benfica é um clube português e que não tem os mesmos meios que outros clubes têm para seduzir os miúdos com milhares de euros em salários e que apresentam propostas fundamentais para os clubes. Isso é negativo, mas também serve para valorizar os jogadores portugueses. Nos últimos quatro anos, temos os jogadores que mais impacto tiveram nas equipas da Premier League: o Diogo Jota, no Liverpool, o Rúben Dias no Manchester City e o Bruno Fernandes no Manchester United", sublinhou Jorge Maciel, que apontou que o grande problema para a retenção destes jovens valores está na Liga Portugal.

"O grande problema não são os clubes, mas o patamar de competitividade da nossa Liga. O nível não é suficientemente atrativo para que os jogadores fiquem. Não temos direitos televisivos que nos permitam pagar salários mais caros e os jogadores também têm pensar no futuro. O lado de ter uma segurança financeira desde muito cedo com bons contratos é também um aspeto que pesa. Adoraria que daqui a três ou quatro anos esta equipa do Benfica estivesse a lutar pelo título do campeonato português, mas isso poderá não acontecer. Forma-se muito bem em Portugal, mas é difícil reter esse talento. E eu sou um exemplo disso", sustentou o treinador português.

"Depois há outra coisa. Para além do espaço que eles não têm, temos de perceber que a pressão de jogar no Benfica é enorme. Mais importante do que estrear jogadores na equipa A, o mais difícil é sedimentá-los lá. É difícil para o Gonçalo Ramos intrometer-se no ataque contra internacionais uruguaios, suíços e ucranianos, o nível é muito alto, assim como a expectativa e a cobrança. E isso pode provocar maior perda de jogadores do que propriamente rendimento. O que o treinador da equipa A quer é rendimento, independentemente de apostar ou não na formação, e se não ganha, não está de acordo com os pergaminhos do clube e a ambição dos adeptos", disse, sublinhando que nem todos os jogadores irão ter oportunidade nos seniores.

"Disse muitas vezes aos miúdos que nem todos tinham de ser jogadores do Benfica. Fazia-os ver que eles tinham de ser jogadores de futebol se essa era a paixão que tinham. Dizia-lhes também que tinham de encontrar um espaço competitivo que lhes permitisse ter prazer a jogar e crescer, sem ter de fazer todo o patamar da formação. Isto não vai ser verdade para todos. Ir fora acaba por dar uma almofada de conforto que lhes permite valorizarem-se e chegar mais preparados", vincou Jorge Maciel.

Notícias ao Minuto Gonçalo Ramos é um dos jovens da formação na equipa principal© Getty Images  

Jovens preparados para ser opção e os mais promissores

A vitória na UEFA Youth League levantou, desde logo, a questão da chamada de alguns dos jovens aos treinos da equipa principal na próxima pré-época. Jorge Maciel acredita que os jogadores estão preparados, mas tudo dependerá da oportunidade que o treinador do Benfica lhes der.

"A maioria deles está pronta pelo nível de treino e bagagem que têm. À escala relativa da idade deles, eles são muito bons e têm um percurso que lhes permite dar resposta. Os jovens da formação têm um exigência e brio no seu trabalho na formação que em França não encontro tanto. Preparados para estar na equipa A estão, mas para se afirmar ninguém pode dizer. Qualquer equipa que renda e esteja coletivamente coesa tem maior facilidade em integrar um jovem. Este ano não vimos nenhum jogador do Sporting afirmar-se, ao contrário do que aconteceu no ano passado. Depois temos jogadores fora de série como o Paulo Bernardo, o Morato, o João Ferreira ou o Pedro Álvaro. Mas chegar, ter espaço, maturar e conseguir um conjunto de jogos com êxito não é fácil. A integração destes jovens tem de ser feita com algum cuidado, sendo preciso dar-lhes uma almofada de conforto como o FC Porto está a fazer. Lembro-me do caso do Renato Sanches, que marcou na estreia contra a Académica, mas isso não acontece com todos os jogadores", afirmou Jorge Maciel.

Questionado sobre quem poderão ser os jovens que podem mostrar maior qualidade quando forem chamados a participar na equipa principal, Jorge Maciel destacou que existe grande qualidade na formação do Benfica, mas aproveitou para apontar nomes como Tiago Gouveia ou Diego Moreira.

"Felizmente o Benfica tem 10 ou 20 jogadores que jogariam em qualquer equipa da I Liga. Para mim, o Tiago Gouveia é um jogador interessante, que pode jogar em diferentes estruturas e tem muito golo. O Úmaro Embaló também tem potencial enorme, mas já não é o timing dele neste momento. Gosto muito do Rafael Rodrigues que jogou a final, é um lateral-esquerdo de grande qualidade. Mas é difícil fazer este tipo de perspectiva porque depende muito do que os treinadores querem. O Diego Moreira é um jogador fora de série, o Ndour também me parece ser muito interessante e concorre para a mesma posição com o Rafael Brito e o Martim Neto, todos jogadores de um nível brutal. O Henrique Araújo e o João Resende também têm uma margem de progressão enorme e vão ter um nível muito interessante. Felizmente o Benfica tem dois ou três jogadores por posição que têm talento e o que importa é olhar para isso e não para o que lhes falta", finalizou.

Leia Também: Vingança serve-se com goleada. Benfica vence Youth League pela 1.ª vez

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