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A nova vida do Oriental: "O lugar deste clube é na II Liga"

Carlos Vitorino é o novo presidente do emblema lisboeta e pretende recuperar a glória de outros tempos. Das eleicões em tempo de pandemia ao fardo deixado pelo 'Jogo Duplo', a direção do Oriental revela os planos para um futuro muito ambicioso.

A nova vida do Oriental: "O lugar deste clube é na II Liga"
Notícias ao Minuto

07:01 - 17/07/20 por Francisco Amaral Santos

Desporto Exclusivo

O Clube Oriental de Lisboa dispensa apresentações para quem segue o futebol português. Longe do máximo escalão há alguns anos, o emblema lisboeta procura, por estes dias, recuperar o brilho de outros tempos. Com eleições realizadas em pleno tempo de pandemia, os sócios do Oriental não quiseram deixar de participar na decisão de escolher o novo líder. Carlos Vitorino foi o nome escolhido pelos adeptos e o agora novo presidente deixa a promessa de querer recuperar as alegrias do passado. 

O Desporto ao Minuto quis conhecer as ambições do Oriental nesta nova etapa do clube e deslocou-se até à sede, no Braço de Prata, em Lisboa, onde foi recebido por Carlos Vitorino e Joaquim Brás, diretor para o futebol. 

Numa longa conversa e na qual foram abordados diversos temas, a nova direção do Oriental deixou várias certezas quanto ao futuro do clube, ao mesmo tempo que lamentou alguma desigualdade que acredita existir no Campeonato de Portugal. 

Com o final de época antecipado, por decisão da Federação Portuguesa de Futebol, o Oriental já prepara a nova temporada e o plantel já recebeu vários reforços com o objetivo de elevar o nível competitivo da equipa. 

"Os adeptos podem esperar que haja trabalho. Há muitas coisas em que temos de atuar. Na parte desportiva, e começando pelos seniores, queremos que o Clube Oriental de Lisboa regresse aos campeonatos profissionais. É esse o caminho que queremos fazer através do plantel que estamos a construir", começou por dizer o presidente Carlos Vitorino, que também quer apostar em outras vertentes para melhorar o clube.  

"Há algumas parcerias em análise e queremos criar um novo parque desportivo com o lançamento de um segundo campo, que é fundamental. Numa fase posterior, pretendemos implementar o pavilhão porque temos outras modalidades e olhamos para elas com toda a atenção. Também temos de reorganizar a sede e temos em andamento a passagem do ginásio, que está no salão nobre, para o andar de baixo, o que vai permitir aumentar o número de atletas na ginástica. Queremos também abrir o bar do Oriental ao lado. O salão passará a ser uma fonte de rendimento, porque o Oriental precisa de fontes de rendimento", explicou Carlos Vitorino, ao mesmo tempo que admite que um dos grandes objetivos do Oriental passa por "duplicar o número de sócios".

Eleições em tempo de pandemia

Se as eleições num clube de futebol são sempre sinónimo de muito trabalho e organização logística, imagine-se o que é realizar um ato eleitoral em plena pandemia. Ora, foi isso mesmo que aconteceu no Oriental. A data das eleições até foi adiada, mas acabaram mesmo por acontecer e Carlos Vitorino faz um balanço muito positivo dadas as circunstâncias atuais

"Isto foi tudo acautelado. As eleições foram adiadas, e do meu ponto de vista até foram adiadas para demasiado tarde, mas tudo decorreu dentro das normas estabelecidas pela Direção Geral da Saúde. O presidente da Assembleia teve o cuidado de que essas normas fossem cumpridas, havendo regras para a entrada na sala das urnas. Foi tudo normal, mas, claro, torna-se sempre mais difícil fazer eleições em tempo de pandemia. Aliás, com estas duas listas a concorrer, nunca houve tanta afluência às urnas. Os sócios vieram votar massivamente e a prova disso está na receita de quotas. Havia muitos sócios com quotas em atraso e para poderem votar tiveram que regularizar a sua situação. A afluência foi muito boa em plena pandemia", destacou o novo presidente do emblema lisboeta. 

Época com final antecipado

A realização das eleições decorreu numa altura em que a época do Oriental já tinha sido terminada por conta da decisão da Federação Portuguesa de Futebol. Alguns clubes do Campeonato de Portugal fizeram questão de contestar tal decisão e até houve lugar a manifestações em plena Cidade do Futebol. Para o Oriental a decisão até foi positiva, uma vez que a posição que ocupava na tabela dificilmente iria sofrer alguma alteração significativa. Ainda assim, Carlos Vitorino percebe a frustração sentida pelos clubes adversários. 

"Para o Oriental foi bom acabar mais cedo porque ajudou a organizar as coisas e como estávamos a meio da tabela não iríamos subir, mas também não iríamos descer. Agora, admito que clubes que andaram ali no topo e estavam a espreitar o playoff acabaram por morrer na praia. Acho que deveria ter sido feito o playoff. Entendo que fazer 60 pontos na Serie A é diferente de fazer 60 pontos na Série D. Teria sido mais justo realizar-se o playoff entre as séries", defendeu. 

Investidor? 'Não, obrigado'

Numa altura em que algumas equipas do terceiro escalão do futebol português têm apostado na entrada de investidores estrangeiros, o Oriental recusa liminarmente entregar a gestão do futebol profissional a "um corpo estranho". Carlos Vitorino garante que o clube atravessa uma situação financeira estável, ainda que admita que teve de recorrer ao layoff por conta da crise financeira provocada pela pandemia do novo coronavírus

"O Oriental é dono de uma situação financeira limpa. O clube não tem dívidas com a Segurança Social, não tem dívidas com as Finanças. Não há jogadores ou funcionários com salários em atraso. Quero que as contas do clube sejam contas equilibradas. Estamos aqui para honrar os nossos compromissos. Não quero passar linhas vermelhas e sei até onde o clube pode ir. Os jogadores sabem que os compromissos assumidos pela direção vão ser cumpridos", garantiu Carlos Vitorino, antes de recusar a entrada de um investidor.

"O Oriental nunca esteve preso a corpos estranhos e isso é de salutar. Os nossos orçamentos para o futebol são feitos com base nas receitas próprias. Não estamos à espera de nenhum investidor marroquino, inglês ou chinês. Somos autónomos e por isso nunca somos candidatos a subir e os outros são. As regras têm de ser iguais para todos. Rejeitamos completamente a entrada de um investidor. Nós queremos ter parceiros, mas aqueles parceiros que entram no clube para gerirem o futebol sénior, isso está vedado. Os sócios já expressaram em Assembleia que não queriam corpos estranhos", frisou.

Notícias ao MinutoJoaquim Brás, diretor para o futebol, e Carlos Vitorino, presidente, receberam o Desporto ao Minuto na sede do Clube Oriental de Lisboa. © Notícias ao Minuto

Um fardo que pesa 

O escândalo do 'Jogo Duplo' ainda paira sobre o Oriental. Carlos Vitorino acredita que as pessoas ficaram com uma ideia errada sobre o caso, uma vez que o Oriental foi uma "vítima" e não o "clube corrupto". Limpar a imagem do Oriental parece ser, assim, um dos grandes desafios desta nova direção.

"As pessoas ao início não perceberam e pensaram que o Oriental era um clube corrupto, o que não é verdade. O Oriental foi uma vítima e é assistente no processo. Foi saqueado pelos próprios funcionários. Quem transmitiu essa ideia, que deixou as pessoas confusas, foi a própria Comunicação Social porque as imagens associadas eram da sede e do campo do Oriental. O que deviam ter mostrado era as casas dos jogadores, os carros dos jogadores e os próprios jogadores! Sempre associaram a imagem do 'Jogo Duplo' ao nosso campo e à nossa sede. As pessoas mais distraídas pensaram que o clube estava associado a uma fraude, o que não é verdade. Já recorremos, já ganhámos em algumas frentes, já vimos o Leixões ser condenado, já vimos algumas indemnizações que ainda têm de ser pagas ao clube... Mesmo assim, vamos recorrer porque é insuficiente aquilo que nos estão a dar. Nem que seja para limpar mais a nossa imagem. Vamos levar isto até às últimas consequências. Nós próprios temos o dever, enquanto direção, de colocar o clube novamente no patamar onde foi saqueado", explicou, antes de deixar claro que o caso foi muito prejudicial para a vida do clube.

"Queria terminar este mandato com a equipa principal nos escalões profissionais. É extremamente difícil gerir este clube neste patamar, no Campeonato de Portugal. As receitas são muito poucas. Aliás, não podemos ficar no Campeonato de Portugal. O nosso foco é a II Liga, o Oriental é um clube de II Liga. Pela nossa história, pela nossa posição geográfica… É lá que devemos estar. E se não fosse o 'Jogo Duplo', se calhar ainda estávamos lá e não tínhamos tantas dificuldades em termos financeiros", lamentou. 

Quem também teve de lidar bem de perto com as consequências do escândalo foi Joaquim Brás. O agora diretor para o futebol desempenhava funções de fisioterapeuta naquela altura e não esquece o que foi dito sobre o Oriental durante muito tempo, até mesmo quando o clube se deslocava aos campos dos adversários.

"Foram momentos que passei e não quero voltar a repetir. Por exemplo, e disse isto em pleno tribunal, chegar a um campo no ano seguinte e ouvir: 'Lá estão os corruptos'. O que não era verdade, o Oriental é que tinha sido prejudicado. Não quero mais pensar nessa realidade", recordou Joaquim Brás. 

Aposta na formação mas com uma cautela 

O atual plantel do Oriental já está a ser construído a pensar no futuro. Com vários jovens jogadores e outros tantos experientes, a nova direção pretende uma aposta a curto/médio prazo nos talentos da formação. No entanto, para que tal aconteça da forma mais benéfica para o clube, há questões que têm de ser resolvidas e trabalhadas.

"A construção do plantel é feita numa mistura de juventude e jogadores com experiência. É nisso que acreditamos: ter jogadores jovens e haver experiência no plantel. Penso que estamos a criar um plantel equilibrado. O que eu gostava de ver implementado no futuro é o aparecimento de jogadores na equipa principal oriundos da nossa formação. Mas há muito trabalho para fazer e é nisso que vamos continuar a apostar. É importante a nossa certificação, para que nos possamos salvaguardar em futuras transferências. No fundo, não podemos ficar a olhar para as mãos vazias. Com a matéria-prima e a tal certificação, poderemos ver jovens da formação na equipa principal e, claro, será outra fonte de rendimento para o clube. Não vale a pena contratar fora quando temos boa matéria dentro de casa", argumentou Carlos Vitorino. 

Dois pormenores que ajudam a contar a história de um clube "eclético"

Joaquim Brás não esconde que abraçou um novo desafio no Oriental por pura paixão ao clube. O dirigente do emblema lisboeta destaca os mais de 30 anos que viveu ao serviço do Oriental e revela-se ambicioso nas ideias que quer implementar nos próximos quatro anos. 

"Pensamos em patamares superiores e para isso é preciso criar alicerces e estofo de campeão. Estou no clube há 30 e tal anos e agora entendi que, depois da minha reforma, posso ajudar o meu clube. A equipa de agora foi feita para horizontes largos. Enquanto homem do futebol, não concordo com o Campeonato de Portugal. Um campeonato tem de ter verdade e todos têm de ter as mesmas armas. No Oriental joga-se o jogo da verdade. Comigo à frente do futebol é assim que vai ser. Estou plenamente convicto de que o Oriental vai fazer a sua caminhada com muita consistência e chegar aos patamares desejados pelos sócios", frisou.

Joaquim Brás também não deixa de destacar dois pormenores que fazem parte de um clube que diz ser "eclético." O Oriental foi o primeiro clube em Portugal a usar números nas camisolas dos jogadores e também foi o clube onde Costinha, antigo internacional português, deu os primeiros passes como profissional. Estes são, assim, dois elementos que ajudam a explicar a mística do Oriental. 

"Quero profissionalizar o clube e dar aos atletas a mística do Oriental. O clube será sempre grande pela sua mística. O Oriental quer ganhar sempre, nem sempre será possível, mas o pensamento tem de ser esse", rematou. 

Carlos Vitorino e Joaquim Brás são assim os dois homens fortes do Oriental e partilham a ambição de devolver o clube de Lisboa à II Liga. Para tal não deixam de apontar as várias melhorias a ser feitas, mas também revelam uma constante preocupação com o futuro e com o bem-estar dos atletas de todas as modalidades. Daqui a quatro anos, no final deste mandato, ambos querem olhar para trás e ter a certeza de que fizeram tudo o que estava ao alcance, deixando o Oriental com melhores condições de trabalho, muito mais "profissionalizado" e , claro, no lugar que entendem ser o do clube: o segundo escalão do futebol português. 

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