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Diferentes nacionalidades partilham palco, nos 150 anos do Trindade

A busca por um lugar idílico onde construir uma vida melhor, é o ponto de partida para o espetáculo de celebração dos 150 anos do Teatro da Trindade, que junta lisboetas de diferentes nacionalidades numa linguagem comum.

Diferentes nacionalidades partilham palco, nos 150 anos do Trindade
Notícias ao Minuto

20:40 - 16/11/17 por Lusa

Cultura Aniversário

"Todo o mundo é um palco", nome do espetáculo encenado por Marco Martins e Beatriz Batarda, convoca pessoas de todo o mundo, residentes em Lisboa, para o palco, criando uma pequena comunidade que partilha o mesmo espaço, mas que também já partilhava a mesma cidade, Lisboa.

São vinte lisboetas, de diferentes etnias, culturas e línguas, que, por diferentes razões, rumaram a Portugal, e particularmente a Lisboa, em busca de uma vida melhor, explicaram à Lusa os encenadores.

Tal como na peça de Shakespeare "As you like it" ("Como queiram"), onde há uma fuga para a floresta, para construir uma nova comunidade num sítio que se pretende idílico, especificou Beatriz Batarda.

O próprio título do espetáculo -- "Todo o mundo é um palco" -- é uma citação retirada da peça de Shakespeare e surge "não apenas da variedade de nacionalidades em palco, mas ainda antes disso, quando nós pensámos olhar para a cidade como um lugar de fuga ou de encontro, uma espécie de lugar idílico onde se reúnem estas pessoas", acrescentou.

E este foi o ponto de partida para o espetáculo, avança Marco Martins: "as razões que trazem as pessoas para a cidade, os sonhos que têm, as dificuldades com que se deparam. Isto desenvolveu-se para uma coisa muito maior".

Foi um "processo construído do zero e que não nasce de uma ideia muito elaborada, apenas da ideia de verter o olhar para o público em vez de olhar para dentro do teatro", disse Beatriz Batarda.

Deu-se então início, em janeiro, a um processo de investigação, com entrevistas filmadas com várias pessoas abordadas na rua. Foram recolhidas cerca de 180 entrevistas por José Pires, que trabalha normalmente com Marco Martins e colaborou no filme "São Jorge".

"Quando vimos essas gravações, fomos confrontados com essa enorme variedade cultural e étnica, e para nós foi uma surpresa", contou a atriz.

O projeto foi dividido em duas fases, uma primeira de cariz social, com ações de formação em dança, movimento, música e teatro, e uma segunda que foi a construção do espetáculo.

Durante esse período, houve uma seleção natural e dos entrevistados. No final ficaram 20, quando os encenadores tinham planeado de início ter apenas nove.

"Fomos adaptando a dramaturgia àquelas pessoas e ao grupo, que passou a ter uma identidade própria. Não nos fazia sentido romper com ele", conta Marco Martins.

Esse grupo tinha "criado uma dinâmica muito particular, uma mini comunidade, com nove nacionalidades diferentes, com tudo o que implica em termos culturais, mas que tinham encontrado um espaço de encontro, de comunicação, de entendimento, de partilha, que os unia de forma muito única, e não nos competia quebrar aquilo", acrescentou Beatriz Batarda.

Houve porém uma questão evidente, que era manter as línguas mãe, como língua de expressão dos intérpretes: em palco falam-se oito línguas e todas são traduzidas (até o português para outras línguas), explicou o encenador.

Mas esta era também a maior dificuldade, a criação de uma linguagem comum, já que, apesar de viverem na mesma cidade, são pessoas com identidades muito distintas.

Então, foi-se tornando claro que "a dificuldade da comunicação era também a chave do espetáculo", acrescentou Beatriz Batarda.

Assim, o espetáculo é todo traduzido simultaneamente, ao vivo, pelos intérpretes, que funcionam aos pares, e às vezes chegam a fazer a tradução a cinco vozes, e essa tradução vai sofrendo mutações ao longo do espetáculo, de uma mais fiel, para uma interpretação e, por fim, para uma apropriação da história do outro, como forma de chegar ao conhecimento do outro, especificaram.

Para Marco Martins, "no fundo, metaforicamente, o encontro de uma linguagem comum é o teatro, é o espetáculo, a linguagem comum de todos aqueles intérpretes".

"O material de trabalho são as histórias biográficas dessas pessoas, que contam episódios das suas vidas; uns mais trágicos, outros menos, mais ou menos divertidos, todos sobre a sua fragilidade, que vão sendo traduzidas, e uma das formas de tradução é a linguagem do corpo, a dança, que surge como uma linguagem unificadora", adiantou Beatriz Batarda.

Em palco, além dos intérpretes não profissionais, estão dois atores profissionais - Carolina Amaral e Miguel Borges - e um bailarino, Romeu Runa.

"Todo o mundo é um palco" estreia-se na sexta-feira e vai estar em cena até 10 de dezembro.

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