Trata-se da equipa de mediação de leitura da Biblioteca Municipal de Sines (BMS), no distrito de Setúbal, que, por estes dias, em que o calor aperta e convida a uma ida a banhos, 'refresca' o ambiente na praia com os contos musicados "Na Areia Molhada, uma História Contada".
Do interior da Bibliopraia, um pequeno prefabricado que vigia a entrada e saída das traineiras do porto de pesca, com atividades e livros para os banhistas durante os meses de verão, sai um som abafado de uma flauta.
"É o nosso espaço de verão" na tentativa de que este equipamento "seja uma biblioteca fora de portas" para "ir ao encontro de onde estão as pessoas", explica à agência Lusa a bibliotecária, Sulina Guerreiro, indicando que os contos musicados são um desses projetos, que já dura há 15 anos.
O encontro com as crianças está marcado para as 10h30, mas 10 minutos antes, Cristina Fernandes, a contadora de histórias, desafia o jovem Gustavo, que acompanha a equipa neste dia, a alertar os grupos para o início da sessão.
"Antigamente era eu que andava pela praia a chamar as pessoas, mas hoje a tarefa é do Gustavo", diz à Lusa e o jovem arranca areal fora à procura de público.
Minutos mais tarde, o espaço reservado para o conto, rodeado por uma cerca de madeira e uma rede para proteger do sol, começa a encher-se de crianças, de chapéus na cabeça e garrafas de água na mão.
A equipa de mediação de leitura é composta por três pessoas, mas, no verão, são apenas duash uma para contar a história e outra para "lhe dar música".
"Começámos por contar histórias em várias praias da zona. Levávamos uma tenda gigante, fazíamos a história e uma atividade, mais ligadas com a poluição e o mar. E isto manteve-se até há pouco tempo, até percebermos que onde resultava melhor era na praia de Sines, porque temos sempre público das escolas e famílias", recorda a contadora.
Ao lado, Ana Dias, munida com uma flauta, explica que esse é "o instrumento do dia", embora a escolha seja feita "mediante cada conto", esclarece, apontando para a mala de instrumentos, antiga 'casa' de um trompete onde agora coloca o xilofone amarelo, as maracas, os pauzinhos e os guizos.
Sentada, com o livro no seu colo, Cristina vai reconhecendo alguns dos mais pequenos que se sentam na areia, no centro do espaço, quando surge uma avó que reconhece o neto no meio do grupo e acaba por assistir à sessão. Ao redor da cerca, outros adultos juntam-se para escutar.
"Bom dia malta", diz, 'vestindo' a voz de contadora. O grupo devolve o cumprimento e, mesmo sem cortinas para subir o pano, o 'espetáculo' prossegue.
O conto tradicional deste dia é o clássico "Aprendiz de Feiticeiro" e a viagem dura pouco mais de cinco minutos, com a narradora, de voz firme e sorriso no rosto, aos comandos da ação e o som da flauta a soprar diferentes melodias, à medida que a aventura se revela.
Os olhares de miúdos e graúdos ficam presos às expressões da professora de 1.º ciclo de formação base e, agora, mediadora de leitura que, há pelo menos 10 anos, conduz estas sessões musicadas, sempre à espreita de uma reação do público.
A música "é o cenário" que lhe "dá o fio condutor para a imagética, é uma extensão da história", realça Cristina. O objetivo "é que a história chegue à imaginação ou ao coração de quem está a ouvir, seja adulto, seja criança".
"Como trabalhamos e construímos as histórias é sempre um desafio tremendo porque, como costumamos dizer, quando chegamos cá, sai mais ou menos parecido com aquilo que ensaiámos", admite Ana Dias.
Não há sessões iguais, e ao longo da última década, aprendeu, "no contacto com os miúdos", a observar "as reações" e a conhecer "as respirações" da narradora.
"No início não era assim tão simples, depois fomos ganhando esta ligação que é quase como se fossemos uma banda", ironiza.
Durante o ano, a equipa desdobra-se entre muitas atividades relacionadas com contos, tanto para crianças como para adultos, nomeadamente os mais idosos.
"Pão com marmelada? A história está acabada", gritam em uníssono a narradora e as crianças, sendo este é o mote para o fim de mais uma história com final feliz.
Despedem-se, sacudindo a areia das pernas, mas há um menino que se aproxima e perguntah "Como é que era a raposa?". Cristina descreve ao jovem uma criatura colorida, com uma grande cauda, e ele, depois de a escutar, prometeh "Vou desenhá-la".
Também a assistir ao conto musicado estão outros banhistas, refrescados depois de um banho de mar, que, no final, não resistem a elogiar a entrega da narradora.
"Leu com uma mágica formidável. Os gestos, a entoação, as maneiras e a expressão, muito boas. É uma ideia brilhante", partilha Maria Mendonça, de Portimão, no Algarve.
Este "é o nosso ordenado. A gente precisa do dinheiro para comer e para viver, mas este [a satisfação das pessoas] é o nosso pagamento", agradece a contadora que, após uma merecida pausa, regressa em setembro, com mais histórias na 'ponta da língua'.
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