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Figs in Wigs oferecem visão "muito palhaça" do clássico 'Mulherzinhas'

O coletivo britânico de mulheres Figs in Wigs estreia-se a 03 de fevereiro, em Portugal, com 'Little Wimmin', espetáculo "selvagem, hilariante, e uma forma muito palhaça de olhar para um texto tradicional", o clássico 'Mulherzinhas', de Louisa May Alcott.

Figs in Wigs oferecem visão "muito palhaça" do clássico 'Mulherzinhas'
Notícias ao Minuto

14:30 - 29/01/24 por Lusa

Cultura Espetáculo

A definição é de Sarah Moore, uma das cinco mulheres do coletivo que, nos dias 03 e 04 de fevereiro, apresentará, no Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, a sua adaptação de 'Little Women', o livro que estabeleceu novos parâmetros do 'romance para raparigas' no final do século XIX, e que atinge agora outra dimensão.

"É uma nova forma de olhar para um texto antigo", acrescentou Sarah Moore, em entrevista à agência Lusa, explicando tratar-se de uma adaptação feminista do clássico da autora norte-americana na qual "gozam e brincam com a forma tradicional de fazer uma peça".

Para começar, 'Little Women' dá lugar a 'Little Wimmin' - 'wimmin' era o termo usado pelas pioneiras do movimento feminista britânico para o plural de mulher ('women'), de modo a evitar o sufixo 'men' (homens).

Com quinze anos de existência e "sem formação tradicional de atores", o coletivo, que "não tem chefes, diretores, encenadores ou qualquer hierarquia", concebe e põe em cena "em conjunto" todos os espectáculos, "numa total e completa colaboração democrática", com o objetivo de "fazer sempre o melhor possível", disse Sarah Moore.

O que as Figs in Wigs trazem a Lisboa é um espectáculo que respeita o romance original mas que, através de uma linguagem "clownesca" de "sátira, roçando o absurdo", transformam num "ato político". Daí que, sublinhou a atriz, as alterações climáticas sejam um dos temas tratados em cena.

Nesta abordagem, por exemplo, é "muito vincada" a forma como a "sociedade dominante continua a ignorar as alterações climáticas", apesar do ritmo "acelerado com que continuam a avançar".

Por isso, o assunto é abordado em consonância, em sátira, como se fosse "uma piada", já que, "de uma forma geral", a grande maioria usa-o "não para resolver o problema, mas para obter audiências". Assim, sem apresentarem soluções, como explicou, as Figs in Wigs questionam "o que fazer [no presente e no futuro] enquanto grupo, enquanto coletivo".

Este trabalho baseia-se no uso do texto clássico e tradicional, pondo-o depois em palco de uma forma que, para alguns, pode até constituir "um pesadelo", pelas perguntas equacionadas e pelo modo como são colocadas e as abordadas, explicou Sarah Moore.

Preocupações com "a outra natureza do universo, a natureza infinita" ou "o futuro condenado da humanidade" estão presentes em "Little Wimmin', através desta nova encarnação das irmãs March, do romance de Louisa May Alcott. Não é a América da Guerra Civil dos anos de 1860 que se apresenta em palco, mas a conjugação dos astros na atualidade.

A nível cénico, 'Little Wimmin' é marcado por adereços surrealistas.

Os vestidos do coletivo, em diferentes tons de laranja/vermelho sensíveis às luzes de cena, que simbolizam pequenas mulheres já menstruadas, uma "grande" fonte de gelo em forma de pénis, "em representação da sociedade patriarcal", e uma pessoa disfarçada de árvore de Natal constam do visual surrealista da peça.

Afirmando que o coletivo está "muito entusiasmado" com a estreia em Portugal, Sarah Moore ressalvou ainda que, apesar de feministas, "não se limitam a análises por perspetivas de género, sexo, idade" ou quaisquer outros fatores.

Ao apropriarem-se da realidade, recorrem à sátira numa tentativa de transformar essa realidade naquilo "que gostariam que fosse e onde gostariam de viver".

Trocadilhos, piadas más, dança e referências a nomes da cultura pop marcam ainda "Little Wimmin", performance escrita, coreografada, composta e interpretada pelas Figs in Wigs à semelhança de todos os espectáculos que constroem.

O que "defendem" é "uma nova visão para o mundo em que possam e queiram viver, no qual as minorias se ergam e em que todos juntos possamos fazer uma revolução", afirmou Sarah Moore.

As Figs in Wigs são as cinco amigas Alice Roots, Sarah Moore, Suzanna Hurst, Ray Gammon e Rachel Porter.

"Esbatendo as fronteiras da arte ao vivo, da música, do teatro, da comédia e da dança, 'Little Wimmin' examina a forma como pensamos o passado, o que está errado com o presente e o que vamos fazer em relação ao futuro - se é que existe um", escrevem as Figs in Wigs (figos/figuras/figurantes em cabeleiras), na apresentação da peça, no seu 'site' na Internet.

E avisam: "Preparem-se para se rirem das tradições do teatro e gozarem com a obsessão das pessoas pelos 'clássicos', enquanto viramos o romance do avesso, antes de o desmantelarmos completamente e o transformarmos numa catástrofe cósmica irreconhecível que fala de alterações climáticas, astrologia e da natureza infinita do universo."

Na Sala Pincipal do Teatro do Bairro Alto (TBA), "Little Wimmin" terá duas récitas: no dia 03, às 19:30, e, no dia 04, às 17:30.

O espectáculo tem legendagem em português para pessoas surdas e, no dia 03, haverá um debate no âmbito do Clube do Espectador, moderado pela professora universitária Maria Sequeira Mendes.

"Little Wimmin" tem cenografia de Emma Bailey, figurino de Ray Gammon, figurinos adicionais de Emma Bailey e Saskia Martindale, iluminação de Gene Giron, design de som de Alice Turner e Suzanna Hurst, que também assina o vídeo.

Nas perucas e maquilhagens está Raquel Porter, nos retratos de família, Frances Gibson, no conjunto adicional, Fani Parali, e, na dramaturgia, Úrsula Martinez.

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