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Companhia Bandevelugo aborda violência, ditadura e atualidade em Ovar

A companhia Bandevelugo estreia a 1 de abril, em Ovar, uma produção que, cruzando teatro, exposição e instalação, percorre várias salas do Museu Escolar Oliveira Lopes numa reflexão sobre violências da ditadura do Estado Novo e da atualidade.

Companhia Bandevelugo aborda violência, ditadura e atualidade em Ovar
Notícias ao Minuto

10:16 - 27/03/23 por Lusa

Cultura Ovar

Fundado em 2021 por João Amorim e Daniela Amaral Cardoso, esse coletivo teatral com sede em Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, concebeu o espetáculo "United Colors of" em parceria com o realizador João Garcia Neto, a partir da pesquisa realizada em manuais escolares e outros materiais pedagógicos dos séculos XIX e XX, depositados no centro de documentação do museu de Válega.

A Bandevelugo convidou depois vários artistas a explorar esse material e, após duas residências sobre estes conteúdos em Ílhavo e Lisboa, em instalações do 23 Milhas e do Polo das Gaivotas, o resultado final é o que o ator e encenador João Amorim define como "uma exposição performativa arquitetada a partir da matriz pedagógica do Estado Novo".

"Pedimos a cada artista que explorasse um território temático diferente e o que aconteceu foi que esse material ganhou uma dimensão muito maior do que tínhamos esperado", diz João Amorim à agência Lusa.

Ao longo de 90 minutos, encenadores como Daniela Amaral Cardoso, Joana Magalhães e Ricardo Neves conduzem assim o público por diferentes salas do museu instalado no edifício de uma escola de 1910, colocando ao espectador questões que refletem, por um lado, o pensamento dos tempos da ditadura e, por outro, a postura mais neoliberal e capitalista da atualidade.

Uma das comparações que "United Colors of" proporciona, por exemplo, diz respeito a expressões do colonialismo, como a relativa ao passado colonial português e a atual desregulação do mercado, no que o cofundador da Bandevelugo defende que, "na verdade, o que está a acontecer agora é a mesma coisa que se viu há décadas, só que a verificar-se noutros locais e com uma linguagem modificada, que torna tudo mais aceitável".

Outra reflexão que a peça incentiva é sobre fascismo e liberdade, num esforço de localizar sistemas de violência mais ou menos dissimulados.

"Uma frase pilar deste trabalho é a de Thomas Mann, quando disse que, quando o fascismo chegasse à Europa, seria em nome da liberdade", explica João Amorim. "E o facto é que, a ver pelo nosso país e por outros, os atuais discursos de liberdade têm gerado novas formas de violência", argumenta.

Outro segmento do espetáculo joga com o conceito de 'ioprimida', já que, à semelhança dessa substância de contraste intravenoso utilizada na deteção de tumores cancerígenos, também a distância temporal face à ditadura permite agora "detetar nos manuais de leitura do Estado Novo uma matriz pedagógica maniqueísta que organiza o comportamento e pensamento nacional, costurando um modelo social aparentemente altruísta, mas que, na realidade, constituía um assalto brutal à liberdade individual".

Para João Amorim, a pesquisa da Bandevelougo deixou claro que "os manuais de leitura do Estado Novo eram um pelotão de fuzilamento que pretendia destruir precocemente qualquer lampejo de livre pensamento".

O espetáculo "United Colors Of" está em pré-exibição no Museu Escolar Oliveira Lopes, nos dias 30 e 31 de março, exclusivamente para grupos de estudantes. No sábado, dia 01, apresenta-se ao público em geral às 11:00 e às 16:00, com tradução simultânea em Língua Gestual Portuguesa.

A entrada é gratuita, mas obriga a reserva prévia pelo 'email' museuescolar@cm-ovar.pt.

Em seguida, a mesma produção estará em cena no Convento de São Francisco, em Coimbra, a 19 e 20 de abril.

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