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Dina Ferreira lança livro sobre "a mais bela profissão do mundo"

A fundadora da livraria Poetria, no Porto, Dina Ferreira vai apresentar, no domingo, o livro "A mais bela profissão do mundo", sobre os dias de uma livreira que vivia quase sempre em asfixia económica.

Dina Ferreira lança livro sobre "a mais bela profissão do mundo"
Notícias ao Minuto

10:39 - 07/09/22 por Lusa

Cultura Livros

Em entrevista à Lusa a propósito do lançamento do seu primeiro livro, que acontece às 17:00 na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto, Dina Ferreira, ou "Dina da Poetria", como também é conhecida, disse que nunca pensou escrever um livro e que foram amigos que a desafiaram a reunir os textos que foi publicando ao longo dos anos nas redes sociais.

"A mais bela profissão do mundo" só existe porque "existe a livraria Poetria", confessou a antiga livreira, hoje reformada, mas sempre com o hábito da escrita diária.

O livro, editado pela própria Poetria e com cerca de 200 páginas, aparece poucos anos depois de ter entregado o seu legado aos "dois guardiões", aos "dois anjos" -- Nuno e Francisco --, como gosta de os classificar, que tomaram conta da livraria Poetria, com o espírito de "curadores". Assim, o problema de "fechar a livraria" e "morrer na praia" desapareceu.

O nome do livro foi inspirado no filme "Você tem uma mensagem" (1998), com a atriz norte-americana Meg Ryan a interpretar uma personagem cuja profissão é livreira.

"Meg Ryan que é uma livreira e que passa um bocadinho pela mesma odisseia que eu passei. Lembro-me de ela falar nisso, de ser a mais bela profissão do mundo, e eu também acho. Um livreiro é quase como um jornalista. Tem de abarcar um conjunto de conhecimento, de competências, de sentimentos e de sensibilidades, e de áreas [...], para poder dialogar com os seus clientes que vêm buscar livros".

No livro, a autora descreve momentos como aquele que sentiu em 14 janeiro de 2017, quando se sentia afligida pela desarrumação na Poetria.

"Quando os dias são vazios de acontecimentos e vendas não me apetece fazer nada, só deixar correr o tempo. Nestas alturas acode-me ao pensamento uma pergunta absurda e até estúpida: Mas o que é que a Lello tem que a Poetria não tem, para venderem entre 750 e 1.000 livros por dia como disse na TV um dos seus responsáveis e na Poetria é esta miséria? (eu disse que era uma pergunta absurda e até estúpida, lembram-se?)", escreveu, na altura, a livreira.

Noutros momentos, Dina Ferreira destaca a alegria de vender um livro logo às 10:45.

"Minha gente, hoje segunda feira às 10:45 já vendi um livro: 'Frutos e apontamentos', do sublime Rainer Maria Rilke, a um jovem uma vez mais. Fantástico, pela venda e pelo destinatário do maravilhoso livro, enquanto ouvia a 'Matilde', do Jacques Brel", escreveu.

Na primeira parte do livro, a escritora discorre sobre o seu dia-a-dia como livreira, desde as tormentas para encontrar o livro que o cliente quer, pagar contas, falar com clientes e leitores. Ao mesmo tempo, Dina Ferreira aborda os títulos de livros de poesia e de teatro que eram vendidos.

"Eu ia registando de forma completamente real. Não há ficção nenhuma neste livro. São mesmo relatos colados à realidade. Nunca ponho o nome completo [...], relatava o encontro, a conversa, o livro. Uma coisa importante que há nessa primeira parte é a quantidade de títulos de livros e autores que estão ali. Até pode ser um guia para alguma pessoa".

Na conversa com a Lusa, Dina Ferreira sublinhou o dever de um livreiro: "Numa livraria como esta, o livreiro não pode tentar vender gato por lebre. Tem de ter ética e saber que se está a falar com a pessoa e a ver o perfil da pessoa".

Por vezes, as pessoas queriam começar a ler poesia, mas pelo que conhecia do cliente não lhe passaria pela cabeça recomendar um Herberto Hélder ou um autor mais "complexo" e "denso", "porque via que a pessoa ainda não estava preparada para isso". Havia, todavia, a necessidade de aconselhar para um "bom poeta" para começar "bem a ler poesia".

A antiga livreira da Poetria confessou que ter trabalhado naquela livraria foi um "período muito importante da sua vida".

"Valeu muito a pena, até pela quantidade de pessoas que angariei como amigos. Alguns mesmo amigos. Foi um período muito importante da minha vida e que me vai marcar para toda a vida".

Na segunda parte do livro, intitulada "Os dias de uma ex livreira à solta", Dina Ferreira apresenta outra vida: A vida depois de se reformar, que começou no dia 01 de janeiro de 2018.

"Comecei a ter mais tempo. Comecei a andar por aí, e comecei a ter algumas experiências, encontros, observações de certos factos na cidade. Tirava sempre uns apontamentozitos. Tinha sempre um bloco. Punha lá uns tópicos para não me esquecer e, depois, chegava a casa e escrevia um texto", disse.

Numa dessas deambulações subiu as escadas que davam acesso a um antigo cinema, integrado no então Central Shopping, no Campo 24 de Agosto, "muito perto do local onde a transexual Gisberta foi barbaramente assassinada por um grupo de jovens delinquentes", lê-se na obra.

O livro mostra também os passeios por ruas como a de Fernandes Tomás ou do Bonjardim, onde a autora aprecia "os gloriosos antros do bom bacalhau, enchidos e queijos".

Há também uma incursão pela Rua do Heroísmo, onde "ficava a PIDE" e por tantas outras ruas do Porto, em que Dina Ferreira tece reflexões históricas e descrições realistas.

A música fazia parte do dia a dia da livreira e não é raro ler referências aos artistas como Edith Piaf, Pink Floyd ou Jacques Brel.

"Porque a música tem muito a ver com a poesia. Acho que era Óscar Lopes que dizia que a poesia é uma espécie de música".

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