O fascínio por histórias que relatam situações-limite, em que, contra todas as probabilidades, a vida levou a melhor sobre a morte, é transversal ao ser humano, principalmente, quando este enfrenta uma pandemia em que o que mais quer abraçar é a esperança.

Não é por isso de estranhar que o jornalista freelancer e comentador do Canal 11, Luís Francisco, tenha aproveitado esta 'sede' de casos de sobrevivência para lançar o livro 'Vidas por Um Fio', onde recorda acontecimentos quase milagrosos sobre os quais, confessou em entrevista ao Notícias ao Minuto, sempre se interessou e colecionou durante "muitos" anos.

"Sempre tive um interesse muito particular por este tipo de histórias. Acho que é a minha forma de sustentar a ideia de que nós, na nossa moderna sociedade ocidental, andamos muito convencidos de que controlamos tudo e que o risco não é algo aceitável, com que tenhamos de viver. Esta sensação de segurança torna-nos arrogantes face ao planeta e irresponsáveis perante as gerações que nos seguirão. O que estas histórias nos mostram é que, em dados momentos, os homens e mulheres podem ficar à mercê de forças muito superiores às suas e, mesmo assim, encontram forças para dar a volta por cima. Foi esta resiliência, esta capacidade de adaptação, que nos transformou na espécie dominante no planeta, mas parece que agora parámos de evoluir e estamos a involuir", explicou.

Entre as páginas de 'Vidas por Um Fio, Histórias Milagrosas de Sobrevivência no Século XXI', vai encontrar histórias de sobreviventes a desastres naturais, acidentes dramáticos, ataques de animais e aventuras perigosas que podiam ter acabado mal. Há até quem tenha tido a sorte de ser abençoado por este tipo de 'milagres' mais do que uma vez.

Apesar de "desafiarem a imaginação de qualquer argumentista", tal como realçou Luís Francisco, todos os casos descritos são reais.

Da impressionante operação de salvamento dos miúdos presos na gruta da Tailândia à "odisseia de uma praticante de parapente que foi sugada por uma tempestade e envolvida numa bola de gelo", são 27 os relatos que mais parecem saídos de um filme de ficção científica.

Os casos reunidos no livro, lançado no dia 4 de maio e à venda nas livrarias habituais, aconteceram em pleno século XXI, mas Luís Francisco não coleciona só histórias recentes. Uma das mais marcantes para o autor de 'Vidas por Um Fio' aconteceu no dia 8 de maio de 1902, numa das ilhas das Caraíbas.

"Uma erupção do monte Pelée, na Martinica, arrasou por completo a cidade de Saint Pierre, matando mais de 30 mil pessoas. Na verdade, apenas se registou um sobrevivente dentro dos limites da cidade: Louis-Auguste Cyparis tinha-se envolvido numa rixa na noite anterior e foi encarcerado para passar a noite. As grossas paredes da cadeia salvaram-no do extermínio. Isto é verdadeiramente incrível! E, já que estou lançado, recordo outra história, esta mais do que digna de figurar no capítulo 'Todos se salvaram': a odisseia da expedição Antárctica comandada por Ernest Shackleton, entre 1914 e 1917. É muita coisa para contar em poucas linhas, mas quem ficar curioso pode investigar", aguçou a curiosidade.

De volta ao presente século e a histórias mais recentes, o escritor revelou ao Notícias ao Minuto que conhece pessoalmente um "verdadeiro sobrevivente, o alpinista João Garcia, que fintou a morte muitas vezes, mais notoriamente em 1999, no Evereste", mas que decidiu não incluir este caso no livro porque "já estava muito contado".

Para o 'Vidas por um Fio', o jornalista conversou com Mónica Ribeiro que, aos 13 anos, perdeu os pais no tsunami do Índico, conseguindo salvar-se, "ultrapassar o trauma e reconstruir a sua vida", uma história que retratou como sendo "profundamente inspiradora".

"A impressão que me fica de ambos é que são pessoas determinadas, que nunca baixaram os braços, que lutaram sempre, mesmo quando tudo parecia perdido. E que, depois, souberam dar a volta por cima, ultrapassar os traumas e desfrutar do facto de terem recebido uma segunda oportunidade. Mas são – e isso é que é notável – pessoas 'normais'. Foram heróis num determinado contexto, mas não são diferentes de qualquer um de nós", descreveu.

Apesar de gostar de "contar histórias" e do interesse por este tipo de "aventuras", Luís Francisco confessou ao Notícias ao Minuto que, para ele, "não há nada como contar uma história criada por nós". "Só escrevi um romance, 'A Vida Passou por Aqui', mas a ficção é mesmo onde me sinto mais realizado", admitiu.

'Vidas Por Um Fio, Histórias Milagrosas de Sobrevivência no Século XXI'© Luís Francisco  

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