Trata-se de uma "performance happening", intitulada 'E naquele dia saímos para uma cidade lavada e livre', com que o Teatro do Vestido assinala os 46 anos do 25 de Abril de 1974, numa iniciativa conjunta com o Teatro Viriato (Viseu), disse a diretora do Teatro do Vestido, Joana Craveiro, à agência Lusa.

O percurso começa às 8:00 de sábado, já muito depois da hora em que Salgueiro Maia saiu com os seus carros de combate rumo a Lisboa e de, às 5:40, ter tomado o Banco de Portugal e o Terreiro do Paço.

Munida de uma lancheira, um mapa e alguns objetos para que o trajeto se cumpra em segurança, Joana Craveiro percorrerá as ruas de Lisboa ao mesmo tempo que vai sendo filmada e projetada em tempo real nas plataformas digitais do Teatro do Vestido e do Teatro Viriato.

A horas certas, a anunciar, a atriz - que cumpre este percurso munida do documento do posto de comando da Pontinha em que foram registadas todas as comunicações efetuadas em 25 de Abril de 1974 - lerá um comunicado ao mesmo tempo que quatro atores da companhia que dirige responderão a telefonemas a partir de suas casas, durante os quais irão contar as histórias de "quem esteve lá, quem viu, quem sabia, e quem não sabia também e foi apanhado de surpresa", disse Joana Craveiro.

São as 'Crónicas das entrelinhas' para que o público possa telefonar e ouvir histórias daquele dia: "Esta a madrugada que eu esperava/O dia inicial inteiro e limpo/Onde emergimos da noite e do silêncio/E livres habitamos a substância do tempo", como o definiu Sophia de Mello Breyner Andresen no poema "25 de Abril".

Alexandra Freudhental, Daniel Moutinho, Estêvão Antunes e Tânia Guerreiro são os quatro atores que, entre as 13:00 e as 19:00, irão responder descrevendo com poesia o que se via.

No sábado, o Teatro do Vestido também lançará, sob a forma de 'podcast', a palestra "Português Entrecortado", uma fatia de "Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas", um espetáculo da companhia que dura tantas horas quantas as necessárias para atravessar 80 anos da história do país.

As 12 horas de performance a realizar por Joana Craveiro em Lisboa serão acompanhadas de música ao vivo que Francisco Madureira tocará a partir de casa, disse a diretora da companhia.

O Teatro do Vestido já tinha pensado lançar a palestra da rádio no 25 de Abril e efetuar um percurso por Lisboa, tendo sido depois convidada pelo Teatro Viriato para fazer algo mais curto, mas Joana Craveiro "acabou por lhes propor esta ideia maluca".

Apesar de o percurso passar por locais históricos ligados ao 25 de Abril, como o Largo do Carmo, ele não se fará apenas em lugares emblemáticos da Revolução dos Cravos.

"Obviamente que falamos das grandes figuras, mas não apenas delas", frisou, já que "são as notas de rodapé que fazem a história viva e que trazem a memória do que se passou".

Ainda por cima, a memória "não é consensual", como ficou demonstrado pela polémica gerada em torno da comemoração do 25 de Abril este ano na Assembleia da República.

"Muitas vezes nem se estavam a discutir questões inerentes à comemoração mas antes ao que cada um sente em relação àquela data", considerou.

Joana Craveiro está ciente de que o percurso de 12 horas que efetuará em Lisboa não será fácil devido aos condicionalismos impostos pela pandemia de covid-19.

"Não há cafés abertos, não há apoio algum, não será fácil. Mas será um desafio e é também no seio destas lutas e deste combate constante que se constrói a memória", concluiu.

A iniciativa será transmitida através das redes sociais Facebook, Instagram e Youtube do Teatro do Vestido e do Teatro Viriato.

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