Meteorologia

  • 24 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 13º MÁX 24º

José Mário Branco é respeitado do hip-hop ao metal, diz editora

José Mário Branco é "a figura mais consensual de sempre da música portuguesa", sendo respeitado por todo o meio, do hip-hop ao metal, afirmou hoje o fundador da editora Omnichord, Hugo Ferreira.

José Mário Branco é respeitado do hip-hop ao metal, diz editora
Notícias ao Minuto

19:37 - 19/11/19 por Lusa

Cultura Óbito

"Não sei se o José Mário Branco foi o músico mais revolucionário de sempre ou o melhor, mas é a figura mais consensual de sempre da música portuguesa. Do hip-hop ao metal, do jazz à música clássica, há um respeito pelo artista", disse à agência Lusa Hugo Ferreira.

Segundo o fundador da editora de Leiria Omnichord, José Mário Branco "faz uma observação, com proposta e resposta, ataque e elogio, de uma forma poética que mais nenhum outro compositor o conseguiu fazer".

"Quando se lê ou se ouve a música 'Do Que Um Homem É Capaz', já estava tudo lá - do que devíamos fazer quando confrontados com esta massagem de ego das redes sociais ou com as empresas que controlam o mundo", vincou.

Para além da "toada poética de observação social", Hugo Ferreira chama a atenção para a música de José Mário Branco, que apesar de parecer simples a quem a ouve, tem "arranjos tremendos".

"A 'God Only Knows' [dos Beach Boys] parece simples, mas na linha de baixo todas as notas que existem estão lá. O Zé Mário tinha essa mesma capacidade de usar a complexidade para fazer o mais simples e harmonioso, e esse dom mais ninguém teve em Portugal", salientou o responsável da editora Omnichord, que descobriu José Mário Branco já na faculdade, na Rádio Universidade de Coimbra (RUC).

Na altura, José Braga, conhecido melómano da cidade e radialista da RUC, disse-lhe que se tivesse de escolher um disco português seria "o primeiro do Zé Mário", "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades".

"A partir daí, foi uma obsessão completa. Quando entrei na direção da RUC, o nosso sonho era fazer um concerto com o Zé Mário Branco, ponto. Até podíamos e trouxemos gajos internacionais, mas o sonho seria o Zé Mário", referiu, contando que, na altura, o 'cantautor' estava num "hiato enormíssimo".

A oportunidade surgiu com o lançamento de "Resistir É Vencer", tendo conseguido trazer até Coimbra José Mário Branco, em fevereiro de 2003, para um concerto no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), a solo.

"Tínhamos a ideia de que a última vez que tinha tocado o 'FMI' tinha sido em Coimbra e todas as semanas passava ao lado de referências à música", contou Hugo Ferreira, recordando-se das referências aos "Marrazes", em Leiria, e a uma loja de azulejos perto de Condeixa, na canção presente no "Ser Solidário".

No dia do concerto, a partir da hora de almoço - altura em que José Mário Branco chegaria a Coimbra - na RUC passou em 'loop' o "FMI" até à hora do espetáculo.

"Sabíamos que ele nunca iria tocar o "FMI", mas, numa decisão à RUC, decidimos passar a música em 'loop'", disse, recordando-se de um concerto completamente esgotado, num palco com apenas dois microfones para a voz e guitarra e uma cadeira.

"No final da primeira música, houve uma ovação do tamanho do mundo. Foi um sonho cumprido", frisou.

Nascido no Porto, em maio de 1942, José Mário Branco, que morreu em Lisboa, é considerado um dos mais importantes autores e renovadores da música portuguesa, sobretudo no final dos anos 1960, quando estava exilado em França, e durante o período revolucionário.

O seu trabalho estende-se também ao cinema e ao teatro.

Compôs para peças como 'A Mãe', sobre Bertolt Brecht e Maximo Gorki (levada à cena na Comuna), que daria origem a um dos seus álbuns, e para filmes como "Até Amanhã, Mário", de Solveig Nordlund, e 'Três Menos Eu', de João Canijo, assim como para 'Agosto' e 'Ninguém Duas Vezes', de Jorge Silva Melo, que também interpretou.

Regressado a Portugal, após o 25 de Abril, foi fundador do Grupo de Ação Cultural (GAC). Politicamente próximo da antiga União Democrática Popular (UDP), José Mário Branco fez parte da companhia de teatro A Comuna, fundou o Teatro do Mundo e a União Portuguesa de Artistas de Variedades (UPAV).

Em 2018, completou meio século de carreira, tendo editado um duplo álbum com inéditos e raridades, gravados entre 1967 e 1999.

A edição sucede à reedição, no ano anterior, de sete álbuns de originais e um ao vivo, gravados de 1971 a 2004.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório