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Debate sobre restituição de arte "deve ser global e sério"

A curadora para o projeto de arte de África na ARCOlisboa, Paula Nascimento, considera que o debate sobre restituição de obras de arte aos países de origem "já vem tarde", e defende que "deve ser global e sério".

Debate sobre restituição de arte "deve ser global e sério"
Notícias ao Minuto

12:30 - 10/05/19 por Lusa

Cultura ARCOLisboa

A arquiteta foi uma das curadoras da participação de Angola na Bienal de Arte de Veneza 2013, com Stefano Pansera, quando o país venceu o Leão de Ouro para o pavilhão nacional, com o projeto 'Luanda, Cidade Enciclopédica'.

Em entrevista à agência Lusa, em Lisboa, comentou o debate - que tem estado na ordem do dia em vários países - sobre a descolonização dos museus e a restituição de obras de arte, uma matéria que tem suscitado polémica.

"É um debate que tem de ser aberto, e já vem tarde. Deve ser discutido de forma global e séria", defendeu a curadora independente, que tem a sua base em Angola, mas desenvolve projetos dentro e fora de África.

Apesar de o tema não ser novo nos meios museológicos, o debate internacional cresceu desde que o presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu avançar com restituições às ex-colónias francesas.

"Eu tenho acompanhado essa questão pelos media, e, obviamente, quando se fala em restituição, fala-se em colonialismo", um assunto "sensível" para muitos países, especialmente aqueles que no passado tiveram colónias ou com responsabilidade na escravatura, como foi o caso de Portugal.

Para melhor fundamentar a restituição de objetos ilegalmente retirados dos seus territórios de origem durante o período colonial, o chefe de Estado francês pediu a um grupo de especialistas para elaborarem um relatório que intensificou o debate no meio cultural, com vozes a favor e contra.

Esta iniciativa de Macron passou do debate à concretização em novembro do ano passado, quando foram restituídas 26 obras de arte reclamadas pela República do Benim, tomadas como saque pelo exército francês, em 1892.

Em Portugal, a questão foi também intensificada depois das declarações da ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, ao jornal Expresso, admitindo mesmo ter a intenção de dar início a "consultas multilaterais" para "regularizar a questão da propriedade e da posse", da "exploração dos bens culturais angolanos no estrangeiro".

A curadora desconhece o ponto da situação deste processo a nível oficial, em Angola, mas deu a sua opinião: "Este tema deve ser falado em todas as frentes".

"É preciso falar seriamente sobre os efeitos da colonização, da descolonização, e também, por exemplo, definir exatamente o que é uma obra de arte roubada, para não suscitar dúvidas", acrescentou.

"Existem os fatores intangíveis e de memória, que devem ser analisados e debatidos, e há as questões técnicas que também devem ser definidas e discutidas", defendeu Paula Nascimento.

O assunto foi debatido recentemente, em março, em Lisboa, num encontro promovido pela associação Acesso Cultura, que convidou museólogos, investigadores e ativistas, que defenderam a necessidade de rever discursos museográficos e constituir coleções que falem no tema da escravatura.

Na altura, o diretor do Museu Nacional de Etnologia, Paulo Costa, disse à Lusa que até àquela data não tinha recebido qualquer pedido de restituição de peças dos 80 países que ali estão representados.

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