Inglaterra pode custar milhares de euros ou vidas em Calais
Três mil euros é o mínimo para o sonho de chegar a Inglaterra, que é partilhado por aqueles que estão no acampamento de Calais, França. Mas a fatura pode chegar aos 14 mil euros ou à própria morte.
© Reuters
Mundo Migrações
Avisando que o calçado ideal para aquele terreno são botas de borracha, como as dela, Claudine faz a visita guiada à denominada 'jungle' (selva) com várias interrupções, para responder às chamadas de 'mummy' (mãezinha) e aos inúmeros abraços e cumprimentos dos migrantes.
Sabe que "hoje, agora", estão por ali entre 4.500 a 6.000 mil pessoas, a grande maioria dos quais homens, mas nos dias seguintes tudo pode mudar. "Chegam e vão-se embora pessoas", nota a membro da organização não-governamental Salam, que sabe de cor os percursos entre tendas, pequenas cabanas de madeira, lojas, cafés ou para a igreja cristã.
Com a chuva, os caminhos tornaram-se enlameados, mas não fazem desacelerar o passo de Claudine, que vai explicando que antes de serem levantadas gigantescas cercas entre o campo de migrantes e as saídas para o Reino Unido, estes costumavam ficar entre dois dias a três meses. E "eram menos euros" para cumprir o sonho de emigrar.
Agora o período médio é entre "dois/três meses e dois/três anos" além do preço a pagar "aos passadores" ter disparado. "Sozinho é muito difícil", como prova a operação policial a que se assiste numa das saídas do acampamento, ao mesmo tempo que corria a informação de que alguém tentou passar a cerca.
Ameaças feitas por terroristas para pagar um imposto para as crianças frequentarem as escolas na Síria, relatos de perseguições e de fugas devido à guerra são relatos comuns dos refugiados, entre a lama, montes de lixo e tendas de campismo.
E sempre o sonho de chegar a Inglaterra, como diz Claudine, relatando que quando foi exibido, no cinema da 'selva', um dos filmes do agente 007 houve aplausos a cada aparição da bandeira de 'Sua Majestade'.
Numa visita ao local, de eurodeputados de partidos de esquerda e de jornalistas, representantes locais políticos não perdem a oportunidade de afirmar o objetivo de Calais ser como a Turquia: receber financiamento para dar boas condições aos migrantes.
Mas os mesmos políticos justificam a falta de vontade em o fazer para que as pessoas deixem de chegar aquela cidade do norte de França para tentarem ir para o Reino Unido.
No esquecimento não caem também migrantes que têm morrido na zona, como em outubro passado, com 14 pessoas a falecerem num camião frigorífico.
Sem dizer o nome e a fugir das câmaras de filmar, um jovem apresenta-se como curdo do Iraque, de 17 anos, e afirma a sua meta, igual a de tantos outros: "Inglaterra".
"Estou aqui há três meses e a minha mãe e os meus três irmãos já lá estão. Eu vou esperar e vou", garante o jovem, que conta ter passado com a irmã, de 14 anos, "dois dias e três noites" num barco, com outras 68 pessoas.
"Não nos querem aqui, não são locais nem para animais, quanto mais para pessoas", diz o jovem, que lembra o assassínio do pai, por terroristas, enquanto afirma que no seu futuro quer "educação e uma melhor vida em Inglaterra".
Ao seu lado, um professor de inglês, também curdo iraquiano, deixa um recado à União Europeia: "deviam ter vergonha".
Mais à frente, dois eritreus voltam a repetir a palavra "Inglaterra", país do qual já falam a língua e onde acham que a vida será melhor.
Certa é a chegada em breve do Natal, e Claudine explica a um jovem voluntário como quer que a tenda, que além de cinema também serve de palco de teatro e de aulas de yoga, receba a festa que se aproxima.
"Preparar tudo para crianças e adultos", pede.
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