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ONGs acusam Governo de querer investimento à custa dos cidadãos

O coordenador da plataforma Anti Tratado Transatlântico acusa o Governo português de estar mais interessado no investimento do que nas pessoas ao querer empurrar Portugal para um acordo que permite às empresas processar países num tribunal arbitral.

ONGs acusam Governo de querer investimento à custa dos cidadãos
Notícias ao Minuto

10:09 - 01/11/14 por Lusa

Economia Críticas

José Oliveira abordou o assunto em entrevista à Lusa, numa altura em que a polémica voltou a centrar-se neste tipo de mecanismos de resolução de litígios entre estados e investidores - de que Portugal não é o subscritor.

O acordo de comércio e investimento que está a ser negociado entre Estados Unidos e União Europeia (conhecido pela sigla inglesa, TTIP) pode vir a incluir uma cláusula deste género, mas o novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker opõe-se à resolução de disputas num tribunal arbitral, fora das jurisdições nacionais.

O Governo português defende o contrário, justificando que Portugal deve ter um acordo de proteção com investidores para atrair o investimento.

"Eu estive presente em várias conferências de imprensa do secretário de estado Bruno Maçães e foi evidente a preocupação desse governante em acentuar que é preciso defender os interesses dos investidores. [Sobre] os interesses dos cidadãos, nem uma palavra, os interesses do ambiente, nem uma palavra, os interesses da soberania nem uma palavra, mas os interesses dos investidores é preciso defender. E esse é, evidentemente, o mecanismo ideal para isso", contestou o ativista da Plataforma Não ao TTIP.

"É preciso perceber o que está na base dos litígios. As medidas tomadas pelos governos, nomeadamente em defesa dos cidadãos, do ambiente ou do direito à água potável, à luz desta jurisprudência são consideradas expropriações dos lucros. Por isso, com base nesta ideia, tudo o que sejam políticas de defesa dos cidadãos são consideradas ataques aos lucros e como tal alvo de ações judiciais", explicou.

José Oliveira acredita que as limitações que Bruno Maçães afirma que vão ser incluídas, sejam elas geográficas ou salvaguardas ambientais, pouco podem contra a "criatividade das empresas".

"Os árbitros estão lá para defender as corporações. Tudo o que sejam direitos humanos ou proteção do ambiente é considerado irrelevante relativamente às disputas em causa e os estados sofrem multas avultadíssimas que podem ser de milhões", alega.

O mecanismo conhecido como ISDS ('investor-state settllement dispute') que permite às corporações processarem os estados sempre que vêem os seus lucros - presentes ou futuros -- ameaçados "tem dado resultados terríveis a nível da economia dos estados e dos cidadãos", sublinha o coordenador da Plataforma, criticando a criação de "um novo tipo de poder", que está "para além das instituições normais dos estados" e dos tribunais nacionais.

"É curioso", notou, que nestes "tribunais especiais" não existem juízes, "apenas advogados pagos a cinco mil dólares à hora que tem todo o interesse em que as disputas de arrastem".

"Há cerca de 3.200 litigâncias destas no mundo e cerca 70% das decisões foram favoráveis às grandes corporações", acrescentou.

A forte contestação das Organizações Não Governamentais Europeias ao ISDS, agora apoiadas por Juncker, dá esperança a José Oliveira.

"O presidente Juncker tem-se pronunciado contra o ISDS por entender que os sistemas de justiça europeus não devem estar sujeitos a tribunais secretos - palavras dele. E o seu vice-presidente Franz Timmerman é também da mesma opinião (...). Isto mostra que existe uma consciência nos meios de Bruxelas que a questão é muito grave, muito complicada", observou o mesmo responsável.

Mas a Europa está dividida. Catorze países, "curiosamente os mais pequenos", entre os quais Portugal, endereçaram uma carta sobre o assunto à indigitada comissária europeia do Comércio Cecilia Malmström, lembrando que o mecanismo ISDS faz parte integrante do mandato da Comissão Europeia para as negociações do tratado.

"O presidente Juncker já respondeu e diz que o mandato sobre as negociações que fala do ISDS menciona, mas não obriga. Acho que é uma posição muito importante", comentou José Oliveira.

A Plataforma que coordena insere-se numa rede europeia de organizações congéneres que contesta o TTIP, que prevê a abolição de barreiras aduaneiras e regulatórias, alertando para as consequências negativas do acordo de comércio em termos da segurança alimentar, saúde e ambiente.

O movimento junta cerca de 300 organizações europeias, incluindo uma dezena na plataforma portuguesa.

José Oliveira é um dos que desconfia das virtudes do TTIP e lembra que o acordo é secreto.

"As negociações são secretas, o próprio tratado é secreto e mesmo depois de aprovado há um período de cinco anos que tem de se manter secreto, o que pode levantar as maiores suspeitas. Se os benefícios são tão grandes, então havia todo o interesse que em que se divulgue os pontos já acordados", considerou.

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