Motivado pela revelação da próxima consola da Nintendo, a Switch, o Tech ao Minuto conversou com o Relações Públicas da Nintendo, Jorge Vieira, e procurou apurar mais novidades sobre a nova consola. A estratégia de promoção da Nintendo voltou a ser foco nesta segunda parte da entrevista mas não foi tema único.
A aposta no mercado online, uma vertente por tradição onde a Nintendo não tem tido a presença mais forte, e até a influência de Pokémon Go nos jogos que estão para chegar à portátil 3DS também foram temas abordados.
Caso queira ler a primeira parte da entrevista pode fazê-lo aqui.
Não seria proveitoso disponibilizar online todo o catálogo de jogos da Nintendo lançados em consolas anteriores para quem estiver interessado em jogar?
Como um serviço de subscrição não é? Um serviço que pudesses assinar e ter acesso a todos os jogos da Nintendo? Eventualmente, mas o modelo a negócio a seguir e a implementação técnica… às vezes as pessoas acham que é fácil e que os jogos de consolas antigas correm numa consola nova. Não é bem assim, os jogos têm de ser adaptados, há um trabalho técnico por trás disso. Os elevados padrões de qualidade que a Nintendo impõe a si própria exige que haja um trabalho metódico para levar os jogos para cada consola. Isso é uma ideia que vejo a correr a Internet há muito tempo.
Há muita gente que pensa que a Nintendo Account poderia ser uma plataforma para lançar um serviço desse género. A Nintendo tem uma forma muito peculiar de trabalhar e de se organizar e não sei se a Nintendo Japão está preparada para dar esse passo. O mercado japonês acaba por ser muito diferente do mercado norte-americano e europeus e por norma quando Nintendo avança para algo tem que ser algo que seja facilmente universal. Há clássicos por exemplo que nunca chegaram ao ocidente, nunca foram traduzidos.
Na teoria, faz sentido, tanta gente estaria disposta a pagar uma subscrição para jogar aos clássicos mas até que ponto é que tecnicamente e que a nível de política da empresa se pode vir a traduzir num futuro ou não, não se sabe.
A Nintendo no espaço online parece ter andado sempre ‘a correr atrás do prejuízo’. Não parece ter a expressão que as outras têm. A Switch pode representar uma mudança?
A Nintendo pode não fazer tão ar disso. Mas no vídeo não viste o online promovido como uma das principais funcionalidades da consola, mas sim multijogador local. Esse sim é claramente um dos valores chave da Nintendo, promover a diversão local. Muita gente estava a dar o salto para o online e a Nintendo sempre se focou muito em teres os teus amigos ao teu lado para jogar.
Vês o vídeo da Switch e vês as pessoas a tirarem os Joy-Cons [comandos] para jogar. A questão do online é importante e nos últimos anos a Nintendo investiu fortemente para criar um serviço que seja pelo menos tão bom como os rivais, tentando inovar não só criando o serviço mas também para tentar oferecer um pouco mais aos consumidores. Em termos de experiência de jogo, a Nintendo estará para sempre focada numa experiência de jogo local.
A Switch Dock só se vai poder ligar à televisão ou recarregar o comando. Isto significa que será possível jogar um jogo online em qualquer lado?
Dependendo das especificações da consola. Se a consola suportar Wi-Fi, poderás jogar em qualquer espaço público desde que tenhas esse acesso. Vamos ver! Muita informação para especular.
Os cartuchos parecem estar confirmados…
Nem lhes chamamos cartuchos, chamamos Game Cards (cartões de jogo). Queremos evitar a confusão entre a 3DS e a Switch porque os jogos não são compatíveis. A nível de compatibilidade tanto os discos da Wii U como os cartuchos da 3DS.
A opção pelos Game Cards indicia o conceito da consola, as consolas domésticas utilizam discos e aí acabas sempre de ter de instalar os jogos do disco rígido da consola porque o acesso depois é muito mais lento.
Com os cartuchos acabas por ter o melhor de dois mundos. Acabas por ter o acesso rapidíssimo aos conteúdos do cartão e até a própria portabilidade. Evita-te a necessidade de teres um disco rígido na consola.
Será que lançar jogos em Game Cards e ter cartuchos na 3DS pode ser confuso para os consumidores?
Esperemos que não. Claramente, se tens jogos da 3DS, não vais poder utilizá-los na Switch, que acaba por ser um corte com o passado recente. Se tens uma Wii U ou uma 3DS muito bem, mas a Switch é uma consola nova.
Sendo a Switch uma consola voltada tanto para casa como para a rua, a Nintendo não corre o risco de ‘comer’ o mercado da 3DS?
Nas transições de consolas acabas sempre por comer vendas de outras consolas mas a perspetiva é tentar alargar o mercado. Não é aquela coisa de um menos um, porque se fosse neste momento tinhas o mesmo número de jogadores que tinhas há 20 ou 30 anos atrás e não foi isso que aconteceu, foi sempre alargando e alarando. A Nintendo por exemplo teve um grande papel em alargar o mercado.
Aqui nem é tanto a questão de canibalizar. Tens os jogos ‘Pokémon’ quase a sair, este ano tivemos o ‘Yokai Watch’ que vai ter direito a série de televisão no final do ano, temos uma série jogos RPG a sair, no início do próximo ano temos ‘Dragon Quest VIII’, o novo jogo de ‘Pikmin’,… continua a haver uma série de lançamentos que mantêm muito viva a ‘chama’ da consola. Se me falares na Wii U, temos o ‘The Legend of Zelda’ por isso aí a nível de produção de jogos da Nintendo está claramente a haver um ‘transfer’ para a Switch, agora esta saber que jogos é que vão ser anunciados.
Mesmo a nível de vendas, este ano quando saiu Pokémon Go para os smartphones duvidaram que alguém quisesse jogar Pokémon na 3DS. Imagina que não tinhas nenhuma consola da Nintendo e és um fã que experimentou Pokémon Go e ficou curioso. Lembras-te de jogar no GameBoy e estás curioso por voltar a jogar um Pokémon mais a sério. Se estiveres mesmo interessado, não é o anúncio da Switch que te vai impedir de comprar agora uma 3DS. Tens um catálogo de jogos tão grande e um público diferente que acho que a questão não se coloca.
