O antigo vice-primeiro-ministro britânico e ex-executivo da Meta Nick Clegg deu este fim de semana uma entrevista ao The Guardian onde teceu várias considerações sobre a cultura dominante em Silicon Valley, ainda que deixando claro que não colocaria o co-fundador do Facebook Mark Zuckerberg nesta “elite narcisista da tecnologia”.
A entrevista surge no seguimento da publicação do seu livro ‘How to Save the Internet’, onde Nick Clegg relata a sua experiência na política, no governo britânico e na Meta, levantando o véu sobre o que se passa no ‘hub tecnológico’, apontando a sua insularidade como um dos maiores defeitos.
“Em Silicon Valley, longe de pensarem nos sortudos que são, acham que têm vida difícil, que são vítimas. Não consegui, e ainda não consigo, compreender esta mistura profundamente repelente de machismo com auto-comiseração”, indicou o ex-responsável pelo departamento de comunicação e relações internacionais da Meta.
O ex-político refere que é “uma questão cultural” e que é transversal entre os ‘tech bros’, “desde a motosserra de Elon Musk até a qualquer podcast de Silicon Valley”. “Se estás habituado ao privilégio, a igualdade parece opressão”.
O antigo líder do partido liberal democrático descreve Silicon Valley, o principal centro mundial de inovação tecnológica, como uma “mentalidade de rebanho”, pejada de homogeneidade, ou seja, “toda a gente se veste de igual, guia os mesmos carros, ouve os mesmos podcasts e segue as mesmas tendências”.
Mark Zuckerberg, um exemplo cristalino do ‘el dorado’ tecnológico, é deixado de fora destas críticas. Clegg descreve-o como empático e intelectualmente curioso, bastante distante da “elite narcisista da tecnologia”.
Tecnológicas e desinformação
Estas declarações surgem numa altura em que os grandes magnatas da tecnologia, como Zuckerberg, Jeff Bezos ou Tim Cook, mostram simpatia para com Donald Trump. Elon Musk chegou mesmo a fazer parte da administração norte-americana, antes de ter saído, aparentemente, em conflito com Trump.
Clegg está agora sem nenhuma função oficial conhecida, tendo anunciado a sua saída da Meta em janeiro. “Com o início de um novo ano, cheguei à conclusão de que este é o momento certo para deixar a minha função de presidente de Assuntos Globais da Meta”, afirmou, na altura.
Em dezembro de 2024, recorde-se, o então diretor para os assuntos internacionais afirmava que a desinformação não tinha vingado na rede social a reboque da Inteligência Artificial. Segundo dizia na altura, os sistemas de defesa contra campanhas de desinformação na plataforma da empresa resistiram e a maior parte das operações de desinformação que emergiram nos últimos anos foram realizadas por pessoas e entidades oriundas da Rússia, do Irão e da China.
Este domingo, o chefe do departamento de tecnologia e jornalismo dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Vincent Berthier, alertou que a desinformação "é uma questão global e um dos principais riscos de curto prazo para as sociedades", numa altura em que a Inteligência Artificial (IA) generativa "está gradualmente a encontrar o seu lugar entre as ferramentas de desinformação".
"Nenhum dos atores mencionados [Facebook, X, YouTube e TikTok] criou sistemas para destacar ou promover conteúdo jornalístico confiável diretamente nos 'rankings' algorítmicos", afirmou Berthier.
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